Aurim Emerald II

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 Tendo Asan Gorid, ou melhor, Seon dos Etéreos finalmente a seu alcance, Aurim Emerald sentia que estava prestes a obter a resposta que buscava desde que decidira pesquisar sobre o poder de Aldoren: Aquele homem era a chave que lhe faltava para decifrar o mistério do monte Ethron e de como o Imperador governava aquele mundo.

As lendas diziam que sete homens existiram, sete homens que se aventuraram para além das terras ermas do norte do mundo de Aldoren e chegaram ao altivo monte Ethron.

Ninguém sabe o que havia ali ou mesmo se ainda estava lá. Fato é que estes sete homens lograram chegar ao misterioso sítio em épocas distintas do passado, exceto, claro, pelo casal Nwin e Kalen, que estiveram ali juntos. O último a chegar ali e o mais improvável de todos foi um soldado raso de um reino perdido nas terras de gelo eterno de Hallanta, logo após sua queda.

Com o fim de Hallanta, o jovem peregrino, vagueou pelos desertos gelados por décadas em sua absoluta solidão e, segundo diziam, o próprio monte Ethron o convocara a sua presença. Este homem foi chamado Seon neste passado remoto.

Dizem que era um retalho humano quando chegara a Ethron, prestes a morrer. Ninguém sabe o que houve com ele, como se tornou o que veio a ser depois. Assim também ninguém sabe o que acontecera com seus predecessores, os outros seis etéreos.

Sabe-se, todavia, que foram seres notáveis e que a estória de Aldoren teve com eles seus episódios mais marcantes.

E isso tudo foi antes da instauração do Império.

Então, conta-se também que Arthemon, conhecido como o Profeta ou o terceiro do Etéreos, nascido em nobre casta de Albelungen, onde ficava a torre do Imperador em dias mais recentes, foi aquele que escrevera o livro-mestre.

Teria morrido, então, ao sacrificar sua própria existência como parte do ritual que concedeu poder à sua obra. Foi também o primeiro dos Etéreos a conhecer a morte. Estaria com cerca de cinco mil anos na época desses acontecimentos, enquanto Asan Gorid era ainda um recém-transformado.

E transpondo-se muitas eras e de volta à pequena e longínqua vila de Tarus, o destino de Aldoren mais uma vez foi posto nas mãos de um dos sete etéreos. O derradeiro deles para ser mais exato.

*

‒ Ladrão de almas? ‒ repetiu Asan Gorid num tom entre incredulidade e desdém. ‒ De fato, ouvi rumores de que a Morte vinha espalhando terror por onde passava...

‒ Há um quê de exagero no que dizem a meu respeito, meu caro. Falta-me muito para poder ostentar o título de Morte. Em termos de instinto assassino, creio que diante de mim tenho um candidato mais adequado para tão infame epíteto. Um ser que vaga por esse mundo desde de tempos esquecidos...

‒ Que seja! Agora, se puder, vá embora daqui... Não tenho interesse em você ou em qualquer coisa que venha do Império. Tenho muito trabalho a fazer depois da porcaria que vocês fizeram aqui.

‒ Ora! Que precipitado! Nem sequer me permitiu explicar o que vim fazer nesse fim de mundo... Não acredito que uma pessoa com tal poder não tenha sequer um pouco de curiosidade...

‒ Já disse que não me interessa...

‒ Isso é tão enfadonho... Você, apesar de possuir uma força inimaginável para a maioria dos humanos, se comporta de forma bem provinciana, como se se rebaixasse para existir no meio de selvagens. Eu defendo, no entanto, que seres poderosos como nós vivam de forma extrema. Por isso, não seja um estraga prazeres e permita, ao menos, que eu teste as suas habilidades num embate justo...

Nem bem havia dito essas palavras, Aurim sacou sua espada numa atitude de hostilidade impressionante. Era como ser pego de surpresa por um cataclismo, tamanho o espírito de combate demonstrado.

A arma dele, um artefato de pura energia emanado de seu punho, brilhou com a intensidade de um relâmpago, quando o escriba voou em rasante contra Asan.

O guardião teve tempo somente para erguer sua espada e improvisar uma defesa diante do rápido ataque. Sendo, contudo, arrastado pelo ímpeto do inimigo por centenas de metros para trás.

Talvez Aurim tivesse um poder comparável a um dos dez generais dos primórdios do Império, pensou Asan.

A seguir e antes de organiza uma estratégia para avançar, um amplo arco de energia se desenhou no ar, bem a sua frente, com a ponta da espada de Aurim.

Novamente, o guardião se defendeu e, desta vez, utilizou a força lançada contra si para ampliar a potência de sua reação. Aquele, então, não era só um reles contragolpe de espada, mas equivalia ao poder de um vigoroso martelo de guerra.

O impacto distorceu a realidade ao redor. E se não fosse forjada de pura energia, a espada de Aurim teria certamente se partido após a investida de Asan.

O movimento de evasão do escriba foi totalmente inusual, ele parecia galgar degraus invisíveis no espaço, onde seus pés deixavam inscrições mágicas misteriosas.

E súbito, após um impulso no vazio, Aurim se projetou na direção de Asan, com a mão em forma de lâmina, a qual passou cortante a poucos centímetros da cabeça do guardião, arrancando-lhe algumas mechas da longa cabeleira negra que ostentava.

Não havia limites para o homem chamado de Morte, como não havia limites para aquele que diziam ter desafiado a morte por milênios. A batalha entre aquelas duas aberrações ganhava proporções cada vez mais grandiosas.

Memórias de AldorenOnde histórias criam vida. Descubra agora