Capítulo 04

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— Capítulo Quatro —
Vendido

Mais de um mês se passou desde que os capitães do mato sequestraram Tauane de sua tribo. Neste período, ela passou por muitas situações traumáticas. A primeira foi a horrível cena em que as ocas foram incendiadas, as pessoas assassinadas ou sequestradas, sua tribo destruída. Tauane nem mesmo sabia se sua mãe, Janaina, estava viva. Depois, Tauane foi lançada dentro do porão de um navio, onde foi mantida acorrentada e mal alimentada. Tauane, ao ser colocada para trabalhar no convés, conheceu Fayola, que se tornou sua grande companheira e amiga de cárcere. Então, a frota foi atacada por sereias que eram lideradas por Iara, logo em seguida. Fayola quase foi jogada ao mar, que seria o lugar do seu descanso final, junto de outras pessoas, se não fosse por Tauane, que a salvou. Uma semana depois, Fayola viu sua querida avó ser lançada aos peixes, sem ter podido fazer nada para salvá-la, e recebendo chicotadas logo em seguida.

Agora, ambas as moças estavam lado a lado, enfileiradas juntas de outros escravos. Todos eles estavam em silêncio, de cabeça baixa em sinal de submissão, e aguardando em pé diante de um homem muito bem trajado, que conversava avidamente com a capitã que salvou a frota do ataque das sereias.

Atualmente, toda a frota encontra-se no porto de Portugal, onde haviam chegado na semana passada.

Tauane, que não pode controlar sua curiosidade, ergueu lentamente a cabeça e, vendo que ninguém a encarava, começou a observar atentamente o convidado da capitã.

O homem, por sua vez, não era velho, mas também não possuía traços jovens. Deveria ter uns trinta e oito anos. Ele vestia ótimas roupas, melhores que as que qualquer pessoa já tenha usado diante de Tauane. Ele também tinha um chapéu de cartola na cabeça e, ao caminhar, apoiava-se levemente numa bengala de madeira maciça, adornada de prata.

Antes que Tauane fosse flagrada por alguém, e talvez até punida por isto, ela abaixou a cabeça e parou de encarar o homem.

Bom, como vosmecê, Sinhô Gonçalves, pediu-me, estão aqui reunidos os melhores que trouxe em minha frota. — Disse a capitã, apontando para os escravos enfileirados ali.

O homem, de nome Afonso Gonçalves, que agora adotará uma expressão séria, voltou-se para os escravos. Ele andou até uma jovem moça que tinha numa ponta, deu- lhe uma olhadela de cima a baixo, não fez comentários, e seguiu em direção para quem estava ao lado dela. Esse mesmo processo se repetiu muitas vezes até que, consequentemente, Afonso ficou à frente de Tauane. Ele ficou um longo tempo olhando para o rosto dela, mas cujo cabelo cobria os olhos dela. Ao mesmo tempo, Tauane encarava os sapatos de couro. Então, Afonso levou a mão ao queixo dela, fazendo-a erguer a cabeça. Assim que seus olhos se encontraram, Tauane pode ver uma expressão surpresa dominar sua face por um instante. Ambos ficaram se encarando por um longo tempo.

Capitão do mato, velho conhecido meu, pegou essa daí. — A capitã, percebendo o interesse de Afonso, se manifestou. — Ela é nativa da colônia, todavia, és dócil e delicada. Embora não fale tão bem nossa língua, aprendeste rápido e és inteligente.

Finalmente, Afonso falou, num português tão perfeito, que fez o da capitã parecer medíocre:

Levarei-a...

Então, tirou a mão do queixo de Tauane, que voltou a abaixar a cabeça sob o olhar afiado da capitã. Afonso parou diante de Fayola, mas não fitou o rosto dela por tanto tempo quanto o de Tauane, pois estava mais interessado em suas mãos, que estavam feridas e calejadas de tanto trabalhar nas minas e no campo.

Esta crioula foi-me vendida por pechincha. Trabalhava numa das minas da colônia, coletando ouro e diamantes. Teu antigo sinhô disse-me que, às vezes, colocava-a para realizar trabalhos no campo, pois ela não serve para tarefas de dentro de casa, és muito bruta com os porcelanatos.

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2023 ⏰

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