5. Ato: Descobrir.

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Suma em plena sexta-feira, sem dar satisfação

Depois daquela sexta-feira minimamente caótica, regada de bebida e vexame, engraçado até, Naiane sumiu, mas calma, não simplesmente desapareceu para todos, mas sim para Rosamaria. E a oposta tentou, ligou várias vezes, mandou mensagem e no retorno a Saquarema na segunda seguinte, tentou falar com a amiga, pedir desculpa pelo que tinha feito, que ela se lembrava de tudo, mas que se fosse necessário fingiria que não, contudo a levantadora fez que a outra não existia e quando perguntada, apenas disse que não queria mais exposição desnecessária. Ela estava dando um gelo na oposta, e precisava daquele tempo para pensar em tudo que tinha escutado, e de certa forma aquele tempo serviria para acalmar seus sentimentos. Naquela sexta-feira, Naiane voltou para o hotel exausta, física e emocionalmente, afinal sua melhor amiga e atual mulher por quem ela estava apaixonada, disse no meio de um porre, dentro de um hotel esquisito, que sentia o mesmo. E puta merda, ela não esperava, definitivamente não. Pelo menos não naquelas condições. 

E desde então a levantadora decidiu ainda mais que iria focar na carreira, nos treinos e em tudo que a fizesse não pensar em Rosamaria, que ela eventualmente sabia ou via, porque estavam no mesmo lugar, a semana passava numa boa, sempre focada, mas a sua amiga parecia não estar da mesma maneira, Naiane perdeu as contas de quantas ligações recusou, de quantas mensagens apagou e de quantas vezes desviou do caminho da outra, fora dos momentos obrigatórios, óbviamente. Gattaz e Carolana passaram os dias dizendo que ela estava sendo imatura, e que estava se igualando às atitudes da Rosa bêbada, mas o lema era viva a imaturidade. Ainda doía, e ela não tinha a menor intenção de mexer no machucado que ainda estava cicatrizando, só porque segundo as amigas ela estava agindo como uma criança mimada.

— Quer um picolé? — Gattaz perguntou tirando de seu silêncio.

As duas estavam no quarto que dividiam descansando uns minutos depois do almoço e fazia muito calor na capital do surf, Gattaz tinha comprado uns picolés em uma de suas voltas pela cidade e os tinha posto no frigobar.

— Não, obrigada. — Sorriu e voltou a fechar os olhos. — Carol, acho que a minha cabeça vai explodir, tá muito calor. — Resmungou.

— Quer uma massagem? — A central sugeriu. — Prometo que sei uma muito boa. A Rosa que me ensinou. — Algum ponto na cabeça da levantadora latejou, Gattaz riu sem querer.

— Já ouviu falar que muito ajuda, quem não atrapalha? — Naiane encarou a amiga por um instante. — Ela não para de mandar mensagem, culpo ela pela minha dor de cabeça.

Gattaz sorriu mais uma vez e se aproximou dela com um picolé de limão e sem o menor cuidado jogou a sobremesa na levantadora, que devolveu com um xingamento, mas pegou o mesmo e pôs em sua própria testa.

— Isso vê se esfria a cabeça mesmo, tá muito mal-humorada. — Implicou. — Relaxa Nai, não é como se ela fosse o mau do mundo também.

— Pra mim é! — Ela tirou o picolé fechado da testa, abriu e começou a comer. — Eca, azedo!

— Para combinar com você! — Gattaz gritou — Come sem reclamar, a gente tem mais meia hora e treino com bola.

A levantadora não protestou mais, achou até bom, porque Caroline também ficou em silêncio e acreditem, aquilo era música para os seus ouvidos.

Não atenda de primeira aquela ligação.

Cinco portas antes, uma loira emburrada reclamava sabe Deus do que em voz baixa para Carolana e Roberta, que tinha que fazer um esforço muito grande para não dar altas risadas, pois Rosamaria proferia os piores xingamentos contra si mesma, desde de o famoso "não sabe beber, não bebe" ao "bem-feito Rosamaria, é isso que você merece!", entre outros piores. As amigas até queriam ajudar, mas não tinham como interromper o monólogo da outra, uma vez que ela sequer parecia respirar, enumerava as ligações não atendidas, as mensagens ignoradas e até mesmo os "bom dia" dados durante a semana até aqui, Rosamaria questionou inclusive seus métodos, uma vez que parecia que nenhum deles tinha tido eficácia o suficiente para que a levantadora parasse de fingir que ela não existia. Naiane não estava se blindando, estava sendo má, isso sim. Poxa, Rosamaria tinha aberto seu coração, falou até mais do que a própria boca, dedicou-lhe uma música no karaokê, não é possível que não tinha servido de nada.

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