Capítulo 02 - Contrato

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Todos os meus dias são iguais agora. Acordo, faço uma corrida matinal, volto pra casa e me arrumo para o trabalho. Minhas refeições são todas na lanchonete e eu volto pra casa no final do expediente, cansada.

Já fazem cinco dias desde que confrontei aquele cliente falso, e desde então nunca mais vi o carro preto ou outro cliente estranho durante o expediente.

Comecei a achar que eu realmente tinha enlouquecido. E se ele fosse só mais um cliente comum que eu espantei? Ele pode muito bem denunciar a lanchonete que tem uma funcionária louca.

Estou limpando o chão da parte de dentro da lanchonete quando um carro esportivo para na frente na lanchonete. De dentro sai uma mulher, por volta dos 40 anos, vestida com seu terninho bege, saltos pretos e o cabelo amarrado em um coque perfeito. Muito formal para um bairro de classe média baixa.

Ela olha para a fachada da lanchonete e retira seus óculos escuros. A mulher fala com a Daiane, a funcionária que cuida do ambiente externo e estava lavando o chão. Não consigo decifrar o que as duas falam, mas a Daiane termina de limpar um canto com uma mesa e abaixa uma cadeira que estava na mesa para a mulher sentar.

Nesse momento, ninguém mais trabalha na lanchonete curiosos e chocados com a cliente fora de horário.

Daiane entra na lanchonete, limpando as mãos no avental em sua cintura. Até a dona Ivanilde formou um círculo ao redor da garota para saber o que estava acontecendo.

- O que aconteceu Daiane? Por que aquela cliente sentou se ainda não estamos abertos? - a nossa chefe pergunta.

- Ela pediu uma garrafa de água e um copo e quer falar com a Jasmine.

De repente, todos prenderam a respiração e olharam para mim, confusos. Mas eu com certeza eu sou a que está mais confusa.

Peguei uma bandeja e a garrafa de água com o copo de plástico e fui até onde a moça estava sentada.

- Bom dia senhora. Aqui está a sua água. Como posso te ajudar? - Eu coloco a garrafa e o copo na mesa, na frente da mulher.

Sua postura é tão reta que ela não encosta na cadeira. Seu olhar é neutro, não sei decifrar o que está pensando ou sentindo. Seu óculos de sol está pousado na mesa e ela me avalia dos pés à cabeça.

- Bom dia Jasmine, meu nome é Íris. - Ela se levanta e estende a mão pra mim. - Sente-se Jasmine. Eu falei com aquela moça que queria conversar com você. - Ela aponta para a outra cadeira da mesa.

Ainda confusa e sem palavras para retrucar, eu puxo a cadeira e me sento à mesa. Aliso o avental do meu uniforme, nervosa. O olhar daquela mulher me deixava ansiosa. Não vi necessidade de me apresentar já que ela já sabia meu nome.

- O motivo do meu contato com você é por causa do que você disse ao meu funcionário, uma semana atrás. - Ela coloca uma pasta catálogo preta na mesa.

Minhas sobrancelhas se unem tentando entender do que ela estava falando. Eu nunca a tinha visto na vida, como posso ter falado com um funcionário dela? Ela iria me processar? Eu poderia ser presa? O que seria das minhas dívidas se eu fosse presa?

Íris não me esperou responder e abriu a pasta em alguma página.

"Você e sua equipe já aprenderam o suficiente sobre a minha rotina e os lugares que eu frequento?" - Ela dá uma pausa e volta a falar com sua voz monótona. - "Avisa para o seu chefe que vocês não vão ganhar nada me sequestrando. Então sugiro que vocês procurem outro trouxa para extorquir dinheiro."

Uma luz se acende na minha cabeça e começo a ligar os pontos. O carro preto está estacionado na frente da lanchonete. Têm um cara de terno no volante e mais dois do lado de fora, na entrada do estabelecimento. Um deles eu reconheci como o cliente do outro dia.

Ao Cair da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora