O peso de uma formiga
Um grande elefante, cansado de brincar a tarde inteira, caiu de sono exatamente na frente do grande portão da fazenda do senhor Zezito. O animal era muito grande e obeso, pesando toneladas. Tão grande e cheio que dificultava a entrada para os outros animais passarem para dentro da fazenda antes que o senhor Zezito chegasse lá do campo.
- Justo na frente do portão? - resmungava uma tartaruga.
Aqueles animais, desde a onça, a galinha, o pato, o porquinho e até os jacarés, fugiam para o rio brincarem, enquanto o dono da fazenda capinava o mato no campo. Os animais faziam a festa com ausência de Zezito, era a oportunidade deles falarem e serem amigos longe do campo de visão de algum humano chato.
- Acorda sua tromba de mangueira, anda logo, vamos! - advertiu a galinha Có có có nos ouvidos do grande elefante. Mas nada do grande elefante despertar. Só roncava mais e mais.
Sem paciência, a onça decidiu roer um lado da orelha do elefante para ele poder sentir algum incômodo e acordar logo, antes que Zezito chegue.
Mas nada. Nada acordava o peso grande. Até o cavalo relinchou bem alto. Porém, sem sucesso de novo. O elefante continuava a cochilar. Houve uma algazarra entre os animais ali discutindo maneiras para despertar o grandão. Estavam desesperados para entrarem antes que o dono da comprida fazenda chegue. O sol já estava indo embora e a lua quase subindo. Mas a soneca do elefante persistia. Mandaram o gambá subir no elefante para que o grandalhão pudesse sentir o fedor dele. Mas nem o fedor insuportável foi suficiente. Naquela hora todos já estavam sem esperança. Já era hora deles estarem fingindo odiar mutualmente, mas o ódio estava concentrado no elefante.
- Vamos pular em cima dele - gritou o tamanduá. Mas ninguém sequer conseguia escalar aquele corpo obeso. Só restava esperar acontecer algum milagre e o elefante acordar subitamente daquele sono pesado.
- Acorda! - gritava o jacaré, já serrando os dentes com raiva.
Estava ali todos os animais da fazenda observando o elefante sobre o gramado, impedindo a passagem daquelas criaturinhas.
- O senhor Zezito já está chegando. Vai ser tarde - lamentava a galinha Có có có.
Um ser bem pequeno, apareceu, tentando falar com os demais animais - a formiguinha. Mas com a algazarra ninguém a escutava, e nem sabiam que um ser tão pequenininho estava presente ali.
- Aqui! - gritou a formiguinha tentando ser ouvida. -- Eu posso ajudar! - berrava, já sem forças. Mas ninguém a escutava.
A formiga parou de tentar se comunicar e foi em direção ao grande problema: o elefante. A formiguinha subiu pela tromba do elefante, o que fez cócegas no grandão. Depois a formiga subiu mais alto, com sua facilidade em subir e mordeu bem nas costas do elefante.
O elefante acordou na hora com um grande bocejo e se remexeu um pouco, como se para tirar a coisa que mordeu ele. Isso fez com que a formiguinha caísse no chão onde estavam reunidos todos os outros animais, que se animaram ao ver o grandão se acordar sozinho.
- Um verdadeiro milagre - disse a galinha Có có có.
Assim, finalmente o elefante abriu os olhos e saiu da frente do grande portão da fazenda.
O grupo de animais corria para dentro do sítio às pressas com medo do dono da fazenda chegar. A poeira levantou e com a correria acabaram pisoteando a pobre formiguinha. Finalmente, todos os animais entraram, inclusive o elefante.
A poeira abaixou e os grãos de terra cobriram o corpo da formiguinha que jazia morta no chão, após ter tentando se comunicar com os demais. Dentro da fazenda os animais iam para cada nicho que os pertenciam. A galinha foi para o galinheiro, os jacarés para os lagos, e as vacas para o campo comer capim. Agora todos fingiam serem inimigos entre si. A vida como os humanos enxergavam os animais voltou. Seu Zezito voltara e foi tirar o leite da vaca como de costume.
A noite veio e todos dormiam, uns temporariamente, e já a pobre formiguinha para sempre.
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Contos sublimes
ContoUma coletânea de contos recheados de encanto, paixão, fábulas e criatividade. Escritas pelo escritor e poeta Naison Gomes.