ATO I: Who's in your shadows?

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{Sophie, 6 anos - Paris, França...}

Who's in your shadows?
Who's ready to play?
Are we the hunters?
Or are we the prey?

GAME OF SURVIVAL, by Ruelle.

A bela criança de olhos azuis esverdeados e lábios rosados havia crescido, em tamanho e inteligência aos 6 anos de idade. Mesmo sendo a menor garota de sua turma, a pequena Sophie sempre deixou claro de que seria uma bela encrenqueira. Podia ser na hora do refeitório ou na hora de se juntar com as freiras na hora da oração noturna, Sophie sempre recebia belos "petelecos" da freira superior por seu comportamento inaceitável - para uma garota órfã de 6 anos, obviamente. Isso, é claro, não era apenas sobre o comportamento de Sophie, mas também sobre o comportamento de sua mãe, Madeleine. Não era segredo para ninguém entre as freiras que a mulher havia deixado a garota ali por ter "traído" seu marido. E agora... Quem desejaria a companhia de uma bastarda, não é mesmo? Ainda mais da mulher de uma das famílias mais influentes da França desde a Revolução Francesa.

 Quem desejaria a companhia de uma bastarda, não é mesmo? Ainda mais da mulher de uma das famílias mais influentes da França desde a Revolução Francesa

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Impura, suja, maldita... Era assim que uma pequena criança era chamada nos corredores do convento e da Igreja de "La Madeleine". Sophie sabia disso, ela escutava com frequência seu nome ser seguido por xingamentos que ela conhecia muito bem e por outros que ela não tinha nenhuma noção do que eram. Aliás, ela ainda era uma criança no final de tudo. Porém, mesmo sendo uma criança, Sophie nunca foi poupada de castigos e punições, não somente psicológicas como também físicas. Mas era o normal... Certo? A pequena garotinha de 6 anos tinha opiniões demais para conhecimento nenhum sobre o mundo, e aquilo talvez assustava a maioria das freiras que sempre olhavam de canto em todo lugar para a criança aberração que Sophie representava.

- Au nom du Père, du Fils et du Saint-Esprit...

Era isso que a voz do padre no altar da igreja ecoava por todo lugar da Catedral de Madeleine, que curiosamente tinha o nome da mãe da garota - que jamais soubera nenhuma informação de sua progenitora. Porém, sentada ali em um dos primeiros bancos da igreja, o ódio por vestidos apenas aumentava, Sophie sempre havia odiado as roupas do convento, mas odiava principalmente ter que ficar sentada com aquela vestimenta em todo ritual cristão nos domingos ao nascer do Sol. Um rito cristão, a missa católica no nascer do sol do sétimo dia. Seus olhos sobem para um dos vitrais desenhados da catedral. Era uma bela imagem de um anjo enfiando algo do que parecia uma espada no peito de uma criatura horrenda. A Sophie de 6 anos jamais saberia que aquela gravura representava Miguel matando Lúcifer na batalha final do Apocalipse, mas era bonita. Sophie não sabia porque, mas algumas coisas obscuras lhe interessavam mais.

Ela nem ao menos se deu conta de que tinha se levantado no meio do ritual cristão enquanto olhava distraidamente para o vitral, e quando viu, já estava longe demais para voltar. Perdida talvez fosse uma palavra forte para descrever como ela estava... Os pinheiros ao redor da catedral cobriam o lugar onde ela caminhava, ela ouvia os pássaros, mas eles começavam a ficar distantes e cada vez mais inquietos. Não mais o vitral com o anjo das trevas lhe chamava atenção fora da igreja, mas pequenos passos de algum animal, provavelmente uma lebre pelo formato que havia serpenteado para fora, em um caminho mais sombrio ao longo do parque. Seus pequenos olhinhos azuis esverdeados percorrem o caminho, os bancos com pessoas vão diminuindo a medida que o caminho vai escurecendo e as árvores vão se fechando ao redor de Sophie.

