Capítulo 9: Próxima rodada

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"Emoções não expressadas jamais morrem. Elas são enterradas vivas e voltarão mais tarde, mais feias".

Sigmund Freud

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24 de janeiro, 05:11h

- Onde você estava na hora do crime?

- Qual foi a hora do crime?

O investigador suspira.

- Onde você estava por volta das uma, duas horas da manhã?

- Estava sentada no bar, com Guilherme. - diz Jade.

- Você não viu nenhum movimento estranho durante a festa?

- Não. Eu mal conhecia a aniversariante. Cheguei, fui direto para o bar, e fiquei até o final.

- Se não conhecia a aniversariante, por que estava na festa?

- Ela convidou todos do acampamento.

- Por que?

- Não é pra mim que você tem que perguntar meu bem.

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Foram poucas vezes na minha vida que eu me entreguei de fato pra algumas pessoas. Não do tipo, fisicamente. Entreguei minha alma. Permiti que conhecessem a minha pessoa interior, o verdadeiro eu, e não aquele que viam nas suas telas dos celulares, ou suas versões criadas sobre mim.
Mesmo sempre falando com todo mundo, ou postando tudo nas redes sociais, poucas pessoas sabem o que realmente se passa comigo. Talvez ninguém saiba. Acho que, por tanto tempo, eu tentei fazer com que os outros gostassem de mim, criando uma personalidade, um personagem sempre com a alto estima alta, sempre bem, sempre tratando bem as pessoas, sempre rindo, sempre contando as melhores piadas e histórias, sempre "desfilando", sempre arrumado, sempre com os melhores looks... que eu me acostumei com a figura criada, mergulhei nessa pessoa, e "virei" ela, não porque eu gostava dela, mas porque os outros pareciam gostar. Hoje eu não sei se essa pessoa realmente sou eu.

Foram poucas pessoas que me conheceram. Ou pelo menos, conheceram por um momento um pouco do verdadeiro Lucas. Não sei onde ele tá aqui dentro, mas eu sei que ele existe.

Em menos de 2 horas, um desconhecido conheceu um pedaço desse Lucas. E eu nem sei se isso é bom ou ruim. E se ele gostar desse Lucas, e esse Lucas não existir? O que ele acharia da personalidade que eu criei?

1 de janeiro de 2023

O toque alto do celular me acorda, me lembrando de que hoje era o primeiro dia do ano. Atendo. A voz aguda, com tom de alegria me tira um pequeno sorriso.

- Bom dia margarida! Meu Deus que cara é essa? Que bebida fez isso com você? - bendita hora pra fazer uma chamada de vídeo.

- Bom dia mãe. Feliz ano novo. - respondo.

- Feliz ano novo meu amor. Como você tá? Como estão as coisas? Não liga mais pra mim.

- Tô bem. Ando muito ocupado ultimamente. - levanto, e vou em direção ao banheiro. - Faz tempo que a gente não se fala.

- Pois é. Tá cheio de segredos. Não me conta mais as novidades, não falou que foi pro Rio, não fala mais dos bofes.

- Mãaae.

- O que foi gente? Não posso mais saber como anda a vida do meu filho. - às vezes eu esqueço que dei abertura demais pra minha mãe no quesito "fofocas", inclusive quando se trata de meninos, mas eu sempre amei dividir tudo com ela. Realmente fazia tempo que não nos falávamos, e poder finalmente ouvir sua risada no início do ano me deixava feliz. Depois de tudo que passamos, é bom ver ela assim. - Como está a viagem? Gostando do Rio? Como você vai pra "Cidade Maravilhosa" e não me conta nada?

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2023 ⏰

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