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VICTOR NARRANDO 👋

O sol nasceu e nada aqui mudou. Eu continuo me sentindo estranho no meio dessa familia, eu continuo sem vontade de viver. Nada faz sentido pra mim.

Sabe quando você sente que não pertence a tal lugar? Pois é. Eu sinto que não pertenço a minha casa, eu sinto que não faço parte dessa familia.

— Sai desse celular, menino! — Arthur falou me dando um tapa em minha cabeça me tirando dos meus pensamentos.

Estou deitado no sofá com meus fones de ouvido ouvindo uma música aleatória.

— Me deixa! — resmunguei virando a cara pra ele.

— Qual foi? — ele perguntou. — Esta sempre de mau humor.

— Vai se ferrar! — resmunguei.

— O que você disse? — Matheus apareceu na sala com seu semblante fechado. — Pede desculpa para o seu tio, Victor. — mandou.

Revirei os olhos e aumentei o volume da musica que tocava em meu fone.

Eu não sei o que acontece comigo. Simplesmente, não consigo gostar de estar aqui.

Levo um susto quando alguém puxa meu celular e fone com toda a violência. Me levanto rapidamente puto da vida.

Matheus esta parado na minha frente segurando meu celular e com uma cara de poucos amigos.

— Enfiou o respeito no cu, filho da puta? — perguntou bolado. Não respondi e estendi minha mão pedindo meu celular de volta. Levei logo um tapão na mão. — Me respeita que eu sou teu pai, não sou o povo da rua nao.

Ele estava bem furioso comigo. Mas eu nem ligo.

— O que está acontecendo aqui? — Dona Jessica perguntou descendo as escadas nos olhando.

— Nada, mae. Seu marido pagando de doido. — respondi.

Matheus ficou ainda mais furioso e tentou avançar em minha direção, mas minha mae entrou na frente segurando-o.

— Teu marido é o caralho, sou teu pai. — ele respondeu.

Não sei porque, mas eu não sinto esse amor de filho por ele. Na verdade, eu me olho e olho para o Matheus e não vejo nenhum traço familiar entre nos dois. Eu sou mesmo seu filho? Eu sempre observei meus irmãos e todos eles tem algo do Matheus, e eu não. Por que?

— Calma, amor. — minha mãe falou tentando amenizar a situação.

— Foda-se — respondi o encarando também.

— Ta de castigo sem essa merda de celular — ele falou pensando que vai me abalar. Coitado.

— Enfia no cu — respondi.

Matheus e Jessica me olharam chocados. Eu nunca tinha respondido ele dessa forma.

— Qual a porra do seu problema? — Matheus gritou.

— Você é meu problema — respondi sem desviar o olhar. Observei pelo canto de olho quando meus irmãos chegaram na sala e ficaram nos observando. — Eu não te suporto. — fui sincero.

— Victor Hugo — minha mãe me repreendeu.

— O que é, dona Jessica? Não posso ser sincero? Ou tenho que fingir fazer parte dessa familia feliz? — perguntei em alto e bom som.

Obviamente o defensor da Jessica se intrometeu sem ser chamado.

— Fala direito com a nossa mãe. — Arthur falou — Ta achando que ta falando com quem?

— Vai se fuder, Arthur. Ninguém te chamou na conversa! — respondi.

— Vai se fuder você seu otario. Mexeu com a minha mãe eu me meto mesmo. Pau no cu!

Antes que eu pudesse responder, minha mãe se intromete.

— CHEGA! — gritou com a voz embargada atraindo todos os olhares da sala. — Sobe para o seu quarto, Victor. — falou firme e eu fiquei olhando pra ela.

— E sobra tudo pra mim? Não vai brigar com seu preferido também? — perguntei cruzando os braços.

Todo mundo sabe que o filho preferido é o Arthur.

— AGORA! — gritou.

Assenti sentindo um ódio fodido dessa família. Na moral, eu odeio todos eles.

Preferi nao falar mais nada, apenas virei as contas subindo as escadas indo ate meu quarto. Bati a porta com toda minha forca e comecei a socar a parede ao lado.

— QUE ODIO! Eu odeio todo mundo! — esbravejei.

Eu odeio minha casa, eu odeio minha família, eu odeio meus pais, eu odeio não ser eu mesmo, eu odeio ter que acordar todas as manhãs e seguir com minha vida monotona, eu odeio não ter quem me apoie, eu odeio não ter quem me entenda, eu odeio não ter uma pessoa pra me segurar enquando eu estiver chorando ou em crise, qual a última vez que abraçei alguem? Que chorei no colo de alguém? Acho que faz muito tempo, ou eu nunca tive esse apoio. Eu odeio não ser o filho perfeito que meus pais tanto sonham que eu seja, eu odeio tudo isso, eu odeio viver nesse mundo. Odeio me sentir assim. Odeio sentir vontade de abraçar aquele idiota do Matheus. Odeio nao me parecer com ele. Eu não me conformo, por que meus irmãos se parecem tanto com ele e eu não?

Os herdeiros do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora