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Fazia ao menos dez anos do ocorrido, sentia minhas mãos escorregadias, não estava nervoso, estava preso, meio que em todos os sentidos da palavra, meu corpo e minha mente. Dez anos daquela merda toda, todos esses dias sem deixar com que nenhuma palavra sobre o que aconteceu saísse da minha boca. Sentei com os pulsos algemados à mesa.

Tennant entra na sala, 1,80 ao menos de altura, barba grisalha, lhe daria cinquenta e poucos anos. Envelheceu muito nas últimas semanas. Ele se senta à minha frente, unindo as mãos e diz:

- James.

- Tennant.

- Ouvi dizer que a audiencia da condicional julgou ao seu favor, parabens.

- Eu agradeceria se achasse que está sendo honesto.

-Você sabe que não acho que pertença a esse lugar.

-Nem por isso me acha inocente.

- Não. - Ele suspira, olhando o relógio, o mesmo que usa desde que nos conhecemos, como se eu o entediasse.

- Então por que está aqui? - pergunto. - A mesma razão da quinzena passada?

As sobrancelhas juntas dele se franzem em uma única linha reta e escura.

- É claro que usaria a palavra quinzena.

- Dá até pra tirar o menino do teatro, et cetara e tal. - Ele sacode a cabeça, entretido e irritado ao mesmo tempo. - e então? - pergunto.

- Vou me aposentar da policia. Eu me vendi, peguei um trabalho de segurança particular.

- E?

- Nada do que você disser será oficial. - Continuo o encarando. - James, eu não me importo em castigar quem merece, não mais. Alguém cumpriu a pena, e raramente temos tanta satisfação nessa linha de trabalho. Mas eu não quero pendurar as chuteiras e desperdiçar mais dez anos me perguntando o que realmente aconteceu. O que realmente aconteceu na mansão Black aquela noite?

A principio não digo nada. Olho para as paredes brancas pouco manchadas, as cameras pequenas nos quatro cantos da sala. Fecho os olhos, sabendo que estou sendo encarado. Respiro fundo, imaginando como deve ser estar fora da prisão depois de um terço da minha vida.

Quando solto o ar, abro os olhos e vejo que Tennant está me observando atentamente.

- Deve consumir você vivo, o fato de não saber. Não saber como, não saber o porquê. Só que você não conhecia ele.

- Por que fazer isso? Guardar segredo?

- Eu quis.

- Ainda quer?

Meu coração pesa no peito, segredos têm peso, como chumbo.

Eu me inclino para trás. O guarda observa tudo, impassivel, como se fôssemos dois desconhecidos conversando em outro idioma. Penso nos outros. Era uma vez, éramos nós. Fizemos coisas horrendas, sim, fizemos, mas também necessárias, e agora eu me pergunto: como poderia eu explicar tudo para Tennant, as pequenas reviravoltas e os caminhos tortuosos, até o êxodo final? Examino seu rosto sereno, os olhos caramelo marcados por rugas.

- Tudo bem. - digo. - Vou te contar uma história. Mas você precisa entender algumas coisas.

- Estou ouvindo.

- Primeiro, eu só vou falar depois que sair daqui, e não antes, segundo, isso não pode voltar para me pegar, ou pegar qualquer outra pessoa. Nenhum novo risco. E, por último, não vai ser um pedido de desculpas. Acha que pode viver com isso?

- Acho que sim.




12h23 - CENA I

há algo de podre no conservatório de Hogwarts.

O conservatório clássico ocupava uns dez ectares de terra na parte leste de Broadwater, e os limites das duas coisas se sobrepunham com tanta frequencia que era dificil determinar onde o campus acabava e a cidade começava. Os calouros eram alojados em um aglomerado de prédios de tijolinhos na cidade, enquanto os alunos do segundo e terceiro ano ficavam abarrotados no pavilhão, e o punhado de alunos do quarto ano se enfiavam em cantos estranhos e isolados do campus, ou eram deixados a deriva. Nós, os estudantes de teatro do quarto ano, morávamos no lado mais distante do lago, um lugar que tinha o nome pirotesco de Castelo (não era bem um castelo, mas um prédio de pedra pequeno que por acaso tinha uma torre, que originamente continha os aposentos do caseiro).

O pavilhão, uma mansão de tijolos avermelhados extensa, ficava no alto de um morro, com vista para a água escura e plana do lago. O dormitório e o salão ficavam no quarto e no quinto andar; as salas de aula e dos professores, no segundo e no terceiro, e o primeiro andar era dividido entre refeitorio, um salão de música, uma biblioteca e o conservatório. Uma capela se sobressaia do lado oeste da construção e, nos anos 1960, o edificios belas artes archibald hogwarts foi erguido ao leste do pavilhão, do outro lado de um pequeno pátio e de uma colmeia de arcos e passarelas. Esse local  era o lar do Teatro archibald e do salão de ensaios, e, portanto, era onde passavamos a maior parte do tempo. Agora, às nove e meia da manhã do primeiro dia de aula, tudo estava excepcionalmente silencioso.

Sirius e eu saíamos do castelo juntos, apesar dele não morar ali e nem ser do curso de teatro, ele fazia música, na verdade. Andavamos devagar enquanto ele reclamava sobre-deus-sabe-o que, e apesar da minha audição ser apenas dali a uma hora eu concordava com a cabeça o dando todo o apoio.

- Enfim, vai fazer a audição pra peça de outono? - perguntou ele, enquanto subiamos o morro ingrime em direção ao gramado.

- Aham - me agarro em seu braço, pegando impulso e quase o derrubando. rimos. — Esse ano é Hamlet, tô nervoso, Remus também.

As orelhas de Siriús parecem levantar quando cito o nome do meu colega, como um cão, ele tenta esconder mas só parece tão óbvio.

— É? é, né... Colocou ele no grupo?

— Coloquei, ele vai hoje. Você deveria ter um altar meu no seu quarto e fazer oferendas todos os dias antes das onze, sabe.

— Eu já tenho, você sabe! - Tinha os dois braços esticados, como se me adorasse, juntei as duas mãos, abaixando um pouco a cabeça, o abençoando, claro.— Boa sorte, jay.

— Boa sorte aguentando o Pucey hoje. – grito antes de entrar na sala espaçosa.

Sacudo os ombros antes de ir direto até Mary, que estava sentada numa das almofadas, não era surpresa o lugar estar tão vazio, não sobravam muitos alunos no quarto ano, eram como aulas particulares ou algo do tipo.

— Pronto pra mais um show de estrelismo? - inclino a cabeça, confuso, ela aponta para o pequeno palco onde Regulus passava as marcações com Evan. — Aposto que ele pega o papel de Claudius.

—Achei que ele iria querer ser Hamlet.

— Ele gosta dos vilões. - Dou risada antes de observar o senhor Slughorn entrar na sala.

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⏰ Última atualização: Oct 15, 2023 ⏰

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