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Como se todo aquele acontecimento não tivesse sido o suficiente, minha vida não parou depois daquela noite.

A imprensa não saia da nossa cola para saber tudo sobre o ocorrido, todos queriam saber como o policial que futuramente veio a se tornar o Delegado, conseguiu manipular seu parceiro de trabalho, sequestrar seu noivo e fingir sua morte durante anos. Noivo esse que não parava de receber convite para contar sua história. A imprensa era uma droga.
Liam iria adorar a fama que seu nome ganhou depois da sua morte.

Naquela noite, onde minha vida não pareceu ser real, onde tudo seguiu um rumo que eu jamais imaginei, um Louis morreu, me desfiz e refiz mais uma vez. Aquele dia se tornou um pesadelo, uma memoria a qual eu não queria mais ter acesso, uma vida que não era a minha.

Me encarreguei de entregar Zayn a sua família, ainda me sentindo responsável pelo jovem, eu precisava daquele momento, agora mais do que nunca. Poder presenciar o momento em que a jovem loira pulou em seu colo, o abraçando como se ele fosse sua própria vida, me fez sorrir após aquele caos.
Me senti de certa forma realizado com a cena, saber que eu tinha participado do seu resgate, que tinha salvo sua vida, que por nenhum momento sequer eu desisti de traze-lo de volta e que eu realmente havia conseguido, me mostrou que mesmo depois de tudo, depois de tanta dor, algo bom eu pude fazer.

Niall foi prestigiado dias depois em uma cerimônia gigante em Londres, após ter conseguido imobilizar e prender o comparsa identificado como o abusador de diversos adolescestes da área, e também ter sido ele a matar o cabeça por trás de todo aquele plano, seu nome rodou pelo país e mundialmente. Não demorou para que começasse a ser cogitado como próximo Delegado chefe da central de Londres, se tornando futuramente um dos melhores que já alcançou o tão prestigiado cargo.

Harry saiu do seu cativeiro direto para o hospital, passando por uma bateria de exames tanto físicos como psicológicos. Estava com anemia e desidratado por conta da péssima alimentação e das noites mal dormidas, trabalhando como criado diariamente para Bill que vez ou outra despejavas palavras hostis para cima dele. Mas o físico não era nada perto do estrago psicológico feito, visível assim que olhando em seus olhos opacos e sem aquele brilho por qual eu me apaixonei. Foram crises de ansiedade, pânico e paranoia que precisaram ser semanalmente tratadas com consultas a psicóloga e os remédios controlados. Seu sofrimento ainda não havia acabado, ele estava livre, mas ainda preso em sua mente.

Não foi só Harry quem precisou de sessão semanais, não evitei os anos de tratamento que precisei após tudo, foi a partir deles que descobri ter engatilhado transtornos psicológicos que até então eu não sabia que existiam. Tratando não só eles, como aquela raiva excessiva que sentia desde que me entendia por gente, foi então que eu descobri sua origem.
No final das contas, tudo vivenciado em nossa infância, reflete na nossa vida adulta.

Nosso tratamento continuou, mas em outra cidade.

Depois de um ano, decidimos que estava na hora de nos mudarmos para Doncaster, uma cidade perdida na grande Inglaterra, que mesmo pequena, nos abraçou e nos acolheu em seu lar tão vasto de beleza. Me despedir de Niall foi o mais doloroso, senti como se deixasse uma parte de mim para trás, um irmão. Foi triste, mas necessário.
Harry voltou a estudar depois de um tempo em tratamento, terminando sua graduação em licenciatura e podendo finalmente lecionar na cidade trabalhando como professor local.

Eu por outro lado, larguei a vida de combater o crime e decidi me tornar motorista particular de jovens, mulheres, crianças e idosos, os levando e buscando em segurança em seus destinos. No fundo, cuidar das pessoas sempre foi meu maior desejo, entendi por fim que não precisava combater diretamente o crime para ajuda-las. Existem tantos atos pequenos em nossos dias que salvam desde um amigo, a um desconhecido e não fazemos a mínima ideia disso.

Levou alguns anos para que nossa vida e saúde se estabilizassem, pra que estivéssemos bem o suficiente para poder continuar com nossos sonhos interrompidos precocemente e assim, incluir mais um membro em nossa família. A adoção de Louise foi o ponto que nos faltava para que seguíssemos em frente, deixando todo passado de trauma para trás.

Eu deixei, deixei toda magoa que tive do meu amigo, todo medo e pânico, tudo que pudesse me fazer parar de viver, eu deixei para trás. Permanecia por conta própria com minha desconfiança, aumentando meus cuidados ao decidir quem entraria na minha e na vida da minha família, não deixaria que mais ninguém tocasse naqueles que eu amava. Se Liam fez algo de bom, foi me fazer ser mais esperto com aqueles quem eu penso confiar.

Nunca iremos saber quando há um psicopata sentado ao nosso lado, nunca iremos saber quando estaremos ao lado de um assassino. Pensaremos "como cheguei aqui? Como deixei isso acontecer?" mas nada na verdade importa, quando o final chegar e se tivermos a sorte de escapar, nós devemos sempre nos lembrar de que nada é impossível, que aquele o qual você mais confia, talvez seja o que você mais deve temer.

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