X - Uma condenação...

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Aziraphale estava boquiaberto.

Crowley ria. "Essa é boa!" Pensava o demônio.

Os outros anjos estavam completamente estupefatos.

— Como assim não existe bebê Jesus!?!? — Metatron bradava — Mas eu recebi a mensagem Dela me falando de Seu Filho.

— Não foi Deus que falou com você, seu palerma. Foi Rafael!

— Rafael, o Arcanjo desertor? — Saraqael questionou surpresa, entreolhando-se com Uriel.

— UOU!! — Crowley exclamava empolgado com o plot twist. Cutucou Aziraphale e sussurrou — você sabia disso? — recebeu uma negativa do anjo, além de sua completa expressão de choque.

— Rafael?? Mas... mas... Como? — Metatron estava tão atônito que não conseguia ligar os seus pensamentos. Fazia milênios que não ouvia o nome de Arcanjo Rafael — Mas isso é impossível, não faz...

— Você se acha tão mais poderoso que todos porque consegue falar com o Todo-Poderoso, mas nunca passou-lhe à cabeça que você poderia estar falando com qualquer um com poder o suficiente para te enganar, seu estúpido!

Miguel vociferava com tamanha ira que os Arcanjos Uriel e Saraqael acharam melhor se afastarem, ficando a alguns metros a mais de distância junto ao pobre anjo auxiliar de Metatron, que rapidamente fechou o livro e foi para perto dos outros anjos de maior hierarquia. Um chocado Aziraphale chamou um animado Crowley para mais perto de si, enroscando os seus braços sobre o do demônio.

— Se duvidar, é capaz de alguma vez você ter falado com o próprio Satanás achando que era Deus, seu idiota! — Miguel não parava de atacar — Hoje eu sei o quanto fomos idiotas em confiar tanto em você. Bem que Rafael me avisou sobre o seu tipinho!

— ISTO É UMA BLASFÊMIA, MIGUEL! — Metatron contra-atacou — Eu falo tão somente com o Todo-Poderoso e somente Ela tem esse canal comigo. Ela jamais permitiria que eu fosse enganado por um anjo caído ou por qualquer outro!

— Não só permitiria como PERMITIU que Rafael, o Arcanjo mais poderoso que já existiu, pudesse te enganar! HÁ! — Miguel estava cada vez mais confiante em seus ataques verbais — Tão poderoso que você só sabe ter sido enganado porque eu estou falando pra você agora! Se dependesse de suas próprias capacidades, você jamais saberia a diferença!

Miguel sorria como nunca sorriu antes diante do mais completo abalo no rosto de Metatron. Este por sua vez sabia que o Arcanjo tinha razão. Se de fato o que Miguel dizia era verdade, ele não notou a diferença. Além do mais, havia milênios que Rafael libertara-se das suas obrigações para com o Céu e desde então nenhum Ser Celestial foi capaz de descobrir o seu paradeiro. Jamais saberia reconhecer a sua voz. Miguel agora ria de forma irônica.

— E agora você quer me dizer que seria capaz de encontrar o nosso bebê perdido na imensidão do universo? Ora, faça-me o favor!

Metatron engoliu seco.

— O nosso o quê?

— Nosso bebê. Nosso bebê querido. — Miguel aproximou-se de Aziraphale e lhe deu um olhar de súplica — Aziraphale, por favor: Onde está o nosso bebê?

Aziraphale então olhou para Crowley que, sem dizer uma palavra, foi até a porta dianteira de seu Bentley e a abriu, tirando de dentro do carro uma cesta de vime. Miguel olhou todo aquele movimento com lágrimas no rosto. Sorria. Crowley então estendeu a cesta para Miguel e em seguida olhou para Aziraphale, que acenou positivamente. Eles sentiam poder contar com Miguel agora.

Murmúrios de surpresa continuavam em uníssono entre os outros anjos. Metatron parecia soltar faíscas pelo corpo.

— Mas anjos... Anjos não podem ter filhos — Metatron limitou-se a dizer.

Miguel deu-lhe um olhar seco.

— Você é de fato muito limitado mesmo, sinceramente! — Miguel deu de ombros enquanto ninava um bebê agora bem mais calmo em seus braços — Se pelo menos um dos anjos for poderoso e humanizado o suficiente para ter compaixão, cuidar, amar e proteger como um ser-humano faz, então sim: anjos seriam capazes de gerar filhos.

