Eu estava sentado nas escadas da varanda da casa da tia de Nick. Era verão, por isso, tinha um cheiro quente de flores no ar, que saía dos canteiros de sua tia. O sol batia sobre mim, assando-me em minhas roupas negras, mas eu não me importava o suficiente para poder tirá-las.
— Tá um inferno aí fora. — a voz de Nick soou, quando ela apareceu na varanda. — Não quer ir lá para dentro?
Balancei minha cabeça.
— Não quero incomodar sua tia.
Nick sentou-se ao meu lado nos degraus da escada.
— Você sabe que não incomoda. — disse ela. — Vai assistir aos fogos conosco?
Os fogos de quatro de julho não eram interessantes para mim. Pelo menos, não mais, assim como o resto das datas comemorativas. Todas elas não passavam de dias normais. Dias normais, maçantes, de minha injusta existência.
Dei de ombros, cutucando o rasgo no meu jeans preto, na altura de meu joelho.
— Pode ser. — eu disse.
Nick deu um suspiro.
— Sabe, quando eu te conheci, não pensei que você era tão baixo astral. — disse ela.
Levantei meus olhos para ela. Meu cabelo estava grande, caindo sobre meu rosto, e eu sabia que precisava cortá-lo, mas parecia algo tão fútil para fazer. Era só cabelo, no fim das contas.
Nicole olhou de volta para mim e eu vi o seu rosto caindo. Mas foi algo rápido, porque ela logo se recompôs. Ela sabia que tinha coisas sobre as quais eu não gostava de falar. Não falava nem para o conselheiro da escola, que meus pais me obrigaram a consultar, se não eu teria que ir para um psicólogo.
Eu até ia às consultas, porque eu não tinha nada melhor para fazer mesmo, mas, nunca disse uma palavra sobre o que acontecera há exato quatorze meses e dezessete dias. Eu nunca poderia falar sobre aquilo como as pessoas gostariam que eu fizesse.
— Minha tia está fazendo torta de maçã. — disse Nick, mudando de assunto, e me deu uma pequena cotovelada. — Se quiser ficar para jantar, sabe que é bem-vindo.
— É. Pode ser. — respondi. — Mas acho que vou ir jantar na casa do Colt. Combinei de ir dormir lá hoje.
— Tudo bem. Se mudar de ideia, já sabe.
Acenei com a cabeça e levantei meus olhos para ver dois garotos passarem correndo pela rua, chutando uma bola, com um cachorro correndo atrás deles.
— Ei. — disse Nick. — Já sabe o que vai querer fazer em seu aniversário? É no mês que vem, não é?
— É. — concordei. — Mas não vou fazer nada.
— Você deveria. — disse Nick, com uma careta. Seu cabelo louro repicado fez cócegas em meu braço. — Não é todo dia que você faz dezoito anos.
Com um suspiro, levantei do degrau e estiquei meus braços acima da cabeça.
— Nick...
Virei-me, ainda me espreguiçando, e vi a irmã caçula de Nick, Meadow, na porta de entrada. Ela era tão pequena, e tão brilhante com seus cabelos amarelos presos em uma trança, que caia sobre um de seus ombros. E, o vestido rosa florido, os Converses de cano curto, também rosa, que usava só a deixavam ainda mais brilhante. Tanto que olhar para ela doía.
— O que é, Me? — perguntou Nick, virando-se para a sua irmã.
— Titia pediu para que você ir ajudá-la lá na cozinha. — disse Meadow, sua voz doce e cantante saindo suavemente, mesmo que ela estivesse praticamente sussurrando. Seus olhos ainda estavam e mim, tão arregalados, que às vezes eu pensava se não a assustava com a minha aparência.
Nick suspirou e olhou para mim.
— Vai lá, eu já estava indo mesmo. — eu disse, e olhei para Meadow. — Até logo, Meadow.
— Até logo, Ash. — respondeu a menina num sussurro, e mordeu seu lábio inferior antes que um sorriso irrompesse em seu pequeno rosto.
Ela sempre fazia isso, sempre me dava esses olhares curiosos e esses sorrisos largos e doces. Eu até poderia entender isso. Meadow não era a única menina que agia assim perto de mim, mas eu era mais acostumado às mais velhas, de dezessete e dezenove anos. Às vezes até mais. Mas garotinhas de treze anos olhando-me daquela forma não era algo ao qual eu iria me acostumar, mesmo que fosse algo inocente.
E Meadow não parecia entender que ficar perto de mim era uma coisa ruim. Sempre me dava sorrisos largos, radiantes, que sempre me faziam lembrar da parte de mim que morrera.
A minha parte boa.
Agora restava apenas algo sombrio, obscuro, frio e vazio. Não havia nada dentro de mim. Meu coração era apenas uma caixa vazia, uma pedra de gelo oca. Eu era uma ameaça, e levava destruição onde quer que fosse.
Contudo, ela não parecia perceber isso, o que me frustrava. Estava sempre com aquele sorriso lindo no rosto, o som de sua rizada... Mesmo quando menor, Meadow sempre fora elétrica, extrovertida, cativante. Nada parecia afetá-la, nem mesmo os problemas que eu sabia que ela e sua irmã tinham. Meadow sempre parecia estar feliz. Sempre.
E eu não poderia desfazer isso. Não podia chegar perto dela com minha escuridão, por mais que ela me atraísse como uma mariposa para a sua luz.
Eu sabia que ela era intocável para mim, e continuaria assim para sempre.
Porque eu não poderia arriscar perder meu sol novamente.
mPu
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Liberto - The Tough and Strong 2 (DEGUSTAÇÃO)
RomanceSegundo livro da série The Tough and Strong. SINOPSE Asher Pryce nem sempre foi obscuro. Ele era como outro jovem qualquer: eufórico com a vida. Isto até que parte dele morreu. O sol que brilhava todos os dias em seu mundo sumiu, deixando a escuridã...