Prólogo

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Olá! Olha eu aqui!

Esse pequeno prólogo serve para explicar um pouco da história. Ele antecede o encontro dos Sope. É uma volta ao passado, onde tudo acontece e vai ser necessário para entender a história lá na frente.

Aproveitem!

🎃



  Seul, 1965

  Sooyoung deslizava o pente de cerdas macias e escuras por seus longos cabelos negros diante do espelho. O ato suave fazia seu véu capilar adquirir um brilho radiante. Com seus quinze anos, ela se preparava para enfrentar mais um dia repleto de compromissos escolares, como se fosse apenas mais um na rotina de sua vida adolescente. Com passos cuidadosos, a jovem desceu a escadaria, tentando minimizar qualquer barulho que pudesse quebrar o silêncio que pairava naquele lugar.

  O ambiente estava imerso em um silêncio absoluto, algo que não era incomum naquela casa, mas naquele momento, a atmosfera estava carregada de uma estranha tensão. Sooyoung seguiu em direção ao jardim, onde encontrou sua mãe, que estava sentada em uma confortável cadeira de vime.

  - Mãe? - chamou ela.

  Nenhuma resposta. A mãe, senhora Choi Jieun, estava catatônica, olhando para o nada. Havia dias que a matriarca andava estranha. Mais calada que o normal, sempre distraída ou se escondendo pelos cantos, mas ninguém perguntou pois não era o costume naquela casa.

  O Sr. e a Sra. Choi, um casal tradicional coreano, apesar de respeitados pela comunidade local por sua devoção às tradições, criaram a filha sob o regime de extrema austeridade, não havia afeto e suas expectativas rígidas pesavam sobre a menina Sooyoung. A mansão era um reflexo da autoridade do casal. Os pais mantinham um ambiente de opressão, sem diálogo e chance de nenhum questionamento.

  E, naquele dia, o que já não era bom, tomaria proporções ainda piores.

  A noite chegou e a família já estava reunida à mesa para o jantar com alguns convidados. Choi Min-ho, o pai, falava sobre política com os dois colegas que chamara, enquanto a Sooyoung não era permitido dizer qualquer coisa. A menina estava com as mãos repousadas sobre o colo, apenas esperando que a mãe terminasse o jantar. Em dias como aquele, de visita, o pai exigia que a mãe fizesse a comida. Isso reforçava sua imagem como dona de casa exemplar, na sua percepção machista.

  - Está demorando um pouco. - o Senhor Choi disse, com um sorriso amarelo, tentando disfarçar seu aborrecimento. Frequentemente ele perdia a paciência e as duas mulheres da família sofriam todas as consequências de sua ira.

  Jieun, no mesmo instante, entrou na sala de jantar empurrando um carrinho abarrotado de bandejas e refratários com a comida. Posicionou uma a uma em cima da mesa, para que todos se servissem e sentou-se na cadeira ao lado da filha, sorrindo. Era um sorriso amigável, terno, que exalava toda a doçura e obediência de uma boa mãe e esposa coreana.

  - Sirvam-se, por favor. - Min-ho apontou para a comida. - Bom-apetite!

  As cloches foram levantadas pelos visitantes, mas ao invés de comida nas bandejas, havia guardanapos velhos, folhas de árvores, terra e penas misturadas com carne crua e apodrecida. Todos olharam horrorizados para a anfitriã, que sorria escarnecedoramente.

  - Não vão comer? A comida vai esfriar - falava em um tom doce e delicado. - Eu fiz com tanto carinho.

  Min-ho ficou vermelho. Sentiu uma mistura de vergonha e raiva, enquanto Jieun ainda sorria, impassível. Sooyoung já sabia o que viria a seguir, então segurou o braço de sua mãe para evitar que seu pai a agredisse ali mesmo, na frente dos dois homens. O pai olhou a adolescente com reprovação e Sooyoung soltou-a no mesmo instante. Então, tudo aconteceu rápido demais.

O SEGREDO DA CASA VAZIA | SOPEOnde histórias criam vida. Descubra agora