A garota então fecha o peacoat que usava sentindo o vento ficar mais frio e a mata mais gelada... É então que ela se dá conta de onde ela estava quando pisa em um galho o quebrando e fazendo um barulho. Algo do seu lado esquerdo parece fazer a mesma coisa e ela vira seu rosto assustada e dá dois passinhos para trás quando vê uma sombra entre as árvores, ou fosse talvez coisas da sua imaginação. Sua respiração fica mais pesada e seu peito se fecha podendo ver fumacinhas brancas saindo de sua boca por sua respiração ofegante. Algo entre as folhas se mexe sem parar e as folhas aumentam seu ritmo como em uma dança sinistra enquanto a garotinha olha ainda assustada para onde o barulho vem e então ela vê... Uma lebre caramelo pula do meio das folhagens.

 Uma lebre caramelo pula do meio das folhagens

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- SOPHIE!

A voz estridente de velha irritadiça corta o lugar e a garotinha simplesmente se vira assustada para a Madre Superiora sentindo seu peito subir e descer como se seu coração fosse pular de seu peito. A mais velha avança sobre ela, forte e imponente com a cara irritada em raiva. Sophie não consegue falar nada, só sentir a mão da mulher ao redor de seu braço ainda pequeno enquanto é arrastada de volta pelo mesmo caminho de onde veio até a igreja. Mesmo sendo arrastada, Sophie olha uma última vez por cima do ombro vendo a lebre parada no meio do caminho onde a garotinha havia a deixado. Seus olhos, agora um pouco embaçados pelas lágrimas em seus olhos só conseguem focar na lebre que ainda olhava para as duas mesmo de longe até finalmente desaparecer da vista da garotinha. Ela então se vira assustada para a mais velha, seu braço e pernas doendo pelo apertão e por ter que acompanhá-la tão rapidamente entre a neve.

- Está na hora de conhecer um lugar e começar a obedecer as regras, sua bastardinha.

Aquilo havia sido a única coisa que a velha havia dito para a garota antes de jogá-la em um carro de volta para o orfanato

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Aquilo havia sido a única coisa que a velha havia dito para a garota antes de jogá-la em um carro de volta para o orfanato. As pernas ainda vacilantes de Sophie quase a fizeram cair do carro quando o mesmo parou e ela precisou descer, a velha a pegou pelo braço novamente e a conduziu para dentro do orfanato. Porém, dessa vez, ao invés de subir as escadas até os quartos das garotas, a velha puxou Sophie escada abaixo até um porão, as lágrimas ainda caiam do rosto da garotinha enquanto ela apenas se deixava ser conduzida pela mais velha até um lugar escuro e úmido. Ela então logo espirra pelo cheiro de mofo do lugar, um espirro infantil em meio as lágrimas para demonstrar o quê Sophie era naquele momento: patética. Então, assim que a garotinha chega no último degrau, a velha força seu braço a jogando em um dos cantos, Sophie apenas olha para a senhora em meio as lágrimas enquanto recua até um dos cantos abraçando seu próprio corpo.

- E não ouse gritar, cada barulho que eu ouvir aqui dentro significa mais um dia nesse lugar imundo.

A velha fala com o dedo apontado na direção da garota, mas Sophie não consegue fitá-la, seus olhos se abaixam assim como sua cabeça enquanto a mesma se mantém abraçada com seu próprio corpo. A pouca luz é dissipada quando a mais velha fecha a portinhola do porão e Sophie é envolvida em escuridão e sombras enquanto ela consegue escutar o som da fechadura do lado de fora sendo trancado. Ela ainda chorava, cada vez mais, mas tentava não fazer barulho para que a madre não ficasse mais irritada. Ainda abraçada em seu próprio corpo e chorando, Sophie ainda se perguntava o quê havia feito de errado... "Eu era uma boa garota, não era? Não? Eu iria ser... Eu vou ser uma boa garota."

Burnt Soul: Sophie.Onde histórias criam vida. Descubra agora