Gudher Mart

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 Acima o céu estava cinzento, enquanto a chusma abaixo se entretinha com seus afazeres triviais, ignorando o perigo tremendo que se aproximava dela. Logo a nuvem de poeira que estava suspensa nos arredores da vila avançaria pelas ruas como se tivesse vida própria. Só então, deram-se conta do que estava por acontecer.

Um silêncio opressor se seguiu, o vozerio se calou e o agito dos vendedores na praça principal de Tarus foi bruscamente interrompido pelo súbito espanto.

Uma grande tropa de imperiais os cercou rapidamente. E avançando de forma ordenada contra a multidão, um corredor se abriu no meio dos aldeãos. Os soldados que estavam a pé e vinham à frente do demais trataram logo de derrubar as bancas de frutas para dar passagem aos cavalos e diligências que os seguiam.

Todos sabiam quem eram eles. Todos sabiam o que queriam aqueles homens. Mesmo assim, o medo e o espanto eram suficientes para paralisá-los.

‒ Eu sou o general imperial Gudher Mart! ‒ Não havia necessidade de que aquele homem se apresentasse.

Sua armadura negra com detalhes dourados era imponente e os ralos cabelos brancos do homem contradiziam o vigor de juventude que ele aparentava ter. E de fato, não havia ali ninguém que nunca houvesse ouvido falar dele: o famoso Espadachim Negro.

‒ Não outra coisa quero de vocês, senão que mera colaboração ‒ continuou Gudher, ‒ conforme o juramento que seus ancestrais prestaram à casa imperial de Aldoren .

Obviamente que o juramento citado pelo general não era algo voluntário, como também a colaboração que ele exigia daqueles homens.

‒ Estamos em missão de busca ao criminoso conhecido como Asan Gorid, chamado também de Hopper Aylen ao sul, Emer Foird entre os homens do mar, Assassino dos Dez Generais, Andarilho da Floresta de Gorth, Grande Desertor, último dos Sete Etéreos, entre outras alcunhas vergonhosas que bem se ajustam ao bastardo que ele é. ‒ O vermelho da ira nos olhos do general ressaltou o brilho de suas íris azuis cinzentas. ‒ Meus batedores afirmaram que esse verme se esconde por aqui... Por isso, caso vocês saibam alguma coisa sobre ele, é melhor ir dizendo logo!

‒ N-nós n-nada podemos dizer sobre tal homem, senhor general. D-desculpe-nos... ‒ No entanto, nem bem se elevaram aquelas palavras, a voz tartamudeante do conselheiro dos tarusianos cessou de vez.

A longa espada negra do general passou por seu pescoço decepando-o com um único e preciso golpe. Ainda com perplexidade no olhar, a cabeça do homem voou pelos ares, caindo em meio aos melões espalhados no chão pelos soldados do império.

Gritos e choro e desespero se espalharam entre os tarusianos.

‒ Acho que não soube me expressar agora pouco! ‒ Disse Gudher, com ar displicente, limpando a lâmina de sua espada na borda do manto, antes de devolvê-la a bainha. ‒ Eu quis dizer que todos morrerão se não me disserem onde está o maldito Asan!

Em pânico, a turba se encolheu como a querer fugir da presença daquele monstro impiedoso, mas os soldados ao redor os impediram, aumentando seu desespero.

E somente alguns garotos mirrados, tão insignificantes quanto camundongos, puderam escapar do cerco. Para o restante dos tarusianos, no entanto, restava apenas a vaga esperança de que Asan Gorid surgisse para salvá-los.

Memórias de AldorenOnde histórias criam vida. Descubra agora