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Pov Camila


Eu nunca mais vou poder pegar a linha Q.

Eu não acredito que chamei a Lauren para sair.

Lauren.

A mesma Lauren que distribui sorrisos e faz festas no metrô, que é provavelmente uma poeta do caralho ou, quem sabe, uma mecânica de motocicletas.

Ela deve ter voltado para casa naquela noite e encontrado as amigas poetas motociclistas tão gatas quanto ela num bar e comentado que foi muito engraçado a menina esquisita do metrô chamando-a para sair, depois foi para a cama com sua namorada ainda mais gata e fez um sexo bom, prazeroso e nada desajeitado com alguém que não é uma virgem deprimida de vinte e três anos.

Elas vão se levantar de manhã, e vão fazer torradas descoladas e sexy de gente transona, e com o tempo, depois que eu estiver evitando a linha Q por algumas semanas, Lauren já vai ter se esquecido de mim.

O meu professor passa o slide do PowerPoint, e eu abro o Google Maps e começo a planejar meu novo trajeto.

Ótimo. Tranquilo.

Eu nunca mais vou ver Lauren novamente.

Nem chamar ninguém mais para sair pelo resto da minha vida.

Eu estava seguindo uma trilha sólida de solidão hostil. Já pode voltar.

Numa boa.

A aula de hoje é sobre pesquisa correlacional, e eu estou fazendo anotações. Estou mesmo. Medir duas variáveis para encontrar a relação entre elas sem nenhuma influência de outras variáveis. Certo.

Como a correlação entre a capacidade de eu me concentrar nessa aula e a quantidade de sexo atlético e mutuamente gratificante que Lauren está fazendo com sua namorada hipotética supergostosa e quem sabe francesa, tipo, nesse exato momento.

Sem levar em conta variáveis externas como o meu estômago vazio, minha dor na lombar resultante de turnos duplos no trabalho, ou meu celular vibrando no bolso enquanto Lily e Victor discutem no grupo sobre o jantar.

Eu já fui capaz de ignorar isso tudo para fazer minhas anotações antes. Nada disso me distraía tanto quanto Lauren.

É irritante porque Lauren é apenas uma pessoa no metrô.

Simplesmente uma mulher muito bonita com uma jaqueta de couro cheirosa e um talento para se tornar o verdadeiro ponto central cintilante de qualquer espaço que ocupa.

Apenas ligeiramente a razão para eu não ter alterado meu trajeto nenhuma vez durante todo o semestre.

Está tudo numa boa.

Eu estou como sempre estive em toda a minha vida, muito profundamente numa boa.

Desisto e olha o celular.

Mensagens on

Camila mozinho sei que vc odeia brócolis mas vamos fazer brócolis sinto muito.

Lily escreveu.

Não tenho nada contra brócolis

Respondo.

Sou eu que odeio brócolis...

Victor manda com um emoji chateado.

aaa nesse caso não sinto muito não :)

Lily responde.

Isso deve bastar, penso.

Ainda que eu tenha lá minhas reservas, me meti nesse emaranhado de pessoas que querem que eu faça parte do grupo.

Eu vivi tempo pra cacete sem nem metade desse amor. Já estive sozinha em todos os sentidos possíveis.

Agora só estou sozinha em alguns sentidos.

Eu respondo:

Curiosidade: brócolis é uma excelente fonte de vitamina C. Escorbuto é o caralho.

Em questão de segundos, Lily responde aêêêêêêê e muda o nome do grupo para fora escorputo.

A Garota do Metrô- CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora