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       Andar não me incomoda. A poeira sim. O ônibus quebrou apenas alguns quilômetros antes de chegar perto da cidade onde Bobby mora no campo.

      Apesar da insistência do motorista pra que ficasse e esperasse a ajuda chegar eu disse que continuaria a pé.

   Então cá estou. Andando no sol quente da manhã. Com a camisa amarrada na cintura, por que é quente demais. O cabelo preso em um rabo de cavalo que só me irrita por ter de ficar arrumando a cada cinco minutos. Maldito elástico frouxo.

   Estou com sede, cansada e realmente querendo muito, mas muito um suco de uva bem gelado. É meu suco favorito.

   Limpo o suor da testa com as costas da mão, que não surte efeito algum, estou suada por toda parte.

   Minha mente está cheia, com a mensagem de Sam, o silêncio de Dean... Só queria destruir tudo, quebrar alguma coisa.

   Arrumo abrigo sob uma placa de trânsito, tentando me concentrar nos problemas de agora. Que estou queimando nesse sol, com fome, com sede e puta pra caralho. E muitos desses problemas não tem soluções. Infelizmente.

   Deito na sombra, a grama me fazendo pinicar toda. Que ódio. Fico deitada mesmo assim quando ouço um som qual jamais me confundiria.

   "Baby" arquejo, sentando rápido demais, batendo a cabeça na placa debaixo "ah! Porra" resmungo, segurando a testa que agora arde.

Quando puxo os dedos estão ensanguentados. Olho pra estrada e um ponto preto ao longe fica cada vez mais distante e menor. Seria....

   Seria os Winchesters?

   Mas se fosse, Sam ligaria. Ao menos ele iria ligar.

   Eu devo estar é vendo coisas. Balanço a cabeça e levanto. Preciso seguir caminho.





✡️




    Quando vejo o ferro velho do Bobby quase começo a chorar. Me apoio na cerca de madeira que a muito tempo atrás foi branca e tento recuperar a energia pra ao menos chegar até a porta.

  "O que aconteceu com você?"

Dou um pulo, virando. Bobby se aproxima.

"Eu-"

"Sam disse que iria vir... Depois de você mesma ligar dizendo que viria" para á minha frente, desconfiado "por que chegou quase um dia atrasada?"

"O onib-" sou cortada quando ele joga um copo de água bem na minha cara. "Mesmo? Eu tenho a tatuagem" o teste da água benta de Bobby Singer é meio que infalível. Por que ele taca água em todo mundo. 

"Nunca é demais ter precaução" dá de ombros, agora sorrindo. "Bom te ver, garota"

"O mesmo, Bobby" sinto um pouco do alívio emocional qual tanto busquei nessas últimas horas.

"O que aconteceu com o ônibus?" Continua, enquanto andamos lado a lado.

"Ele quebrou antes de chegar na cidade" explico, secando um pouco o rosto com a mão, limpando na calça.

"Sério? Andou tudo isso á pé?"

"Andei. Queria algo em que pudesse me distrair" olho pra baixo. "Usar a energia"

"Ouvi que você e Dean brigaram por causa da caçada"

Vamos andando pelo ferro velho, desviando de pilhas e mais pilhas de carros e metal distorcido.

"Sam fofoqueiro" dou uma risada, por que realmente achei engraçado. "De algum jeito, durou até demais nossa parceria" concluo, mais conformada sobre o assunto. "Já tinha acabado antes, anos atrás... talvez já tivesse prazo de validade mesmo" dou de ombros, tentando não me sentir tão mal quanto pensar desse jeito me deixou.

    "Você acha?"

Nisso ergo a cabeça, vendo um Dean sentado nos degraus da varanda. Meu coração afunda com a visão. Conformada o caralho. "O que faz aqui?" Pergunto, espiando Bobby em seguida.

"Soubemos de um caso" Dean explica.

"É por perto?" Cruzo os braços, tentando ser profissional.

"É. Sabia que minha camisa tinha sumido" aponta pra minha cintura.

"Não foi de propósito" explico de má vontade. "Vou devolver quando lavar, não se preocupe" remexo o pé.

"Vocês precisam se resolver crianças. Caçar não é fácil mas brigar com seus coleguinhas deixa tudo ainda pior" Bobby resmunga bem mal humorado. Ele entra na casa, deixando nós dois.

O observo sumir pra dentro da casa, sabendo que o que disse é a mais pura verdade. Sabendo que ignorar Dean é impossível, respiro fundo e volto a olhá-lo. "Sam?"

Ele fica sério, ainda mais sério, me analisando com aqueles olhos verdes espertos. "Lá dentro, pesquisando"

"Olha, se não me quiser por perto, posso ir" aponto com o polegar sobre o ombro. "Não sei se iria mesmo ficar por aqui, não por muito tempo ao menos"

"Pensei que fosse" ele se levanta, vindo até mim. "Foi o que disse antes de ir embora"

"Eu sei o que eu disse" replico, irritada. "Estive pensando em voltar aos meus próprios pés sabe." Admito, um tom mais tranquilo, mordendo o lábio em seguida. "Só... eu não sei."

"Eu entendi. Mas só que poderia estar morta se ainda estivesse com esse modo de operar. A dois fica muito mais fácil, três melhor ainda" vem mais perto.

"Não vou comentar o quanto isso soou estranho" entorto o nariz pra evitar sorrir. Não vou sorrir, estou brava. 

Ele revira os olhos, mas noto que tenta igualmente não esboçar reação. "Eu sei que exagerei. Ouvi horas de monólogo sobre como fui rude de Sam então... Aqui vai... Desculpa"

Me surpreendo. Sei que estou em vantagem mas nunca perco a oportunidade de infernizar Dean. Nunca perde a graça. "Acreditaria se não estivesse parecendo que seus pedidos de desculpas são como um Oscar."

Estreita os olhos. "É de verdade meu pedido. Sinto muito se fui rude." Agora posso confiar, soa mais sincero.

"Gosto da sua honestidade. Quando quer ser, ao menos." Resmungo, apertando os ombros contra o pescoço. "Obrigada" concedo.

   Ele abre a boca pra falar mas a porta da casa bate com força, nos assustando por um momento. Sam sai pra varanda, parecendo bem preocupado.

"Você não vai gostar, mas precisa ver isso" diz, gesticulando pra dentro da casa com a cabeça.

Troco um olhar com Dean, antes de segui-lo. 

    Encontramos os dois na biblioteca, livros abertos e espalhados por todos os lugares. Uma nostalgia confortável toma conta de meu corpo.

     "Qual o problema?" Deixo a mochila perto da porta, indo até a mesa onde o notebook está ligado. Chegando mais perto, se trata de um jornal eletrônico.

  No começo, não entendo nada, até ler o nome da cidade. Aquela cidade. Congelo no lugar, olhando fixamente pra tela. É como se pudesse sentir a fumaça me sufocando de novo. O calor.

  "Por isso disse que não iria gostar do que visse" Sam diz perto de mim.

  No jornal diz que encontraram muito gado e até pessoas mutiladas.

"Vamos ter de voltar lá" resmungo, ainda presa na notícia, é como se fosse um imã.

"Vamos" ele confirma.

"Droga" praguejo.

   

Road To Nowhere - Dean Winchester FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora