Asan Gorid III

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 É verdade que fazia tempo que Asan Gorid não enfrentava um adversário tão formidável como Aurim Emerald, mas em poucos instantes a memória das inúmeras batalhas que travara se manifestou, aumentando a força de seus membros e a precisão de seus ataques.

Numa súbita explosão de energia, o chão sob seus pés começou a rachar. Mas algo nesta hora fez com que hesitasse...

Apercebeu-se de que não era prudente seguir aquele embate dentro do perímetro da vila. Se não se contivesse, apenas uma pequena descarga de seu verdadeiro poder, transformaria Tarus numa tétrica cratera em meio ao deserto de Pandur.

Aurim, no entanto, mantinha um aspecto sereno, com um detestável sorriso alongando seus lábios nos cantos, como se apenas se divertisse como a crise de consciência do adversário.

‒ Você pode mais que isso, Seon! ‒ provocou. ‒ Eu sei que você pode.

‒ Sim! Eu posso! ‒ rugiu Asan, num crescente de fúria cega.

A seguir, projetou-se de novo na direção de Aurim. O ataque parecia improvisado dessa vez, como se ele visasse apenas reduzir o campo de luta...

Entretanto, o movimento foi tão rápido que o escriba sequer pensou em defender-se da investida, contentando-se em apenas se esquivar da espada.

Foi nesse momento que, girando sua massa na frente do inimigo, o guardião logrou chocar seu corpo volumoso contra o pequeno corpo do escriba. E como estava num ângulo acendente, o impacto fez com que Aurim voasse pelos ares na direção do deserto que ficava nas cercanias de Tarus.

Uma imensa nuvem de poeira se ergueu como uma muralha no sentido do poente, tamanha a força do impacto. E não contente, com uma velocidade descomunal, Asan voou pelos céus até o local da queda de Aurim como para se certificar de que realmente havia vencido o terrível adversário.

Talvez não seja certo dizer que Asan tenha voado, pois de fato não possuía tal habilidade como o seu inimigo, mas seu salto foi tão espetacular que não haveria mal em compará-lo com um voo.

Não demorou muito, apesar da força do ataque que recebera, o escriba ressurgiu em meio a poeira, incólume e irradiando uma aura violenta por todo seu corpo, como se ele fosse feito totalmente de energia. Seu semblante, no entanto, parecia aborrecido agora.

‒ Não me faça perder meu bom humor, Seon! Não me faça acreditar que você desperdiçou sua energia de combate, apenas para proteger aquele bando de selvagens...

‒ Eu sou um guardião. Minha única razão de existir é a proteção do povo de Tarus! ‒ argumentou Asan. E assim era, porque assim ele queria que fosse. Não havia ninguém no mundo capaz de lhe impor este dever senão ele mesmo.

‒ Hipocrisia! Mera hipocrisia! Você não teria sobrevivido ao que sobreviveu, você não teria tomado o poder do monte Ethron se acreditasse nessa baboseira... ‒ O olhar frio de Aurim o sondava, buscando respostas.

Se Asan fosse um tolo corroído por dúvidas e arrependimentos, teria sucumbido nesse momento, pois aquele ser, chamado de Morte, era de fato terrível, sua sede de conhecimento era tão grande que ele parecia sugar a vida ao seu redor apenas por estar presente.

Quem o visse naquele momento dificilmente encontraria alguma semelhança entre o monstro que então aparentava ser e o rapazote debochado que humilhara Gudher Mart momentos antes.

‒ E o que faz você pensar que eu lhe devo alguma satisfação sobre minhas motivações pessoais? Sou eu quem decido qual a razão pela qual devo lutar!

Aurim sorriu, como se debochasse da convicção de Asan Gorid. Mas de fato ele se dava conta de que o espírito de luta de seu adversário estava apenas oculto sob o disfarce de guardião. No entanto, o demônio que ele era de verdade não havia morrido. Era isso que estimulava o escriba a continuar a contenda.

Memórias de AldorenOnde histórias criam vida. Descubra agora