Por que seu nome não é Guilherme?

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Eu sei que é exatamente isso que você está se perguntando, assim como a atendente confusa do Starbucks na minha frente. Na verdade, até poderia ser João, José ou qualquer outro dos clássicos nomes brasileiros, mas não. Tinha de ser...

— Desculpa, você pode repetir mais uma vez?

— Oliver Windstad.

Não entendo por que da insistência em perguntar se eles sempre erram. Uma vez erraram a parte do Oliver!

Mas era tiro e queda, depois da terceira vez, ela desistia, o que eu conseguia entender, fim de ano a paulista estava tão cheia quanto minha bolsa estava pesada. Então apenas me afastei quando ela assentiu, me encostei no canto da loja e esperei que me chamasse.

Enfim, sobre o nome. Oliver foi dado pela minha mãe, muito provavelmente gerado pela grande americanização da TV nos anos 90, agora Windstad é o nome dado a todos os magos órfãos latinos não registrados em cartório. E alguns dizem que vem de uma runa antiga, que significa: a onde o vento faz a curva. Engraçado, não é? Um foi dado pela minha mãe, outro dado por eu ser órfão.

E sim, outro fato curioso sobre mim, eu sei tirar um coelho da cartola. Sou o que você chamaria de mago e para ser bem sincero com você, colocar ele na cartola é bem mais difícil do que tirar.

— Oliver Ruimested! — a atendente berrou com um copo de café na mão.

Este dever ser o meu. Me desencostei da parede e peguei o café, tentei dar o sorriso mais convincente que conseguia para atendente, ela me ignorou e meu nome no copo estava pior do que o que ela disse. Sai da loja.

Cheiro de poluição, urina e suor. A brilhante São Paulo.

Onde estava mesmo? Ah é! Colocar animais numa cartola. Então, você já se imaginou sendo enfiado numa carto... Não, não era esse o ponto que queria chegar, na verdade era... Magia! Sim, magia existe, e se você está lendo isso, provavelmente esse é o seu primeiro despertar, e isso é incrível! Seja bem-vindo! Ou vinda, ou o pronome que preferir.

Bem, existem vários tipos de despertar, mas esse com certeza pode ser um, assim como se você for apto em algum âmbito artístico, arte é a forma mágica mais difícil de se esconder entre os Amathís. Tá, você deve tá se perguntando o que é a palavra estranha que acabei de falar. Esse é o jeito como chamamos os humanos presos pelas amarras da realidade, pelo menos quando queremos economizar tempo, na maioria das vezes evitamos chamá-los de ignorantes de graça. Isso seria mais bem explicado para vocês pelo professor André. E isso me lembrou que ainda preciso ir para a escola.

Divagar me fez esquecer de colocar o fone. Ouvir música enquanto andava pela avenida era literalmente um dos melhores momentos do meu dia, praguejei baixo enquanto desenrolava o fio do fone que antes estava no meu bolso.

Tá, o que quero dizer é, se você gosta de criar, fazer arte, desenhar, escrever se isso de alguma forma te tira da realidade, te traz paz e alivia seus pensamentos mais sabotadores, provavelmente você já teve um despertar. Você é um ser mágico. Só precisa de um despertar ainda mais profundo para ver o Senhor Joaquim, um orc velho que tem uma banca de jornal na esquina com a Augusta.

Enfim, a questão que quero explicar aqui é que magia existe. Sempre existiu e sempre vai existir. O problema é que depois das tragédias que aconteceram no século dezessete na Europa, nossos mundos estão separados. O seu mundo foi preso as amarras da realidade, uma conjuração poderosa que os mantém em um mundo cujo sua mente racional consegue interpretar.

A questão é que com a miscigenação enorme entre os seres, magisses e terrenos, muitos seres que eram parte mágicos ficaram presos a essas amarras também e sofrem com o despertar ao decorrer de sua vida, quando sua mente mágica começa a interpretar o mundo além da racionalidade comum. Alguns até ficam famosos por isso, você deve conhecer nomes como DaVinci, Tim Maia, nem citarei a Elis Regina.

O mundo mágico e o mundo real, ou como chamamos: Terreno coexistem no mesmo lugar do universo, mas não no mesmo espaço. Algumas pessoas podem vê-lo e algumas não, o que nos separa é o lado em que estamos das amarras. E é isso que mantém as coisas seguras e pacíficas entre a gente.

E por que eu estou te contando essa história? Bem, porque eu rompi essas amarras. 

Oliver Windstad & O Advogado NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora