III - Um encontro...

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Crowley detestava voar. Apesar disso, pegou o melhor voo disponível de Londres com destino ao Aeroporto Internacional de Los Angeles, levando quase 12h sem escalas. Ainda contaria com mais duas horas e meia de carro para chegar na localização indicada pela carta, o que pelo menos conseguiria fazer em bem menos tempo com seu Bentley.

"Seja discreto com o uso de milagres." Lembrou-se da carta, "Mas ninguém se importa com meu carro."

Ele jamais iria à Cidade dos Anjos sem levar o seu Bentley para passear junto.

Saiu do aeroporto por algumas das mais extensas rodovias de L.A., pegando a Ventura Freeway a 200km/h, quase o dobro do permitido. Crowley seguiu sem observar toda a paisagem que sua rota apresentava, com o relevo da cidade californiana repleto de mansões gigantescas e parques nacionais. Desde que tirou os pés de Londres que ele estava mais preocupado tentando mentalizar toda a conversa que teria com Aziraphale depois desses anos que os separavam desde o último encontro na livraria. E, no meio disso tudo, ainda teria de lidar com a ansiedade do anjo (e dele próprio) com seja lá qual era a confusão que Aziraphale se meteu para ter de mandar essa carta.

"Mas se ele pediu sua ajuda desse jeito, deveria ser sério".

"Mas o jeito que ele foi embora e me abandonou também era muito sério," pensava Crowley.

Crowley acabou chegando ao destino na metade do tempo previsto. Andree Clark Bird Refuge, em Los Patos Way.

"Sério, Aziraphale?" pensou Crowley, enquanto estacionava o Bentley em frente ao observatório natural. Era um lugar pequeno, mas simpático, com poucas pessoas caminhando e observando os pássaros próximo ao lago. Crowley não demorou muito até notar alguém vestido com roupas claras, sentado em postura milimetricamente perfeita e olhando para os animais logo a sua frente. Aziraphale parece ter sentido a chegada de Crowley, pois logo virou-se em direção ao demônio, levantando-se abruptamente e abrindo um enorme sorriso.

Crowley aproximou-se um pouco mais e foi surpreendido com um abraço. Aziraphale não era de abraços.

— Oh, Crowley! Eu sabia que você viria! — Aziraphale falava visivelmente emocionado, encostando a sua cabeça no tórax do demônio enquanto o abraçava pela cintura — Estou tão feliz que você decidiu aparecer! — sentiu um leve constrangimento diante de sua atitude instintiva, soltando Crowley de forma abrupta. Este, por sua vez, percebeu que o anjo estava com os olhos levemente marejados.

— Cl.. claro, claro. É... — Crowley olhava confuso para o anjo a sua frente. Seu visual havia mudado desde a última vez que eles se viram. Os cabelos estavam com o loiro ondulado mais modelado e bem aparado. A roupa já não seguia mais o estilo romântico, sendo mais minimalista, com terno e gola alta, além de tecidos finos de linho e seda em tons de branco e bege. Pelo menos a gravata borboleta estava lá — Então: qual é o problema?

— Crowley, primeiramente eu queria dizer q...

— O que é isso? — Crowley, que em nenhum momento parou de olhar ao redor em busca de mais informações visuais, interrompeu o anjo apontando em direção a um cesto de vime no banco em que Aziraphale estava sentado.

— Ehr... — Aziraphale estava agitado enquanto notava Crowley se aproximando da cesta. O demônio olhou então para dentro da cesta e se voltou em direção ao anjo com uma expressão assustada — ... esse aí é o problema.

— Um bebê? Mais um bebê?!?

— Pois é — Aziraphale sorriu amarelo. Crowley, tão acostumado às expressões religiosas humanas, lamentou com um suspiro.

— Jesus...

— Como é que você sabe??

— O QUÊ?!?

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