24. O Depoimento

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— Meu nome é Harry Styles, e eu não sou um alcoólatra. — Styles suspira pausadamente entre suas palavras. Os olhares são direcionados a ele, mas ele ainda está olhando para Louis.

Com o olhar preso nos olhos daquele que costumava desprezar e odiar, mas que aprendeu estranhamente a compreender e amar, Harry agora se sente pronto. Pronto para sair do caixote, tal como fez com sua televisãozinha.

Ele se sente pronto para permitir que Louis o enxergue além de um roteiro.

Ao continuar, ele pisca os olhos devagar por trás das lentes.

— Mas eu sou o fruto de uma criação alcoólatra.

As demais pessoas respondem um audivel "Oi, Harry Styles", seguindo com o padrão das reuniões. Harry mostra um mínimo sorriso ante a recepção, se lembrando a todo momento de como costumavam ser as reuniões onde ele ia acompanhar o seu pai durante a infância.
Louis está surpreso. Muito surpreso. Ele sequer cogitou imaginar a cena que tem diante dos olhos em algum momento. Os olhos azuis estão consideravelmente mais abertos e ele olha para Styles com atenção.

— Fui criado por mãe e pai alcoólatras, até os dezessete. Meu pai, alguém aqui já deve ter ouvido falar dele pois ele ajudou a escrever alguns livros para o AA, Benedict Styles... Morreu de um infarto quando eu tinha dezesseis anos. Provavelmente, os anos de bebedeira no alcoolismo contribuíram para a morte precoce, mas ele ficou sóbrio por quatro anos. Foram os melhores quatro anos da vida dele. Das nossas vidas. — Harry dá uma pausa para rir baixinho; ele não desvia os olhos de Louis. Ele quer que Louis saiba que, apesar dele estar ali, se sentindo corajoso e forte o suficiente para falar na presença de uma roda de pessoas sobre sua infância trágica, apesar disso, ele está falando única e especialmente com e para Louis.

Algumas pessoas assentem com a cabeça quanto à conhecerem o nome Benedict Styles; um nome de superação e inspiração.

— Minha mãe morreu um ano depois de papai, de alcoolismo. Problemas sérios no fígado. — Ele suspira. — Ela nunca aceitou ajuda, nunca olhou para si mesma e reconheceu que precisava. Quando o meu pai escolheu se ajudar, ela piorou por se sentir sozinha com seu vício. Batia nele, agredia, xingava, me ameaçava para atingi-lo. Já fui trancado do lado de fora, na chuva, simplesmente porque ela queria que ele se sentisse desesperado. Já cheguei ao ponto de ficar dias inteiros dentro do quarto, deixado lá por ela, somente para que papai me encontrasse quando chegasse do trabalho e se sentisse triste por me ver com medo e com fome. Por sorte eu sempre fui esperto e.. Eu escondia marmitinhas e comidinhas por todo o quarto, do tipo comida que não estragava. Sabe, industrializados, às vezes frutas verdes para que demorassem mais a madurar. — Ele respira fundo, sentindo um tremor tomar conta dos lábios por tempo demais. — Papai e eu já dormimos no frio, dentro da caminhonete velha que tínhamos no quintal, porque ela estava alterada demais para nos receber em casa.

Louis se sente tocado à medida que Harry segue com seu depoimento, sem desviar o olhar de seus azuis por um segundo sequer; detalhe que contribui para as pequenas lágrimas que já se formam nos cantos dos olhos do crítico. Saber, em detalhes, por algumas das piores situações contínuas pelas quais Harry passou quando criança, certamente é algo que acaba de pegar Tomlinson de surpresa; uma triste e tocante surpresa.

— Eu cuidava dele. Cuidei antes dele escolher melhorar, e cuidei depois. Eu o ajudava a vomitar, cuidava dos ferimentos, levava-o no AA duas vezes por semana, nunca deixava a garrafa de café vazia para ele nunca procurar outra coisa para beber porque eu tinha medo, eu tinha tanto medo que o café acabasse, você não faz ideia... Do tamanho do medo daquela criança. — Ele se dá um momento para respirar e fungar o nariz, que se torna avermelhado. Ele não chora; ao contrário de Louis, que permite que uma lágrima desça de um de seus olhos. Ele solta uma lufada de ar densa.

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