Nós

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Não sei amarrar meus cadarços.

Nunca aprendi, não importa o quanto me ensinem. Torcer pontas, cruzar laços, atar nós... O que deveria ser uma tarefa simples e cotidiana, exige de mim um incomum esforço.

O problema é que todos os meus sapatos tem cadarços e, quando me aventuro em tentativas de torcer, cruzar e puxar, estes tem certa tendência a encarar-me como serpentes famintas.

Por não amarrar corretamente meus sapatos, tropeço.

Por tropeçar, caio.

As quedas já não me incomodam, embora eu preferisse evitá-las, se pudesse. Porém, já que não sei amarrar meus cadarços sozinho, fico atado à sina de cair.

Sei que existem sapatos que não necessitam de nenhum tipo de nó ou laço e que tudo seria mais fácil se eu os escolhesse, mas o fato é que gosto de cadarços.

Gosto da ideia de que um dia irei me levantar para o trabalho e num gesto automático, irei amarrá-los como se não fosse nada, como todo adulto faz.

Tenho alguém pra amarrar, fazer nós, dar laços e impedir que eu caia, mas um dia terei que amarrar meus próprios cadarços.

No próximo natal, pedirei tênis de corrida ao Papai Noel.

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