Aziraphale afastou-se um pouco de Crowley e foi em direção a Miguel. Tocou-lhe o ombro e sorriu. Era o único sinal de empatia e suporte que poderia lhe transmitir naquele momento. Em seguida tocou em seu próprio coração. Sentia o amor entre os dois seres ali à sua frente.

Miguel sorriu de volta. Após uma vida toda de desavenças, no momento de maior confusão na vida daqueles dois Arcanjos, finalmente eles conseguiam se entender por passarem pelo mesmo problema.

Amor.

— Rafael ama a Terra, mas devo confessar que eu simplesmente a desprezo e prefiro muito mais a minha vida no Céu. — Miguel sorria olhando para o bebê enquanto o ninava, sem olhar para mais ninguém — Mas eu amo Rafael mais do que tudo, então nós aceitamos as nossas diferenças e nos entendemos o suficiente para saber que o nosso anjo merece ter a vida na Terra como sua ela deseja, mas com todo o cuidado e reverência que o céu permite e que eu gostaria que nosso bebê tivesse. — Aziraphale olhou diretamente para Crowley e sorriu. Ele entendia esse sentimento — E vocês todos foram tolos o suficiente para quase permitir que isso acontecesse!

— Você... fingiu que um... anjo... bastardo... era... Jesus Cristo! Mas isso é... uma grande blasfêmia! — Metatron gaguejava enquanto tentava absorver essas novas informações.

— Elu não é bastarde, mais respeito! Rafael nunca deixou de ser um Arcanjo. Só... não é mais igual a nós. Esse aqui — sorriu para o bebê — É só mais um bebezinho angelical. Não é, meu amor? — o bebê sorriu pela primeira vez de um jeito que não parecia ser involuntário. Havia de fato alguma conexão entre os dois.

— Ainda sim... Você fingiu que era Jesus Cristo. Isso é completamente absurdo! — Metatron estava indignado — Você está completamente condenado pelo próprio Todo-Poderoso!

— Ah, me erra! Que Ela me condene agora, então! — Miguel perdeu a paciência — Se eu tivesse de ter sido condenade por Deus, eu já teria sido condenade. Mas, nada aconteceu ATÉ AGORA! E aí?? O que me diz, ahn?? — Miguel agora ria desesperade — Se você quer mesmo saber, eu demorei muito para ouvir o que Rafael me dizia e entender o óbvio: DEUS-NÃO-LIGA-PRA-NADA-DISSO. Ela simplesmente está... rolando dados com o universo há um bom tempo.

— CHEGA DESSA BLASFÊMIA! CHEGA DE TODOS VOCÊS! — Metatron gritava com a voz que eles conheciam como a voz divina. Só que, dessa vez, todos sabiam não se tratar da ira do Todo-Poderoso. Era tão somente o Serafim possesso na mais pura fúria. Voltou-se novamente em direção ao seu anjo assistente e o chamou para perto, tomando o livro de sua mão. Uriel e Saraqael ameaçaram atrapalhar o movimento, mas o Anjo Supremo foi mais rápido — Deixe-me então que eu resolverei esse problema de uma só vez. Aziraphale, Miguel, Demônio Crowley, vocês estarão todos condenados a partir de agora!

— O senhor não pode modificar nada no Livro da Vida sem a sanção de todos os outros Arcanjos — reclamou Uriel, sendo logo apoiado por Saraqael. Não sabiam bem se estavam do lado de Miguel e dos outros por questão de afinidade, por tentativa de preservarem poderes de seus próprios cargos ou mesmo pela dúvida plantada em suas cabeças sobre o real poder de Metatron. Talvez tudo ao mesmo tempo. Só sabiam que não estavam dispostos a concordar com o Serafim naquele ato — não vamos permitir que o Senhor faça algo.

— Tentem então!

Relâmpagos surgiram no céu como sinal de uma futura tempestade. Algo de muito poderoso ameaçava a tranquilidade da cidade de Montecito. O clima de tensão era presente. Crowley e Aziraphale se entreolharam. Era o fim?

— Opa! Desculpe interromper esse momento, mas eu realmente estou achando que o clima ficou um pouco tenso e eu creio que estava na hora de eu interromper.

O sinal de tempestade no céu cessou automaticamente. Todos olharam na mesma direção daquela voz, de onde estava um carteiro encostado em uma Van.

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