Capitulo 3

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Tinha uma questão muito específica em minha mente naquele exato momento. Eu odeio festas ou odeio essa em específico? Eram deveras muitas coisas a serem organizadas como normalmente eram os eventos que ocorriam no casarão, entretanto, minha mãe estava mais mandona do que o normal, isso me deixava desnorteada e sem saber direito em como poderia ajudar ela so que ao mesmo tempo era o casamento da minha melhor amiga e se dependesse de mim, todas as tarefas que fora dada, seriam executadas com perfeição, Luiza merece. Ela merecia ser feliz com alguém que as pessoas aceitariam verdadeiramente, principalmente por sua condição, eles já estavam destinados um ao outro antes de nascerem, então aquilo deveria ser o certo, e eu só queria me certificar de que ocorresse tudo bem apesar da angústia sentida em meu peito.

—Valentina! Você está aí parada de novo...vamos precisamos deixar tudo em ordem para receber os convidados depois do casamento — minha mãe dizia enquanto polia algumas porcelanas, ela fazia aquilo com rapidez por basicamente ser algo diário em sua rotina e mesmo assim conseguia ser delicada.

— Mãe, preciso ajudar Luiza com sua vestimenta e cabelo, ela já havia me convocado para isso. Não se preocupe que terminando lá eu desço para ajudá-la com tudo — olho para a mulher mais velha dando-lhe um sorriso, preciso que ela sinta que está tudo sobre controle ou se não a mesma surtaria.

A caminho do quarto vejo alguns quadros de Luiza de quando era mais nova até atualmente. As lembranças iam passando em minha memória, de tudo o que vivemos desde que éramos apenas crianças tolas, que achavam que iam conquistar o mundo, lembro de como ela dizia que iria me levar nas aventuras dela de navio. Eu admirava o quão ela conseguia ser sonhadora, afinal não era coisas que damas faziam, geralmente se contentavam em cuidar da casa e ser uma boa esposa, mas não Luiza, ela tinha algo dentro de si que parecia que mesmo com obstáculos ela não desistiria do que acreditava, e eu a admirava muito por isso. Me lembrando dessas coisas um sorriso casto surgiu em meus lábios e logo estava de frente para o quarto da moçoila. Eu ia bater quando escutei soluços e imediatamente abri a porta com preocupação do que estava acontecendo.

- Lu, o que aconteceu? - perguntei com um tom de voz calmo mas ainda sim estava preocupada, me aproximei dela a abraçando para trás tentando lhe passar algum tipo de conforto pois sabia que a moçoila precisava

- Eu não quero morar sozinha com ele, Valentina. Não estou preparada para isso, não sei o que fazer e nem como agir - desabafa entre com seu choro exposto, sem pudor de me mostrar suas fragilidades.

- Eu achei que isso fosse o seu sonho - aperto ela ainda mais contra o meu corpo e sinto seu o aroma doce dela invadindo meu olfato.

- Isso é um pesadelo. Valentina, por favor, venha comigo, seja a minha criada, eu te peço. Você me conhece melhor do que ninguém, sabe de cada gosto pessoal, manias...more comigo - as palavras saem desesperadamente de sua boca, parecia totalmente aflita, o que me deixava com o coração na mão, odiava lhe ver daquela forma. Então me solto dela em um gesto e começo a massagear seus olhos passando meus dedos em seus músculos tensos assim como fazia quando éramos menor.

- Eu nao posso ir contigo Lu, você sabe disso - dizer isso era difícil para mim, porque tudo o mais queria era poder cuidar dela, mas não posso interferir nisso.

- Valen, por favor? - me ajoelho em frente a Luiza e nesse momento nossos olhos se encontram. Aquelas íris negras são tão convidativas, como se quisessem me dizer algo que seus lábios não permitem.

- Minha querida Luiza, de alguma forma temos que seguir separadas - ela nega com a cabeça mas não diz nada, sabia que eu ainda tinha algo a dizer — Enquanto eu puder tocar e respirar, você será o meu piano e o meu oxigênio. Está é a promessa que lhe faço, nunca estará sozinha.

