No auge do meu sono da beleza, ouço meu telefone tocar na cadeira que uso de apoio ao lado da minha cama. E sim, sou 1% da população que deixa o telefone fora do silencioso, pois eu tenho uma grande facilidade de perder o celular. E qualquer outra coisa também.
Mas eu juro que eu queria muito que ele estivesse no silencioso agora.
O telefone para de tocar, mas não por muito tempo. Olho no relógio do celular e vejo que são 7h45 da manhã, quarta-feira. Quem será a essa hora?
- Alô? - Nem tento disfarçar minha voz de sono ao atender o telefone. A pessoa tem que ter bom senso.
- Oi Jas - Ouço uma voz masculina e reconheço como sendo do Alex, meu locador. - Espero que tenha acordado.
- E acordou. - Minha voz soa raivosa.
- Não vou pedir desculpa. Você não está merecendo. Sei que temos uma bela amizade, mas amigos são amigos e negócios são a parte. Quando você vai acertar os alugueis?
- Bom dia pra você também raio de sol. - Alex bufa do outro lado da linha. - Poxa Alex, você sabe que a minha situação não está nada fácil. Perdi o emprego recentemente e ainda não consegui outro. Meu seguro e as economias já foram todas para a dívida da faculdade. Eu estou completamente zerada. - Eu disse tentando soar triste e chorosa.
Alex está realmente sendo paciente comigo. A sete meses atrás, eu estava trabalhando num restaurante mediano como auxiliar do chefe e com um ótimo salário. Mas o idiota do meu gerente me ofereceu uma vaga maior se eu me deitasse com ele. Fala sério, ele acha que estamos no século XIX?
Eu prontamente me recusei a fazer isso e o lembrei que ele tem esposa e filhas, que frequentavam o restaurante. Ele ameaçou me demitir se eu contasse para alguém, então antes que ele pudesse fazer qualquer coisa fui ao RH da empresa, prestei uma queixa e entreguei minha demissão.
Para evitar um escândalo maior, o dono do restaurante não processou minha demissão como justa causa e eu pude receber alguns meses de seguro desemprego. Porém, como o tal gerente é muito conhecido no ambiente gastronômico, ele se certificou de que eu não conseguisse emprego em lugar nenhum.
- Já esperei três meses, Jas. Não consigo esperar mais quando se trata de dinheiro. Eu entendo a sua situação - ele suspirou, parecendo triste em continuar a frase. - Vou te dar um mês. É o meu prazo final. Se você não pagar os alugueis atrasados vou ter que pedir que se retire do apartamento.
Eu nem me importei quando ele simplesmente desligou. Apenas gemi frustrada enquanto olhava para o meu teto. Meu apartamento é do tipo que está classificado como apertamento de tão pequeno que é. Somente dois cômodos e um banheiro que mal cabe o vaso sanitário.
Levantei da cama e saí do meu quarto minúsculo indo até a cozinha, no caminho passei pela minha mesa na sala e encarei meu pior pesadelo. Em cima dela estavam vários boletos atrasados, empréstimo estudantil, financiamento do meu carro, internet, aviso de corte da água e da luz.
Já era difícil pagar todas elas com o emprego que eu tinha, então sem ele ficou impossível. O que é muito frustrante. Não vou ser pessimista e nem preguiçosa em dizer que estou sem trabalhar todo esse tempo.
A uns dois dias eu consegui um emprego numa lanchonete do bairro como atendente. Foi o único lugar em que aquele filho da puta não conseguiu colocar a sua influência.
Por sorte meu turno começa só às onze horas, mas essa ligação do Alex me tirou o sono. A minha geladeira precisava ser reabastecida com urgência. Ultimamente a única coisa que eu tenho comido é miojo, pois é só o que meu dinheiro consegue sustentar.
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Ao Cair da Noite
RomanceJasmine é uma jovem com muitos sonhos mas sem oportunidade. Parece que nada está ao seu favor, principalmente o mercado de trabalho. Quando ela entra para a estatística dos desempregados ela se sente no fundo do poço. Voltar à casa dos pais está for...