Conto 4

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Barba

Luciano teve que sair correndo de casa naquele dia, ele mal teve tempo de se arrumar e chegou totalmente esbaforido na creche.

- Que isso Luciano, perdeu o horário?

- Brasília do céu, o despertador não tocou, depois vi que tinha esquecido chave da sala, perdi o ônibus e...

- Meu Deus... Que isso? Nem a barba você fez...

O moreno passou a mão ao redor do queixo, realmente, ele tinha esquecido isso também, a barba escura já estava bem visível.

- Putz, bom, agora já foi.

- Tem que se organizar mais Luciano.

- Eu sei, eu sei...

Pouco depois dos professores deixarem seus pertences e abrirem a sala, as crianças começaram a chegar, pouco a pouco elas foram se instalando, pegando brinquedos e se juntando umas com as outras para iniciar alguma atividade, a não ser um dos meninos. Pernambuco parou e começou a encarar o professor, ele nunca tinha visto Luciano com barba, o pequeno nordestino achou aquilo incrível, ele mal olhou para os amigos Rio de Janeiro e Ceará antes de ir correndo e começar a procurar nas canetinhas da sala, logo ele encontrou o que procurava e foi até uma das amigas.

- Ba, Ba – Ele se aproximou correndo da baiana, o menino mostrava a canetinha.

- Que foi Buco?

- Desenha uma barba em mim?

- Que?

- Igual a do tio Lu – O moreno apontou para o professor, esse parecia alheio a agitação.

- Ta bom.

A pequena deu seu melhor, desenhou uma barba por todo o rosto do colega, tentando imitar exatamente como via no professor.

- Terminei – Ela colocou as duas mãozinhas na cintura, orgulhosa do serviço.

- Eu quero ver, eu quero ver!

Os dois começaram a procurar, tentando ver onde encontrariam um espelho.

- Matinha! – Bahia levantou a mão para a amiga, a centro-oestina estava brincando com um pequeno kit de maquiagem, ela olhou imediatamente para a baiana – Me dá o espelho!

Mato Grosso foi correndo na direção da outra, ela trazia um pequeno espelho em suas mãos.

- Aqui, pra que... Buco! U qui aconteceu com ocê?

- Eu tenho barba igual o tio Lu! – O menino colocou as duas mãos na cintura, orgulhoso de como estava.

- Olha aqui – Bahia levou o espelho até próximo do rosto do menino.

Pernambuco não conseguiu disfarçar o olhar de decepção, não ficou como ele havia imaginado.

- Não gostou? – A nordestina era muito atenta a todos os detalhes, ela também ficou triste pela decepção do garoto.

- Faz assim – Mato Grosso se aproximou, a menina usou a barra da blusa para limpar o rosto do amigo, ela tirou quase tudo que Bahia havia desenhado, deixando apenas um bigode – Vê si ocê gosto.

Dessa vez quando a baiana levantou o espelho o garoto sorriu de orelha a orelha, ele havia amado como estava.

- O que ta acontecendo aqui? – Rio de Janeiro, que estava sentindo a falta do amigo pernambucano, logo se aproximou deles – Que isso, buco?

- A Bahia fez uma barba em mim, agora to igual o tio Lu.

- Parece mais um bigode – O carioca tombou a cabeça pro lado.

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