Gojo Satoru andava em passos fervorosos, rumo a lugar nenhum. A única coisa que ele queria era se afastar de sua casa, local onde ele não suportava viver, devido ao comportamento agressivo de seu pai. O homem era arrogante, quando consumia álcool se tornava infinitamente pior e ofendia Satoru de inúmeras formas, citando especialmente a falecida esposa. Ele dizia que Satoru era tão odiável quanto ela.
Por isso, o albino estava agora caminhando na praia, ele vivia em uma cidade afastada, com poucos moradores e o mar não era um local muito frequentado. A população dizia que essa cidade abrigava criaturas místicas, mas Satoru nunca acreditou nessas histórias fantasiosas.
Quando ele olhava para o céu, tudo o que enxergava era a escuridão da noite e as pequenas estrelas que cintilavam. O único som era o do mar e não havia uma única alma por perto.
Satoru se sentia melhor assim, afinal, ele estava sempre sozinho. O rapaz nunca teve grandes amizades, além de Shoko, a médica que o atendeu tantas vezes em seu consultório que acabou se tornando uma colega. Mas era apenas isso, ninguém nunca conseguiu compreendê-lo e se aproximar o suficiente.
Enquanto caminhava na areia, Satoru sentia o coração pesar no peito e havia um nó em sua garganta, ele queria chorar tudo o que sentia, mas as lágrimas simplesmente não caíam. Com o rosto abaixado, o rapaz continuou andando no escuro, sua presença sendo iluminada apenas pela lua cheia no céu.
Foi quando, no momento em que ergueu os olhos azuis, identificou algo abandonado na areia. Ao se aproximar um pouco mais, pensou que havia enlouquecido, pois diante dele estava um ser com uma cauda de sereia. Satoru se apressou para correr até aquela pessoa, seus pés parando alguns passos longe da criatura.
A cauda ainda estava em contato com a água, porém, era nítido os ferimentos nas escamas, que eram em um tom de roxo escuro e brilhavam um reflexo púrpura. Ali havia alguns machucados sangrentos, o peito estava nu e encostado na areia e, com a ajuda dos braços, a criatura ergueu o rosto, movendo o longo cabelo preto que caía em suas costas, tão belo que deixou Satoru hipnotizado por um momento.
No instante em que seus olhares se encontraram, aquele ser acabou se assustando e tentou se afastar, mas grunhiu de dor ao mover a cauda. Quando o pai de Satoru dizia que já havia visto sereias, o filho nunca acreditou em suas narrações fantasiosas, mas agora ele estava diante de algo assim.
— Não se aproxime de mim — ele disse, rangendo os dentes.
Porém, Satoru o ignorou, encurtando a distância ao ficar ao lado e se abaixar, contemplando de perto a cauda que tentou se erguer, mas não houve sucesso. Essa criatura era Geto Suguru, ele vivia no mar e longe o suficiente dos humanos, mas um incidente acabou ocorrendo e agora ele estava diante de um humano que poderia machucá-lo se quisesse.
— Não se preocupe, eu não vou faz mal a você — afirmou com seriedade.
Assim, ele apanhou Suguru pelos braços e o arrastou para fora da água. Dessa forma, o rapaz se surpreendeu mais uma vez ao perceber que a cauda se desfez, desaparecendo como magia. No lugar dela, surgiram pernas humanas.
— Você é humano? O que você é?
Suguru exibiu mais uma expressão de dor, pois a cauda havia desparecido, mas as suas pernas ainda carregavam aquelas feridas na pele. Sangue escorreu até os seus pés descalços, todo o seu corpo estava nu, exposto ao vento da noite.
— Eu não sou humano, apenas consigo me parecer temporariamente com um — o moreno explicou.
Em seguida, Suguru tentou se reerguer e só então Satoru percebeu que havia um machucado também em sua cabeça, o qual sangrou no lado esquerdo e escorreu na orelha.
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Reflexo púrpura
RomansSatoru era um rapaz solitário que vivia na companhia de seu pai, um homem agressivo que causava muitos problemas a ele, porém, um dia Satoru conhece Suguru, um jovem tritão que acabou sendo ferido por marinheiros. Satoru então decide ajudar essa cri...