07

47 5 0
                                    

Pov Camila


Tem duas coisas apertando o meu peito nos últimos dias.

A primeira é o de sempre: um misto de ansiedade e pavor absoluto. A parte minha que diz: não confie em ninguém, muito menos naqueles que tentam entrar nas câmaras de seu coração.

Não interaja.

Carregue um canivete. Não é para esfaquear ninguém, mas esfaqueie se for preciso.

A outra, porém, é a que realmente me dá medo.

Esperança.

Eu completei o último semestre na Universidade de Memphis no outono passado em uma névoa de provas, metade das minhas coisas ainda dentro de caixas de papelão.

A colega de quarto que eu encontrei na Craigslist vivia na casa do namorado, então eu ficava sozinha na maior parte dos dias, indo e voltando do campus no Corolla tosco que comprei usado, passando pelas pessoas aglomeradas na frente de bares, sem saber o que os outros tinham que eu não tinha.

Memphis era calorosa, tanto nas tardes úmidas quanto na forma como seus moradores tratavam uns aos outros. Menos eu, claro. Por dois anos, eu era um cacto em um campo de íris do Tennessee.

Eu me mudei para ter um pouco de espaço, um espaço saudável, em relação à minha mãe e ao caso e a todos os fantasmas de New Orleans em que eu não acreditava. Mas Memphis também não era o meu lugar, por isso pedi transferência.

Escolhi Nova York porque pensei que seria uma cidade tão cética quanto eu, que me permitiria deixar o tempo passar sem pressão.

Pensei, para ser sincera, que finalmente pararia em um lugar que combinaria comigo.

E combina, em boa parte do tempo. As ruas cinzentas, as pessoas com os ombros curvados sob o peso de mais um dia, distribuindo cotoveladas e olhares cansados. Eu consigo entrar no clima.

Mas o perigo é que tem gente como Lendon, Lily e Victor, como Lucie, Niko e Jerry. Tem uma gentileza que eu não entendo, provas de coisas que eu me convenci de que não existem.

Pior de tudo, pela primeira vez desde que eu era criança, eu quero confiar em alguma coisa.

E: tem a Lauren.

Minha mãe consegue notar que está acontecendo alguma coisa.

— Parece que você está sonhando acordada — ela diz no telefone, em uma das ligações de toda noite.

— Ah, é — penso por um segundo. — É que estou pensando em pizza.

— Você realmente puxou a mim, hein? — aprova minha mãe.

Eu já tive outras crushes antes. Garotas que se sentavam a duas cadeiras da minha na sala de geometria do primeiro ano, garotos que encostaram no dorso da minha mão em uma festa de uno, pessoas que cruzaram meu caminho em aulas e trabalhos de meio período. Quanto mais velha eu fico, mais prefiro pensar em amor como um hobby para outras pessoas, como escalada ou tricô.

Legal, invejável até, mas eu não quero investir no equipamento.

Mas Lauren é diferente.

Uma menina que pega o trem em um ponto indefinido e desce em um destino desconhecido, que anda por aí com uma mochila cheia de objetos úteis como uma protagonista vigorosa de videogame, cujo nariz se enruga muito quando ri, tipo, ri de verdade. Ela é um raio de sol em manhãs frias, e eu quero me enroscar nela como Noodles se enrosca nas frestas de luz que rodeiam o apartamento.

É como esbarrar em um fogão quente e em seguida enfiar a mão na boca acesa em vez de pôr gelo.

É doido.

É irracional.

É a antítese de toda a distância de mil metros de precaução que eu sempre mantive.

Mas Lauren está lá, no trem e na minha cabeça.

A Garota do Metrô- CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora