- Tina, deste lado.
Eu sorri quando ela se virou para a minha voz. Fiz um sinal para a Sheyla se mexer. Estávamos jogando o jogo do cego. Valentina estava vendada no meio da sala, tentando adivinhar onde estávamos para nos pegar.
- Batam palmas. - Tine disse, quando ficamos muito quietos.
Pedro aplaudiu de onde estava e Valentina foi em direção ao som que ouviu.
- Senhorita Jasmine. - Ouvi a voz de repreensão da Íris e não pude evitar o revirar de olhos.
- Sim? Em que posso ajudar? - Tentei falar o mais calma e profissionalmente possível.
- O que vocês estão fazendo? - Me questionou séria, mas certeza que estava me repreendendo por dentro.
Eu gostava quando ela vinha somente aos finais de semana, porém agora que Teodoro resolveu estender a sua presença na casa por dez dias, ela estava todos os dias por aqui avaliando, comentando e reclamando de tudo o que fazíamos.
Mesmo em mês de férias Valentina sempre tinha alguma atividade para fazer.
- Estamos jogando um jogo Íris. Valentina terminou suas atividades pela manhã e está livre agora a tarde. - Antes que ela pudesse me responder, Tina gritou, agarrada às minhas pernas.
- Te achei!
Íris foi embora sem dizer nada, mas o barulho de seus saltos ecoava pelo corredor de forma alta e apressada. Tina removeu a venda dos olhos e entrou para a Sheyla que iria colocar em mim.
Nessas quase duas semanas em que Pedro e Sheyla estão nos acompanhando nas atividades da Valentina, nos tornamos bons amigos. Percebia, mesmo que pouco, que eles estavam mais à vontade ao nosso lado, porém ainda mantendo o profissionalismo.
- Está pronta? - Sheyla me perguntou antes de amarrar a venda.
- Sim!
Ela me girou três vezes e depois se afastou. Demorei um pouco para voltar ao equilíbrio e ouvi Tina gritar em algum canto da sala, seguida de uma risadinha abafada, como se ela tivesse tapado a boca.
Era difícil saber em que canto da sala eu estava, mas ouvi um aplauso e virei para a direita de onde achei que o som veio. Mas aí as palmas mudaram para a esquerda e depois para a direita de novo. Eu conseguia ouvir as risadinhas da Tina.
Esse jogo me deixava nervosa, eu não gostava da sensação de não saber o que estava acontecendo.
De repente a sala ficou em silêncio.
- Valentina, você não vai bater palma? Eu não posso dar um passo se você não bater palma.
Fiquei onde estava e esperei eles fazerem algum barulho, mas eles estavam muito quietos para o meu gosto.
- Pedro, Sheyla, façam algum som ou batam palma.
Eu estava prestes a tirar a venda quando ouvi uma palma vindo da minha frente, dei um passo e outro até esbarrar em alguém que imaginei ser Pedro. Seus ombros eram largos e nunca tinha notado como ele era alto, talvez porque nunca estive perto o suficiente.
- Te peguei Pedro - eu disse e segurei nos braços do Pedro, para impedir ele de sair.
Fiquei tensa quando ele me puxou para mais perto dele pela cintura fazendo meus braços encolherem entre o nosso corpo. Percebi que ele não estava com a habitual camiseta social e tirei o pano para ver se era mesmo o Pedro.
Qual não foi a minha surpresa ao encontrar um par de olhos verdes me encarando. Minhas bochechas ficaram imediatamente vermelhas depois que percebi a minha situação.
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Ao Cair da Noite
RomansaJasmine é uma jovem com muitos sonhos mas sem oportunidade. Parece que nada está ao seu favor, principalmente o mercado de trabalho. Quando ela entra para a estatística dos desempregados ela se sente no fundo do poço. Voltar à casa dos pais está for...