Kamil
— Shark? — Ele tossiu e disse o nome do amigo, me deixando completamente paralisado e triste por não ser o primeiro que chamou. Mas dada a situação, não fui reclamar. Com um segundo pigarrou disse: — Onde eu tô? Ouvi sua voz, não tô conseguindo enxergar ainda.
Que voz grave e suave, ao que parecia a sua traquéia não havia sido prejudicada. Graças, obrigada Deusa!
— Você tá na vila, num laboratório, recebeu tratamento de emergência. O que aconteceu? Por que foi envenenado? — O tubarão perguntou.
— Acho que engoli um pouco do que tinha na boca, veneno. — Tossiu forte e colocou a mão sobre o peito. — É veneno porque se toma, toxina é injetável. Só pra saber. Onde você tá? Se aproxima, por favor, não vou te morder. — Fez uma pausa e quando eu ia abrir a boca para falar algo ele continuou: — E mordo, não pico, minhas pressa são fixas, preciso morder para injetar toxina. Desculpa tá falando tanto, eu sonhei que entrava num duelo com uma surucucu-pico-de-jaca, ainda tô com pavor do sonho, aqueles dentões me deram medo.
— Para quem quase perdeu até os dentes você tá bem tagarela. Como foi que se envenenou? — Shark não se aproximou dele, apenas perguntou.
— Minha boca tá bem, só como se eu tivesse queimado com sopa. Soltei uma naja e umas mambas no caminho, como meu veneno é pouquinho eu misturei com o das outras serpentes e… Acho que deu certo, né!? Onde está o Kamil? Ele está bem?
Ele não estava sentindo a minha presença?
— Mas sou eu te segurando. — Fiz bico. — Por que não está me sentindo?
— Hã? — Ele ergueu a mão e tocou meu rosto, explorando meus traços e tocando meus lábios inchados por causa do recente choro que tive. — Oi!? Você tá bem? Tô com os sentidos bagunçados ainda. Prazer em te conhecer.
— Prazer...
— O aconteceu? Deu certo? Nossa! Eu achei que ia morrer! — Ele tossiu de novo e piscou com força, ainda sem enxergar.
— Onde está o seu espírito? Por que ele não aceita o meu chamado? — Perguntei em preocupação, achando que fosse um efeito colateral dos venenos misturados.
— Tô meio grogue, me desculpa. — Miki se sentou de repente e continuou tocando o meu rosto em completo silêncio e depois pediu desculpas.
— Hakuna matata, mpenzi wangu. — Eu me coloquei entre as suas pernas e beijei a sua testa, o que fez o garoto se afastar para trás num susto repentino. — O que foi?
Ele se afastou como se eu fosse um estranho nojento.
— Não esperava ser beijado na testa. — Disse baixo. Olhei para sua marca tribal, sabendo que deveria ter um significado importante, senão não estaria ali. — Isso só se fazer entre companheiros do meu povo. — Miki soltou um riso fofo e voltou a tatear o meu corpo. — Eu sei o que é “Hakuna matata”. Vi no rei leão. Mas o que foi que disse depois?
Eu girei os olhos para o lado e esperei os três curiosos ali pararem de nos encarar. Um som de pigarro em couro soou no ambiente, o tubarão e as duas cobrinhas foram cuidar das próprias vidas, focando principalmente nos mangustos mortos.
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Toxine Love
FanficSer um cobra não significa ser traiçoeira. Ao longo de milhares de anos, os shifters de serpentes vem mantendo as suas linhagens puras porque não conseguem cruzar com outras espécies. Ter esperança para que companheiros predestinados pudessem ficar...