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Pov Camila

Dez minutos depois, estamos sentados em uma mesa de canto da Casa de Panquecas de Billy Panqueca, onde todos os garçons parecem conhecer Lendon e Lily pelo nome.

O nosso garçom é um homem bem alto de barba, um sorriso largo e um crachá desbotado que diz Niko fixado na camiseta vermelha do Billy Panqueca. Ele nem pergunta o pedido de Lendon ou Lily, apenas serve uma xícara de café e uma pink lemonade.

Eu entendo o que eles queriam dizer sobre o caráter lendário do Billy Panqueca. O lugar tem um tipo particular de espírito nova-iorquino, próximo de uma pintura de Edward Hopper ou da lanchonete de Seinfeld, mas com muito mais charme.

Fica em uma esquina, com janelões para a rua dos dois lados, mesas de fórmica denteadas e bancos de vinil vermelho que são tirados das áreas mais movimentadas
à medida que vão rachando. Tem um balcão de lanchonete ao longo de uma das paredes, fotos antigas e manchetes sobre os Mets do chão até o teto.

Tem também um cheiro poderoso, uma torpeza olfativa tão intensa que eu consigo sentir se entranhando por dentro.

— Enfim, o pai do Victor deu para ele — Lily diz, explicando como um conjunto de cadeiras Eames de couro foi parar no apartamento. — Um presente de “parabéns por atender às expectativas familiares” quando ele começou a faculdade de arquitetura no Pratt.

— Pensei que ele fosse tatuador!

— Ele é — Lendon diz. — Largou depois de um semestre. Meio que teve um… surto.

— Ele ficou sentado em uma escada de incêndio de cueca por catorze horas, e tiveram que chamar os bombeiros — acrescenta Lily.

— Só por causa do incêndio criminoso — Lendon faz um adendo.

— Deus do céu — Digo incrédula. — Como vocês o conheceram?

Lily arregaça uma das mangas de Lendon até depois do cotovelo, mostrando a Virgem Maria estranhamente sexy no antebraço dele.

— Ele fez isso. Pela metade do preço, já que estava aprendendo na época.

— Uau! — Os meus dedos coçam no cardápio grudento, ansiosos para escrever tudo. Meu instinto menos encantador quando conheço pessoas novas: tomar notas. — De arquitetura para tatuagens.  Que mudança.

— Ele decorou bolos por um tempinho nesse intervalo, acredita? — Lily diz. — Às vezes, quando ele tem um dia bom, você chega em casa e o lugar todo está com cheiro de baunilha e ele deixa uma dezena de cupcakes confeitados no balcão.

— O novinho é uma caixinha de surpresas — Lendon observa.

Lily dá risada e se volta para mim.

— Então, o que a trouxe a Nova York?

Eu odeio essa pergunta. Envolve coisas demais. O que deu na cabeça de alguém como eu, uma menina suburbana com uma piscina de dívidas estudantis e as habilidades sociais de uma lata de Pringles, para se mudar para Nova York sem amigos e muito menos um plano?

A verdade é que, para quem passou a vida inteira sozinha, é incrivelmente atraente se mudar para um lugar tão grande que dê para se perder, onde ficar sozinha pareça uma escolha. Mas, em vez disso, eu respondo:

— Sempre quis arriscar. Nova York é… sei lá, tentei a Universidade de New Orleans, depois a Universidade de Memphis, e me pareceram… pequenas, acho. Eu queria algo maior. Então pedi transferência para a Brooklyn College.

Lendon está me olhando com serenidade, mexendo o café. Eu o acho praticamente inofensivo, mas não gosto de como ele me olha, como se soubesse de coisas.

A Garota do Metrô- CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora