Eu não lembro desde quando existe as muralhas, mas sei que desde que me lembro parece uma eternidade. Nosso alcance se tornou limitado e nossos passos contados, afinal quem sair para fora pode não voltar. Pouco sabemos sobre os titãs, mas o que sabemos é que somos pequenos lanches esperando a vez. Afinal bastava eles esticarem suas mãos gigantescas para pegar tudo ao seu alcance. Cresci, e aprendi o máximo sobre defesa pessoal, pois a nossa realidade não permite que eu seja um peso para as pessoas daqui. De certa forma, foi útil para lidar com os bêbados do bar da minha família.
Acontece que eles exageram e acreditam que todos têm que aguentar seu comportamento e suas gracinhas.
Nossa situação não é de miséria, mas não posso nem pensar em falar que temos algo decente. Nossos vizinhos e boa parte dos moradores vivem em situações piores da nossa. A sorte ou talvez o azar nosso é o bar, mantém uma renda, mesmo que baixa.
Apesar do medo de qualquer momento sermos invadidos, não posso realmente reclamar. Pois, tenho as minhas inconvenientes fugas. Todas as terças, de tarde vou até o penhasco, perto da praia onde consigo ouvir as ondas e ainda estar acessível caso precise voltar por alguma questão.
Nunca me aconteceu, mas sempre se tem uma primeira vez para tudo. Como ter o namorado comido em um dia ensolarado de uma quinta-feira, em plena manhã. É algo ainda que me faz ter pesadelos durante a noite, por isso tento não ficar presa aqui já que posso acabar igual.
Afinal,com tantas coisas ruins que acontecem, não dá para perder também a leveza e a esperança.
Já somos considerados mortos por todos aqueles nobres e riquinhos que se escondem na muralha seguinte. Somos o prato principal, enquanto eles são a sobremesa.
E a sobremesa é só para quem consegue terminar o resto, sei que é um pensamento negativo, mas sinceramente é quase impossível ter algum positivo com esses seres lá fora.
Hoje é uma das terça-feira das quais à tarde, antes de vir para ajudar o bar, vou ganhar um pouco de ânimo.
_ Vou sair um pouquinho, digo para minha mãe que pede cuidado e tenta saber para onde vou
Segundo, sua opinião é porque arrumei um novo namorado, e para ser sincera por mim tudo bem ela pensar assim se não vais tentar barrar minhas fugas.
Pois estaria em problemas se ela descobrisse a verdade.
Passo por uma pequena fenda na grande muralha entre os arbustos para minha liberdade. Do outro lado, encontro o pouco que sobrou da cidade que a muralha Maria protegia. É ali que encontro o meu meio de transporte, afinal caminhar levaria muito tempo.
_Oi Cosmo, como está garoto? Falo passando minha mão sobre seu pelo macio e avermelhado e seu relincho soa como uma resposta positiva
Venho alimenta-lo três vezes na semana, terça, quinta e aos domingos . Coloco o bastante para não me preocupar, pois sempre tem um pouco quando venho nos outros dias.
Eu o levaria para casa, mas sei o que diriam e também sem mencionar o fato que seria interrogada para saber onde o achei. Isso levaria a desconfiar que o achei além desses murros e isso seria ruim.
Mas por hoje nós dois vamos em busca da nossa pouca liberdade, essa também que foi tirada dele por ser comestível.
Não me canso de ver o belo é uma onda deslizar até a beira, seu som é como se fosse terapêutico. Dormiria escutando se eu pudesse.
É lindo como o sol bate sobre a água e deixa tudo com tons de vermelho e , às vezes, até um tom rosado. Faz pensar que apesar de tantas ruínas também tem beleza.
_Sei que as maçãs e a vista estão ótimas, mas precisamos retornar, falei tentando me convencer também sobre voltar
Quando um dia isso tudo passar, espero poder descer lá embaixo para sentir a água bater sob meus pés enquanto caminho próxima.
_Bom, amigão você tem comida até minha próxima visita e água...o abraço gentilmente _Obrigada por hoje! Saio apressadamente para não me atrasar
Corro e paro ao avistar a porta do bar aberta, entro e vou até a cozinha onde em um cabideiro na parede ao lado da pia estão os aventais. Pego um e o ponho me apressando, afinal daqui uns minutos às pessoas vão começar a chegar em peso.
Assim começo meu turno como todas as outras vezes, em todos os outros dias.
_Bem na hora, falou meu irmão tentando me provocar com alguma coisa como sempre fez todos os dias
Mas de alguma certa forma, se torna mais frequente nos dias que saio. Talvez seja uma tentativa de me fazer deixar escapar onde vou, ou simplesmente é algo normal entre irmãos.
_Está mais cheio que o normal, comenta minha mãe que vem trazendo uma bandeja vazia
_Tem forasteiros, parece ser aquele grupo que lidam com os titãs, diz meu querido irmão os encarando sem ser sútil
_Não importa quem são, temos trabalho mesmo assim, falei jogando o pano em cima do balcão em sua direção
_Esqueço quão estraga prazeres você pode ser, falou entrando na cozinha e me trazendo uma bandeja com os pratos da mesa ao lado
_É eu sei, mas não viveria sem mim, brinco tentando manter longe os pensamentos ruins que estão circulando na minha cabeça
_Mesa 5, falou minha mãe passando por mim me fazendo lembrar antes de cometer um erro
_Obrigada! Cochichei agradecendo, afinal me distrai por um breve instante
O fato de estarem ali podia ser bom e mau sinal, depende do ponto de vista de como se olha a situação e realidade que vivemos.
Os olhei disfarçadamente, e vi seu brasão estampado no seu casaco. É realmente aquele esquadrão, isso me deixa um pouco aliviada por termos uma proteção. Mas também me preocupa, afinal significa que aqueles seres podem atacar aqui a qualquer momento.
Isso me faz lembrar da manhã ensolarada e calma, onde fomos atacados, felizmente não destruíram a muralha.
Mas até quando ?
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Capitão Levi
FanfictionLevi busca algo calmo porém a situação atual não permite isso, mas seu sonho se torna perto de algo possível ao encontrar alguém que compartilha de metas parecidas