21. A Escolha

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— Me desculpe, H.. Me desculpe de verdade. Eu não... Não me lembro. Estraguei tudo.

Louis está no banheiro da casa, sentado numa cadeira, de frente para a pia e para o espelho. Harry está atrás dele, de pé, dando um corte nos cabelos de Louis com uma tesoura; estes já passando da nuca.

— Você não estragou nada. E não é culpa sua.
— Estraguei. E é claro que é minha culpa, fui eu.. Fui eu quem bebi álcool puro. Eu não sei o que deu em mim, eu não sei.

Harry desliza a mão pelos ombros e costas dele, limpando o que consegue dos cabelos cortados.

— Isso acontece, você está em reabilitação, está sendo forte. Mas não significa que deve ser normal e constante. Eu temo ter te pressionado demais... Eu sinto que pressionei.

— Não, não tome a culpa para você. Eu.. Eu só fracassei. — Louis suspira, negando brevemente com a cabeça. Ele fecha os olhos por alguns segundos durante o suspiro antes de sussurrar. — Tem reunião amanhã...

Harry umidece um lenço e o torce enquanto escuta Louis, voltando para a posição anterior para limpar melhor as costas e ombros dele com o lenço. Não há tanto cabelo no chão, pouco foi cortado.
— Talvez te faça bem falar sobre isso na reunião.
— Não.. — Louis nega, segurando no próprio braço com uma das mãos. — Todos não precisam saber do meu fracasso. Vou decepcionar todos eles como decepcionei você.
— Todas aquelas pessoas lá estão na mesma posição que você. Não será uma vergonha.
— Para mim será.

E então os azuis olham para os verdes; ele se vira parcialmente na cadeira, encontrando o olhar de Harry acima de si, de pé.
H nota o quão retraído e acuado Louis está desde a primeira reunião no AA. Ele não consegue se abrir, não consegue pôr pra fora e não disse muita coisa em seu único depoimento. É claro, Louis vai falar no seu tempo, quando se sentir pronto, mas Harry teme que talvez ele demore a conseguir; tal como ele próprio não consegue falar sobre os seus traumas.

— Eu ia fazer algo... Uma coisa, pra você e eu. Seria uma surpresa. — O menor sentado então abaixa o olhar pesado, retorcendo a ponta do nariz. — Não sei mesmo por que fiz o que fiz.

— Você ainda pode fazer. Eu estou aqui, Louis. — O mais alto se abaixa, estando na altura do outro sentado. Ele estende uma das mãos e a pousa no rosto de Louis, onde deixa uma carícia afetuosa. Harry o está olhando com ternura, tentando conforta-lo. Ele quer que Louis sinta que está tudo bem, mas não é como se fosse fácil.

Recair é um choque. É algo que pessoas em reabilitação não esperam que aconteça; e, quando acontece, a culpa as deprime. Louis não está se sentindo leve como antes.

— Vem cá. Vai ficar tudo bem, vamos superar isso. — Harry se ergue novamente de pé, desta vez, puxando Louis cuidadosamente por uma das mãos; o acolhe num abraço, de modo a acariciar as costas dele com uma das mãos e os cabelos com a outra. Ele sente os braços menores o apertarem com a pouca força que conseguem e então o mais alto começa a balançar ambos os corpos, devagar, de um lado para o outro.

[...]

Na sala, minutos após o almoço e após ter absoluta certeza de que Louis se alimentou corretamente e de que tomou as vitaminas receitadas pelo médico, Harry está observando-o cochilar num dos sofás da sala. Louis abraça à uma almofada e tem as pernas encolhidas, lábios entreabertos e respiração calma.
Harry avisou a James que ele mesmo está cancelando os compromissos em sua agenda pelas próximas semanas, ao menos, por um tempo. Enquanto Louis supera a sua recaída, para dar mais atenção a ele e à sua melhora.
Harry viu um ou dois artigos dizendo sobre ele ter sido visto entrando no LA Center Hospital após o crítico de cinema Louis Tomlinson ser também visto sendo hospitalizado às pressas neste mesmo hospital. Não que Harry dê importância aos artigos e à mídia insuportável de curiosa, mas, é sempre um saco. Principalmente se envolver Louis. Harry não quer a mídia enchendo o saco de Louis e interferindo no processo de recuperação dele.

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