Capitulo 2

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alguns subestimam a importância das regras, por que alguém questionaria algo tão primordial para vida? O sistema solar não funcionaria se não seguisse as orientações do sol? Entao por que continuavam a questionar o que era imposto? Simples, cada um tem uma liberdade para pensar e decidir sua vida, mesmo que isso significasse mudar toda a orientação do planeta terra, teria ao menos o direito de ter escolhido seu próprio caos, e eu quase em um fio de convidar o caos para minha vida. Estava perdida entre mais e mais pensamentos, com o olhar distante minha mente divagava de forma melancólica pensando em minhas possibilidades quase nulas de sair dessa situação que tanto me incomodava, seria muito mais simples se pudesse apenas ter minhas próprias escolhas, afinal é a minha vida..."toc toc" de repente sou tirada da minha cabeça para encarar o local onde havia escutado tal barulho.

- Pode entrar - digo sem muita animação,o que transparecia pelo fato de estar cabisbaixa, mas claro por pura curiosidade meu olhar vagou para encontrar a pessoa que abria a porta do meu aposento - Ah, é você Valentina. — dessa vez minha voz saiu menos triste, eu realmente gostava de estar com ela, só queria que fosse em outras situações.

- Senhorita, o senhor Conrado está a sua espera lá em baixo - a moça diz encostando na porta, que por sua vez já estava fechada. Eu não sabia o porque ela insistia tanto em falar comigo daquela forma, nós conhecemos a tanto que era quase engraçado ver o modo que ela falava.

- Valen, já lhe falei que não é para me tratar com tanta formalidade, desse jeito eu não sinto que sou a sua Lulu. — murmurei olhando fixamente para aquele planeta verde que tinha naqueles olhos e que me deixavam tão vidrada.

- Eu sei Lu, mas o senhor Arthur estava indo para o escritório quando entrei, não quero problemas com seu pai. — diz em um tom de voz calmo e eu apenas manejei com a cabeça em concordância.

- Tudo bem. Agora vem, sente-se aqui - dou um sorriso ao mesmo tempo que minha mão da algumas batidinhas indicando para que ela se sentasse naquele - Me fale ... ele está diferente? — perguntei com a curiosidade bem presente em meu tom, afinal não via ele há bastante tempo, quando Conrado saiu do Brasil ainda era um garoto.

- O Conrado está mais bonito do que consigo me lembrar de nossos tempos de adolescência. eu sei que esses cinco anos que ele precisou ficar fora para estudar foram difíceis para vocês, mas acredito que toda a hesitação de ambas as partes irá se encerrar assim que se encontrarem, é o que estão dizendo -- sinto sua mão tocando a minha e apertando firme, aquele simples toque fez meu estômago revirar, só que não de um jeito ruim, eu me sentia daquele jeito toda vez que a pele de Valentina tocava a minha. No mesmo instante, nossos olhares se cruzam novamente, a arritmia faz-se presente e tinha medo que ela escutasse o quão acelerado meu coração estava. Eu sabia que tudo o que precisava estavam bem na minha frente.

- Você tem razão Valen. vamos então! - não separo nossa troca de olhares, ficamos assim por alguns segundos, que para mim poderíamos ficar até toda a eternidade e eu não reclamaria, infelizmente ela se levantou e fez um sinal para que eu fizesse o mesmo

Meus passos para fora de meus aposentos foram calmos, talvez havia um pouco de hesitação no movimento que meus pés faziam, confesso que estava um pouco nervosa para ver meu antigo amigo, tinha minhas dúvidas se ele ainda era a mesma pessoa de quando o conheci. Nós chegamos juntas até o salao principal e lá estava minha família esperando minha entrada, e quando apareci os olhares se viraram para mim. Podia ver um sorriso animado no lábios de minha mãe, já meu pai olhava para mim um pouco mais severo como se dissesse "você sabe o que deve fazer", e ao lado deles estava meu futuro noivo.

- Luiza! Está ainda mais magnífica! - realmente o rapaz estava mais elegante do que quando nos conhecemos, seu corpo mais musculoso, sua feição de homem marcava o rosto. Ele logo se aproxima fazendo uma referência e beijando minha mão carinhosamente - Estava conversando agora com seu pai descobri que deu certo a barganha da nossa casa, local próximo ao mar onde você sempre sonhou.

- Que grande notícia - verbalizo sem animação - Nossas mães terminaram o nosso enxoval, desde os talheres aos pequenos detalhes da decoração.

- Estará tudo pronto daqui um mês, como te sentes? - sou abraçada de lado pelo rapaz e recebo um beijo na bochecha. Todos ao meu redor esboçam sorrisos, como se fôssemos o casal mais lindo já visto, chegava a ser um incômodo para mim.

