02 - a vida na selva

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O macaquinho pulou para fora de um arbusto, se deparando com um céu mais claro do que o primeiro que ele havia visto. Agora, a luz do sol escapava por entre os poucos espaços que as folhas das árvores deixavam, todo o cenário poderia ser resumido com a cor verde.

Ele não se prendeu em admirar a paisagem quando, através de poucas folhas, percebeu mais dois macacos: um adulto (fêmea) e outro filhote, como ele. Aparentavam ser mãe e filho.
O macaco de pelagem avermelhada presenciou a macaca mãe levantando seu filho e, em seguida, aconchegando-o em um abraço puro e carinhoso.

O primata vermelho arrulhou baixinho. Ele não pôde evitar em se sentir curioso sobre tal sentimento que os macacos estavam sentindo. Parecia ser tão bom...

Com uma ideia em mente, o pequeno primata esperou a mãe macaca se virar para pegar uma banana para seu filho e, em seguida, empurrou o outro macaco bebê para um arbusto próximo. Assim, ele se agarrou à macaca inocentemente, esperando poder sentir o mesmo afeto que o outro filhote. Ele esfregou sua bochecha contra o peito da macaca e suspirou, sentindo o calor reconfortante de uma mãe.

Foi bruto, porém suas intenções eram puras.

Entretanto, a fêmea não levou isso levianamente: ela empurrou o filhote ruivo do seu corpo e gritou com ele. Ela não sabia quem era e somente queria seu filho de volta. A macaca enxotou o pobre filhote - provavelmente esbravejando maldições em sua própria linguagem de macaco -, que saiu correndo dali, pelo susto que levou.

...

E aqui estava ela novamente, a garota dragão que mora na lua. Agora, estava sozinha novamente, a deusa lunar saiu para usufruir de suas próprias tarefas (trabalhar? Ela ainda não entende o que essa mulher faz), deixando a menina mais baixa com seus próprios pensamentos.
A meio dragão estava muito bem entretida por suas próprias habilidades com seu instrumento. Os zhezhis¹ que ela havia feito estavam envoltos por um leve brilho perolado, nada muito extravagante. O que realmente impressionava era como as pequenas figuras feitas de papel estavam se movimentando ao redor dela, como se tivessem vida.

A melodia tocada pelo seu sanxian era a responsável por todo esse show de papel. Quanto mais rápido a garotinha tocava, mais os pássaros de papel rodopiavam pelo ar, dançando ao som do instrumento de corda.
Ali, sozinha, ela se divertia com seu próprio espetáculo de bonecos de papel que ela mesma havia feito.

Não demorou muito para que seu ritmo começasse a diminuir quando a menina notara o planeta um pouco longe dela (embora ela, de alguma forma, pudesse enxergar várias coisas de lá).
Era tão... verde e azul. "Belo", ela diria caso fosse capaz de falar agora. As nuvens reinavam pacificamente acima de todos os humaninhos presentes na terra, cada um cuidando da sua própria vida. A garota gostava de observá-los como um passatempo - não havia muita coisa para fazer na lua quando você não para quieto e já experimentou muita coisa - , isso pode parecer perturbador para algumas pessoas, porém, a menina-dragão nunca pensou por esse lado.

A principal coisa que a cativava era que eles não viviam todos iguais. Cada "grupo" era diferente tanto na aparência quanto no estilo de viver, eles tinham costumes diferentes, e isso a fez assisti-los quase todo dia; seu interesse na Terra nunca vacilou, ela esperava que um dia fosse capaz de explorar o planeta inteiro. Por enquanto, sua obediência continua intacta em continuar a viver no Palácio de Gelo com Chang'e, aproveitando sua infância solitária.

Seus olhos escuros a levaram à uma certa selva. Um extenso tapete exuberante de grama e flores, assim como árvores esbeltas fizeram com que a atenção da menina se mantivesse nela por um tempo. Tempo esse que se estendeu ainda mais quando um macaquinho vermelho saiu de um dos arbustos em seu campo de visão.
Surpresa, ela inclinou a cabeça e franziu os lábios, percebendo como o primata parecia assustado com alguma coisa.
Nesse ponto, ela já havia largado seu sanxian somente para observar o filhote de macaco.

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