A melodiosa canção do casal de pardais do quarto andar insistiu em me despertar mais outra manhã antes do despertador das oito.
Tic tac tic tac
O relógio calmamente anunciava que ainda faltavam ao menos 15 minutos.
O edifício em que moro no centro da cidade, no quinto andar, tem vista para uma porção de outros caixotes de concreto revestidos em pastilha de granito escura, e o céu azul normalmente é cinzento, graças à fumaça das grandes indústrias.
Somente se eu tivesse uma visão aprimorada sobre-humana poderia enxergar através da poluição a beleza das paisagens urbanas.
Abrir as janelas para permitir uma brisa fresca revigorante não era uma opção, e o cheiro de queimado que vinha da cozinha também não era muito melhor.
Crash!
Um som suspeito de algo caindo no chão e se partindo veio de longe.
Em minha casa éramos só eu, mamãe e meus três filhos felinos — Soonie, Doongie e Dori. Não vejo o meu pai há muitos anos... desde que ele nos deixou por uma stripper de Los Angeles.
Uma stripper...! Dá para acreditar? É tão irreal que chega a ser engraçado!
Bem, pelo menos para mim, porque a senhora Lee não compartilhava do mesmo humor que eu.
Fazer as pessoas rirem depois de perdas dolorosas era outro superpoder que eu não tinha.
Se eu fosse um filho melhor saberia as palavras certas para confortá-la ao invés de rir da nossa própria desgraça, mas eu também era medíocre nesse quesito.
Com o corpo doendo depois de ficar tantas horas deitado, relutante, pulei da cama e me arrastei até o banheiro. Abri o registro e me enfiei debaixo d'água, preparado para iniciar o meu concerto musical da manhã para os potes de shampoo e vidros com creme, embalado pela melodia que repetia indefinidamente em minha cabeça.
As minhas habilidades vocais poderiam salvar o mundo de um silêncio entristecedor.
Eu estou certo disso.
O dia se iniciou usualmente chato como qualquer outro, mas não deveria ser. Era 25 de outubro, o dia de comemorar a minha vinda ao mundo há 25 anos atrás. Até combinava.
Eu devia cantar para celebrar, mas preferia uma boa lamentação carregada de drama com uma história de amor triste por trás.
Toc toc toc
Alguns minutos e batidas na porta depois, finalizei o banho e perdi alguns poucos segundos no espelho fazendo a minha rotina de cuidados com o rosto, para depois pentear os cabelos e me proteger com um desodorante de cheiro suave.
Será que os super-heróis tinham que se preocupar com espinhas ou as suas peles também eram perfeitas?
Malditos privilegiados!
Dentro daquele compacto banheiro branco, o chuveiro sob a minha cabeça despejava uma água tão confortavelmente morninha que eu quase me sentia feliz.
O ambiente limpo e claro era ideal para limpar também a mente, e a única cor que contrastava com todo aquele branco era o verde das suculentas falsas que enfeitavam a bancada da pia.
E o vermelho da água que escorria dos meus cabelos recém tingidos. Droga de máscara matizadora!
Se eu não gostasse tanto dos meus cabelos no tom marsala teria jogado todo o pote no lixo. Mas, felizmente, o tom fechado de vermelho vinho combinava bem com minha pele clara e meus olhos escuros.
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Spider-Han | MinSung
FanfictionNamorar um super-herói? Esse não é um privilégio que um simples mortal qualquer possa ter. É preciso ser super! Super-compreensivo, super-compassivo, não ter medo da solidão, ser portador de uma paciência sobre-humana, ter uma determinação imbatível...