Queria poder dizer para todos presente que sinto enjôo só de pensar em passar o resto da minha vida presa a uma pessoa na qual não tenho nenhum tipo de sentimentos, nem no sentindo romântico ou até mesmo um desejo carnal. Claro que não o fiz, não podia transparecer o que se passava em minha mente então apenas me contentei em dar um sorriso sem mostrar os dentes e comentar que estava animada com o casamento. Meu pai naquele momento concordou com a cabeça e deu um breve sorriso, ele parecia orgulhoso mesmo sabendo que não estava feliz com tal escolha que nem minha era.

Vez ou outra Valentina vinha até a sala nos servir com algo, enquanto todos presentes comiam e faziam questionamentos propositalmente desnecessários e que me dava vontade de respondê-los com ousadia, mas precisava agir como uma dama, entao me certifiquei de ser monossilabica para não estender essa tarde tediosa. Em alguns momentos Conrado conversava comigo mas o sentia distante, disperso e isso me entrigava, mas não o questiono. Me pego admitindo que ele não era mais o amigo que me lembrava, o rapaz se tornou um homem quase irreconhecível, tinha medo do que aquilo podia significar, tinha medo que ele se tornasse parecido com meu pai no modo de agir com sua esposa, a tratando como total submissa. Eu não queria ser assim, acorrentada por desejos que não são os meus próprios.

- Terei bastante tempo para lhe contar sobre as minhas aventuras fora do Brasil. — Conrado falou com um tom animado, como se estivesse fazendo um teatro para os presentes assistirem.

- Meu bem, vou adorar escutar todas elas - menti descaradamente.

- Luiza sempre foi muito sonhadora, será encantador vê-la descobrindo coisas através do olhar de seu marido - meu pai diz tal atrocidade e eu quase cuspo a bebida que estava bebericando. Valentina que estava recolhendo algumas louças na mesa de centro pareceu escutar as palavra do meu genitor, e eu pude ver um sorriso sarcástico nascer em seu rosto, ela mais que ninguém sabia quando achava aquilo ridículo.

- Pai, isso não significa que eu desisti de meus sonhos. Meu marido será o meu apoiador e incentivador.

- Esses pensamentos juvenis irão cessar assim que você engravidar, minha filha, terá que se dedicar a cuidar de sua família - foi a vez da minha mãe falar. Meus lábios se abriram em um choque, aquelas palavras foram inusitadas, eu não queria ter um filho com aquele homem, tão pouco ser apenas a pessoa que cuida de suas crianças de da casa.

- É um conjunto de coisas. Tempo, idade, conhecimento.. tudo isso fará com tenhamos um casamento agradável e filhos inteligentes. Luiza vai ser uma ótima dona de casa - Conrado diz com um sorriso no rosto e minha reação é franzi a testa, nunca ouvi tamanha atrocidade antes, parece que ele havia se sucumbido aos ideias que antigamente tanto criticou quando mais jovem.

- Inteligentes e lindos - papai complementa.

Valentina se aproxima do sofá e pede permissão para nos servir, noto ela sendo simpática demais com Conrado, a verdade é que era seu jeito de ser e ela sempre tratou todos com muita cordialidade e respeito, mas por algum motivo inexplicável isso me assola e automaticamente minha cara se fecha.

- Tenho certeza que vossa senhorita será uma cuidadora de lar de mãos cheias - a moça diz quase como um sussurro enquanto tira a xícara de minha mão. Ela estava me irritando descaradamente, sabia como provocar meu ânimos que já não estavam muito em ordem.

- Não seja tola! - devolvo no mesmo tom assim que ela volta e coloca um prato com um pequeno pedaço de bolo em minhas mãos. Antes de se retirar, Valentina me fita por alguns instantes e meu corpo parece reagir, como se fosse um imã.

— Se precisarem de algo mais, não excitem em me chamar — ela faz a reverência e se retira me deixando estática ainda irritada com suas palavras anteriores, ela fez de propósito.

Ao cair da noite, Conrado e sua família pedem licença para irem embora, já que estava tarde e não queriam mais incomodar, e isso me fez agradecer muito mentalmente. Nos os acompanhamos até a porta, e me limito a despedir-me do homem dando-lhe um beijo na bochecha, não queria prolongar mais nada sobre esse fatídico dia. A partir de agora preciso me preparar psicologicamente para meu casamento que ocorrerá daqui á um mês. Se já achei apenas um dia cansativo, imagina passar o resto de minha vida daquela forma? Estava assustada, sabia que estava em uma armadilha direta para a infelicidade, mas como poderia me livrar daquilo?

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