- Você é uma romântica incurável - um sorriso enorme e lindo se abre em seu rosto, ela toca o dedo indicador levemente em meu nariz fazendo-me sentir as bochechas queimar com o gesto, era incrível a capacidade como ela conseguia me tirar de órbita com um simples gesto ou toque, só aquela mulher tinha tal efeito sobre minhas reações.

- Isto é um privilégio apenas da senhorita - vejo ela morde o lábio inferior para conter o sorriso e acho aquilo deveras adorável.

- Devo dizer que você é a minha música e o meu silêncio. A única pessoa em quem confio. Me conforta tê-la comigo. — falou por fim me fazendo soltar um suspiro com aquela sensação de borboletas que sentia a teu lado, era tão genuíno e puro, queria poder manter-la ao meu lado para sempre, mas isso não era possível.

Rapidamente sou puxada para um abraço, Luiza me aperta como se pudesse fazer nossas almas trocarem de residência; como se não quisesse me soltar nunca mais e eu também me sentia do meu modo prendendo seu corpo contra o meu tentando salvá-la de todas as coisas cruéis que existiam em nossa realidade. Não sabia dizer ao certo se foi a combinação das palavras com o momento emotivo, saber que não a terei aqui todos os dias, e aquele contato tão caloroso mas senti meu coração descompassado e meu estômago agitado.

- O que está acontecendo aqui, meninas? - nos separamos abruptamente após a mãe de Luiza entrar no quarto - Oh, minha querida filha, você estava chorando? - me afasto da morena e vejo Madalena tomando a frente segurando o rosto de Luiza com as duas mãos.

- Só estou emotiva com o casamento. — falou simples mas ainda era perceptível o quão abalada Luiza estava com os acontecimentos.

- Meu bem, nem consigo acreditar que isso está realmente acontecendo. Estou muito orgulhosa de você filha - ela abraça Luiza que mal retribui, pelas costas de sua mãe ela me olhando como se estivesse sido um péssimo conforto e revira os olhos fazendo-me rir baixo para que a senhora não pudesse escutar.

- Por gentileza, dona Madalena, preciso me aprontar.

- Oh.. claro. Quero que saiba que você será a noiva mais linda. Valentina, cuide bem desse cristal precioso. — olhou uma última vez para luiza com um sorriso orgulhoso no rosto e depois se virou para mim  que apenas balançando a cabeça e a senhora se retira do quarto. E sem mais delongas começo a arrumar minha amiga para aquele momento.

Assim que finalizamos, me aproximo por trás de Luiza que está parada em frente ao espelho olhando-se com um pouco de surpresa. Como estava bem próxima a ela, lhe dou um leve e aconchegante abraço, enquanto meus olhos passeiam por todo o seu corpo moldado por aquele vestido que a deixava tão deslumbrante e bela. Tive de respirar fundo ao sentir que meus lábios estavam pousados tão próximos ao seu pescoço, minha respiração batia diretamente em sua pele que já se demonstrava estar arrepiada. Que sensação estranha é essa que podia senti-la até em meu ventre? Como pequenas pontadas é um desejo insano que mal poderia descrever com palavras.

- Sua mãe tem razão, você é a pessoa mais linda que meus olhos já viu - digo encantada com a beleza que via diante de meus olhos.

- Ela disse noiva, mas é bom saber que você me acha linda - Luiza coloca suas mãos sobre as minhas que estão envolvidas em sua cintura.

- Tenho vários adjetivos para você, senhorita. Alguns deles nem posso mencionar de tão insanos - sussurro ao pé de seu ouvido e Luiza se afasta rapidamente. Não estranho sua reação, tenho certeza que ela sentiu o mesmo que eu, seu corpo fala. Respiração ofegante, olhos alternando entre meus olhos e bocas.

Isso nunca havia acontecido antes, não sei por qual tipo de coragem meu corpo foi tomado, só que quando eu percebi minha mente não tinham controlado minhas falicias, eram como se aquelas palavras tivessem escorregado de minha boca. O que eu fiz foi estranhamente bom e perigoso, aquela adrenalina correndo por minhas veias. Confesso que essas sensações são surreais e viciantes poder um pouco mais dela e perceber o quão mexida ela fica com apenas palavras insinuadas em seu ouvido, mas preciso aprender a me controlar, nunca havia provocado Luiza assim antes e isso bem no dia que ela estava se casando com outra pessoa.

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