VII - ... e uma confissão.

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O quarto era bem aconchegante. De fato, havia uma cama enorme e bem confortável, além da tal poltrona reclinável, que ficava próxima à porta da varanda. Infelizmente, devido à chuva torrencial que caía, não dava para aproveitar a vista do quarto, tendo apenas a visão de um céu já completamente escurecido da noite tomada pelo temporal.

Assim que entrou no quarto, Crowley deitou-se de forma esparramada na cama, enquanto Aziraphale esperava pacientemente o pequeno berço prometido pela recepcionista. Não esperou muito pelo assistente, que chegou com o móvel e foi logo o empurrando para próximo à cama, enquanto Aziraphale segurava o bebê em seus braços, preparando-se para colocá-lo em seu novo espaço.

— Pronto, pronto, bebezinho! Um cantinho bem mais confortável pra você! Logo, logo tudo será resolvido, tá bem? Eu te prometo, amorzinho! — Aziraphale virou-se ao assistente, agradecendo-o pelos seus serviços com uma gorjeta. Assim que o assistente saiu, Aziraphale colocou o bebê no berço e ficou brincando de "peekaboo", tentando chamar a atenção. Deitado na cama com a cabeça apoiada em suas mãos, Crowley observava a cena tentando não deixar escapar um sorriso no rosto.

Em seguida, Aziraphale decidiu sentar-se na poltrona. Estava preocupado e sabia que não conseguia disfarçar, olhando para Crowley de modo aflito. Sabia, entretanto, que não estava no direito de insistir. Pelo menos era no que ele acreditava. Sua cabeça naquele momento estava rodeada por um milhão de perguntas sem respostas, cuja única certeza que ele tinha era de sua própria insegurança.

Aziraphale até o momento ainda era o Arcanjo Supremo dos Céus e mesmo assim se enxergava como um grande tolo. "Por que eu nunca percebi que ele realmente estava morando no Bentley? Eu sou mesmo tão irresponsável e egoísta assim? Como é que eu brinco com os planos divinos, ou com os desejos de Crowley desse jeito e..."

— Então... como seria mesmo essa sua "garantia" com os outros anjos? — A pergunta de Crowley acabou por interromper os pensamentos de Aziraphale. Este pôs a mão na cabeça e fez uma pequena massagem na testa, tentando aliviar uma dor de cabeça que sabia não ter como passar daquele jeito.

— Ahn... é... — Aziraphale tentava recompor sua mente. Pensou por um tempo antes de tentar explicar — Antes de pegar o bebê, eu tentei um acordo com a Alta Hierarquia de Arcanjos para que eu e você fossemos os encarregados de guardar Jesus junto à Oprah, tal qual Gabriel fez com Maria. Tentei convencer sobre a importância do menino Jesus ter o conhecimento desde sempre sobre as duas forças opositoras, que era necessário o equilíbrio e etc. Enfim! Nada aconteceria nem comigo e nem com você até o Julgamento Final, que seria quando Ele e apenas Ele tomaria a sua decisão de avaliar se somos dignos de Seu perdão. Mas, como deve imaginar, não aceitaram.

— Nossa, mas quem diria, não é mesmo? Justamente as maiores supernannies do mundo e eles não deixaram o Filho de Deus conosco. — Crowley então sentou-se de pernas cruzadas na cama enquanto olhava para o anjo com uma expressão sarcástica. Aziraphale ignorou a piada.

— Isso me fez acender um alerta de que eu já não poderia esperar mais. Foi aí que eu decidi sequestrar o bebê e os informei que entregaria o bebê apenas se eles viessem com um acordo assinado que nós seríamos deixados em paz. Amanhã então, antes do horário combinado do advento de Cristo, eu os encontraria no local para que estes entreguem o tal acordo.

— Um pacto angelical!?! Oh, meu Deus, eu adorei isso!

— Certamente eles não gostaram dos termos, mas é o que você diz sobre a austeridade de meus colegas Arcanjos: se há um compromisso assinado, eles devem cumprir, pois não está na natureza deles discordar. — Crowley sorriu com o canto de boca: ele conseguia enxergar esse cenário. — Recebi uma mensagem do pombo-correio divino um pouco antes de tentar te contatar, me informando que eles aceitariam o acordo. Mas, na mesma hora eu percebi que quando se trata da proteção do filho divino, eles poderão fazer qualquer coisa. Inclusive, esse encontro pode ser uma grande armadilha... — Aziraphale agora olhava no fundo dos olhos de Crowley — E é por isso que eu estou preparado para assumir que não haverá acordo algum e, se você concordar comigo, nós fugiremos com o bebê para qualquer canto no universo.

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