𝑷𝒓𝒐́𝒍𝒐𝒈𝒐

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Dorset, Condado Britânico, 17 de agosto de 1977.

O verão fazia efeito na região do canal, fazendo com que a jovem usasse um simples vestido de mangas curtas e largas, feito por um tecido preto com camadas de tule decoradas por belas rosas. Os longos e volumosos cachos castanhos eram presos pelas laterais e frente, sobrando apenas alguns cachos.

A pele escura da jovem era gracejada pelo toque do Sol, ela dava passos vagarosos pelo jardim da Mansão, a mão direita segurava uma bela rosa negra entrelaçada e uma dama da noite.

— Achei que estaria na biblioteca — foi o que disse, os olhos avelã observando a figura de seu irmão sentado em um dos bancos.

Sebastian sorriu levemente, fechando o livro antigo e o deixando de lado. O garoto cruzou os braços enquanto observava a irmã mais nova. Ele usava uma camisa branca de manga longa, por cima havia um colete preto no mesmo tom das calças. O tom de pele era quase o mesmo da garota, e os cachos eram muito mais crespos que os dela.

— Achei que o jardim seria mais proveitoso para a leitura.—respondeu, acenando para a mais nova

— Está um dia bonito, Louise.

Louise sorriu, andando até o irmão e sentando ao lado dele. A garota cruzou as pernas, balançando o pé calçado por um sapato pontudo.

— As férias estão voando.

— A semana está voando.

Louise suspirou e assentiu em concordância ao dizer:

— Ah sim...foi bom ter a política ao nosso lado, quase três semanas sem nossos pais em casa. — o tom era de pesar, porque era de fato muito triste perder a casa silenciosa e amena.

— Viva a conferência do Ministério e a Guerra! — Sebastian comemorou falsamente.

Essa guerra era a razão da infelicidade dos irmãos Slytherin.

Louise respirou fundo, tombando a cabeça enquanto observava o jardim. A garota olhou para a cúpula de vidro a bons metros de distância.

— Ela está lá, não é?— perguntou.

— Obviamente, Daphne tem passado o verão inteiro lá.

Louise riu brevemente. De fato, a Slytherin mais nova havia passado o verão inteiro na estufa, fazendo sabe se lá o que. Era uma paixão inexplicável.

— Bem, vamos lá. O almoço está prestes a ser servido.

Os dois irmãos andaram lado a lado, com os braços entrelaçados enquanto caminhavam até a estufa. Mesmo de longe, ela teve a visão da sombra de Daphne andando de um lado para o outro na estufa.

As portas da estufa estavam abertas, e logo quando entraram, Louise teve a visão de Daphne Slytherin, uma garota alta de cachos pequenos de comprimento longo extremamente vermelhos, a pele tão escura quanto a sua, o típico tom chocolate.

A jovem usava calças aveludadas num corte longo, e uma camiseta de mangas bufante num tom magenta.

Louise franziu o cenho, parando de andar. Estava a uma boa distância da irmã, esta que encontrava-se apoiada numa mesa enquanto escrevia num caderno antigo.

— Você está...— palavras faltaram para a irmã mais velha.

—  Desgrenhada? Suada? Agitada? Existem muitos sinônimos para o meu estado.— Daphne lançou as palavras, os olhos castanhos ainda cravados nas folhas velhas.

— Uma bagunça. Mas uma bagunça bonita.—Tentou melhorar a situação, embora sua irmã mais nova estivesse de fato uma verdadeira bagunça.

— Ela já esteve mais bonita...

Claro, Sebastian sentiu a necessidade de abrir a boca e falar algo sem tato. Era incrível como lhe faltava filtro.
Louise respirou fundo, olhou para  mais velho e negou com a cabeça. Daphne -que até então escrevia- levantou a cabeça e revirou os olhos em direção ao irmão.

— Você é terrível — As irmãs disseram em uníssono.

A resposta do garoto veio por meio de um balançar de ombros e um sorriso presunçoso. Sebastian andou pela estufa, as orbes castanhas vagavam pelas dezenas de plantas, franzindo os olhos para as papoulas que continham pequenos cortes e algumas seringas largadas.

Tomou a seringa e a levantou em direção a irmã, balançando o item numa pergunta silenciosa.

— Estou tentando extrair ópio.— Explicou simplista.

Louise arregalou os olhos e balançou a cabeça.

Durante todo o verão, Daphne havia passado os dias na estufa, perambulando por entre as plantas e dezenas de pergaminhos que escreveu. Era fato que a mais nova tinha uma paixão inexplicável por Herbologia.

E bem…Louise estaria sujeita a criticar a paixão da irmã por plantas, se não fosse apaixonada pela arte dos encantamentos e da transfiguração. A garota adorava ser a favorita de Minerva Mcgonagall.

— Certo…você passou as férias aqui no meio dessas plantas — afirmou, aproximando-se da cacheada.

— Tal como você na biblioteca e Sebastian na sala de poções — a mais nova retrucou, empilhando as folhas.

A Slytherin levantou os braços, dando-se como vencida. Os olhos foram até Sebastian que deu de ombros e girou o indicador na lateral da cabeça.

Daphne grunhiu, comentando que não era doida e que apenas queria aproveitar o tempo livre do terror familiar.

Alguns cachos ruivos assumiram tons de branco e até mesmo prata. Ah, os efeitos de ser uma metamorfomaga.

Claro, Louise sequer precisava olhar para os cachos de sua irmã, bastava sentir-lhe os sentimentos.

Atenção leitor. O narrador pode ter deixado de fora alguns pequenos detalhes.

Primeiro, nascida em 12 de Junho de 1962, Daphne Slytherin foi prontamente identificada com metamorfomagia, uma habilidade rara entre os bruxos que se trata da transformação de diferentes ou várias partes do corpo de seu portador.

Segundo, nascida em 31 de Outubro de 1961, Louise Slytherin é dotada de uma semi-legilimência- a habilidade de ler pensamentos- com isso, era fácil para que a garota fosse um tipo de empata e até mesmo pudesse ouvir alguns pensamentos.

Claro, isso foi a muito tempo atrás.

Para a tristeza de Sebastian Slytherin, o garoto não nasceu com nenhuma habilidade mágica. Apenas tinha certos sonhos estranhos.

De qualquer modo, o fato dos três irmãos serem ofidioglotas, tanto na fala quanto para o entendimento, era o suficiente para torná-los desejáveis.

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