A câmera invisível da vida

20 2 16
                                    

— Ele tá demorando demais! Deve ter nos dedurado — Pedro me disse nervosamente.

— Você diz isso todas as vezes! Relaxa, cara — respondi encostando numa das grandes paredes vermelhas.

Era quarta, o que significava que nosso empreendimento tinha entrega. Estávamos parados abaixo do MASP onde sempre ficávamos para receber nossos clientes.

— E algum dia eu vou estar certo! Seremos pegos e suspensos dos estudos magisses para toda nossa vida! — ele estava exasperado.

Dei um risinho. Era engraçado ver alguém racional tão tenso.

— Relaxa, acho que o Alistair tem mais com o que se preocupar do que a gente. Inclusive, você não vai ir me buscar no Starbucks todos os dias agora, né?

Ele tinha feito isso no dia anterior e nesse desde o meu último atraso. No primeiro dia tinha sido engraçado, agora já achara exagero.

— Claro que sim, é o único jeito de te fazer chegar no horário! — ele gesticulou com as mãos como se o que dissesse fosse obvio — Além disso, você bebe muito café para alguém da nossa idade, então estou te fazendo um favor.

Pessoas espertas são sempre tão mandonas?

— E aí, tão com o bagulho? — Samuel, perguntou ao se aproximar da gente na surdina, quase saltei de susto.

— Samuca! Nosso cliente mais fiel! — abri os braços dando um sorriso de canto de boca, o mais seguro que podia parecer.

— Ih, lá vem... — ele olhou para mim e depois pro Pedro — Não conseguiram?!

— Não, conseguimos, nós sempre conseguimos — passei o braço por cima do ombro dele — Mas... você pediu um pouco tarde demais, não é? — toquei com o dedo duas vezes no peito dele com a outra mão.

— É, cara, foi mal aí, eu achei que dessa vez conseguiria sozinho...

— Pss... — coloquei o dedo em frente a sua boca, o silenciando — relaxa, você já é de casa e é exatamente por isso que sabe como é... coisas em cima da hora exigem trabalho em pouco tempo que exigem preços maiores...

— Ah qual é... — Ele se soltou do meu braço, olhou para mim de frente — sério mesmo...? — eu apenas abanei a cabeça erguendo as sobrancelhas. Ele bufou — quanto?

Olhei para Pedro, retorcendo o lábio. Ele me olhou de volta fazendo a mesma feição pensativa. Pelo menos nessas horas ele conseguia se fazer mais confiante.

— Quatro. De ouro — Pedro soltou secamente.

— Quê?! — Samuel retrucou mais alto do que até ele gostaria. Olhou ao redor, então conteve a voz — Cara, isso é tudo que eu tenho para o intervalo de hoje!

Ergui os ombros estendendo as mãos.

— Ora, então você pode almoçar um delicioso lanche natural da cantina ao invés de ter o...

— Tá bom! — ele me interrompeu enfiando a mão no bolso — Tá aqui, quatro Estrael de ouro — depositou as moedas na minha mão.

As olhei, eram moedas de ouro normais com sua borda formada por dois dragões entalhados que brigavam um contra o outro em fúria, quando pegas por Magisses seu centro brilhava e revelava o símbolo da dimensão zero em meio aos dragões. Caso fossem falsas, isso não aconteceria, caso fosse pega por um terreno também não. Era uma magia de nível Soberano dos Segredos. Impossível para alguém da nossa idade replicar. Pouquíssimas pessoas no Brasil tinham tal nível mágico.

Elas brilharam para mim, olhei para Pedro e assenti.

Ele assentiu de volta, jogando sua bolsa para frente, a abriu e puxou dela um trabalho encadernado, com o título: Linguagens mágicas e cultura, com o nome de Samuel na capa. Entregou o trabalho para ele.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 21, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Oliver Windstad & O Advogado NecromanteOnde histórias criam vida. Descubra agora