Ser um cobra não significa ser traiçoeira.
Ao longo de milhares de anos, os shifters de serpentes vem mantendo as suas linhagens puras porque não conseguem cruzar com outras espécies.
Ter esperança para que companheiros predestinados pudessem ficar...
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Jorge ↑ (foi o melhor que consegui gerar)
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Julie
O mundo Shifters era algo muito mais misterioso do que eu jamais poderia imaginar. Me transformar numa serpente de dois quilos e entender, receber, uma enxurrada de memórias estava sendo mais difícil do que digerir aquele rato.
Kamil me pegou aos prantos no banheiro, ele muito gentilmente tratou de me ajudar com a minha roupa e me carregou nos braços como adorava fazer para retornarmos a cama. Seu cheiro me deu paz, trouxe o conforto que eu estava precisando e o abracei de modo que nossos copos mal tinham forças para segurar o aperto.
Meu outro companheiro estava descansando na maca na UTI, o mais velho não quis acordá-lo do seu sono profundo e só nós dois retornamos ao quarto.
Tivemos uma conversa sincera e revelei coisas que vi, que meu espírito sofreu na sua vida passada. A minha jibóia me contou que ficou tão magoada e ressentida que nem mesmo passar pela mão da Deusa novamente foi capaz de arrancar todas as suas memórias.
Cachorros tinham uma memória afetiva impressionante, para não dizer absurda.
A antiga Julie era uma labradora de rua, uma criança que passou anos sendo bichinho de estimação de outras pessoas e foi abandonada quando seus donos morreram. Viver nos becos a mercê do abandono, naquela época, foi um completo desafio. Ela teve que morar em ferros-velhos, becos de restaurante, pontes, praias, até acabar no meio rural, numa cidade pequena e conseguir com o seu faro poderoso encontrar seu destinado que vivia escondido entre os humanos e isolado numa fazenda.
Foi amor à primeira vista, o rapaz alto que usava um chapéu comprido na cabeça tomou um susto quando foi pego por trás num pulo da labradora, ele se assustou, recuou, se trancou dentro da própria casa e passou a evitar sair enquanto sua companheira estava por lá.
Ficar arranhando a porta, esperar no portão, latir para chamar atenção e até mesmo correr atrás e o seguir para todos os lados não fez o rapaz ceder. Meu espírito passou tanto tempo na sua forma de cachorro que quando se transformou, não soube sumir com o rabo e as orelhas e isso irritou ainda mais o companheiro que parecia determinado a rejeitá-la.
