O Sol brilhava mais intenso naquela manhã tão especial. Assim que saiu do horizonte seus raios atingiram o céu daquele pedaço de paraíso com as cores mais vibrantes que a meses não aconteciam. Era sim uma manhã muito especial e aquele pescador que acordava todos os dias ainda na escuridão da noite sabia a razão, seu filho estava o ajudando a recolher aqueles peixes pela última vez.
Os fios queimados e grisalhos foram retirados do rosto cheio de marcas da vida. De uma boa e longa vida. E seus olhos emocionados repousaram nas costas nuas do único filho. Aquelas costas cresceram, tinham ganhado músculos fortes, as mãos estavam mais delicadas sem os calos do trabalho duro, sua mente agora era outra, aquele rapazinho aprendeu muitas coisas e hoje era um homem.
— Diga que isso em seu rosto são pingos d'água dos peixes e não lágrimas. — Winwin apoiou a mão na cintura e apresentou aquele sorriso mais iluminado que a estrela mais forte das noites quentes daquela praia.
— São lágrimas sim meu filho. — o velho pescador aprumou a rede no encaixe do barco e ficou de frente ao outro. — Um homem não pode ter medo de chorar. E eu choro, porque tô feliz dimais em te ver assim crescido. Alongado igual um coqueiro, forte e sabido.
A tosse interrompeu a fala bonita daquele homem, e com ela o desfazer do sorriso de Winwin que lembrou o que ela significava, o quanto ela tornou-se um incômodo nos últimos anos e o porquê daquele dia ser especial ao mesmo tempo decisivo.
— Não deveria ter deixado você me persuadir a vir pescar com o senhor. - O copo com água gelada prontamente estava sendo dado para o pescador.
— Você vai embora hoje de tarde e eu não sei quando esses olhos que enxergam pouco vai poder ver você dinovo. - A tosse chata que vinha arranhando a garganta e o juízo daqueles dois voltou a aparecer mais intensa contrariando aquela despedida necessária. - Se é que vou ver você dinovo.
— Não repita uma besteira dessas, pai. — Winwin engoliu em seco ajudando seu velho a sentar-se ao seu lado na beira do barco enquanto refrescavam os pés na água do mar.
Aquela manhã estava silenciosa, só o vento e as ondas cantavam. Os dois olharam o corte da paisagem que dividia o céu do mar. O peito do filho do pescador começou a dar um nó, um nó daqueles de marinheiro que ninguém consegue desatar, e quando o rapaz percebeu transbordavam mares dos seus olhos. Queria olhar bastante para aquela pintura de paraíso sem piscar, porque talvez demoraria muito para voltar a respirar aquela visão outra vez. O filho e o pescador sabiam disso, e por isso doía aquela vista ser tão bela, porque tem coisas na vida que são tão lindas e perfeitas que chega a ser insuportável contemplar e vira dor.
— Quando eu voltar é pra você estar me esperando, entendeu? - Winwin perguntou, mas sua fala era um pedido de promessa. — Quero chegar e você estar sentado na cadeira de balanço da janela com seu fuminho. Combinado pai?
Os soluços do antigo ajudante de pesca preencheram a brisa e retrocedendo a sua figura primária infantil afundou o rosto na curva do pescoço de seu pai. Nem o velho pescador se conteve, afinal homem não deve ter medo de chorar.
— Eu nunca quebro promessa. — A mão enrugada segurou a mão lisa de Winwin. - Se cuida na cidade, o povo de lá acha que a gente é bicho, acha que a gente é bobo, mas a gente é mais esperto do que pensam. Não deixa ninguém te fazer de bobo e nem desmerecer de você.
Winwin ouvia as palavras do pai atentamente, era daquela boca que saía toda a sabedoria de sua vida. Nem todos os livros que leu depois de sua alfabetização, nem todos os aprendizados que recebeu dos professores que o ensinaram, nem as lições de casa e nem as palestras conseguiriam ser tão sábias como as palavras desordenadas de seu velho.
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O surfista e o filho do pescador
Fiksi PenggemarEra uma praia de paraíso, dessas de mar sempre verde e azul-turquesa. Havia Winwin, filho do melhor pescador da aldeia com sua tábua e Lucas, um cara forte, de óculos escuros, que parecia mandar na turma. _________________________________________ Se...