Se correr o bixo pega, se ficar o bixo come

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UMA NOITE COM O LOBISOMEM - se correr o bixo pega, se ficar o bixo come

O celular na escrivaninha de Julie tocou.

Vibrou tanto que o aparelho estava se arrastando sozinho pela mesa de madeira. Julie, no entanto, não ouvia o zunido de alguém tentando ligar, estava ocupada demais cantando Royals no chuveiro, enquanto se arriscava dando uns passos. 

 Quase caíra no piso branco do banheiro ao pisar no sabonete que estava bem pequeno, evidenciando que já fora usado muito. O mesmo sabonete usado pelo irmão, mãe e seu pai, este extremamente cuidadoso e neurótico. 

 Julie pega a toalha e passa no cabelo, esfregando o tecido nos fios. Admirava sua nudez no espelho e constantemente olhava para a porta semi aberta, verificando se não vinha nenhum estraga prazer. Subitamente notou um líquido vermelho derramando entre suas colchas. Ficou horrorizada e se limpou com papéis higiênicos de dentro do banheiro.  

 Estava menstruada. "Virou moça, mas não significa que pode namorar." Dizia seu pai a ela quando tinha treze anos. Agora ela tem dezoito e nunca namorou na vida. 

 Seu celular vibra de novo, como estava nas bordas da mesa, o aparelho se espatifou no chão. Julie quis quebrar o resto em sua própria face. 

"Que tonta e desatenta eu sou" -resmungava por pensamentos. 

Uma voz indulgente pôde ser ouvida. Julie viu até o espelho em sua frente tremer. Era seu pai.

 — O que você quebrou aí, menina? — Gritou.  

 Julie agiu por impulso e pegou os pedaços do aparelho e jogou na privada. Quando seu pai entrou no banheiro, só ouviu o som da descarga descer e sua filha de toalha desconfiada. 

— Já são duas vezes que você defecou hoje, o que andou comendo? — perguntou o pai na porta do banheiro, com um controle de TV na mão.  

— É que… eu… --balbuciou Julie. 

O velho a olhou babando de raiva. 

— Não vá dizer que foi o macarrão de sua mãe outra vez -disse a ela, apontando o controle na cara dela. Julie, porém, não parecia prestar atenção no pai reclamando por seu suposto excesso de fezes, ela denotava dor em sua cara. 

— Vamo logo, tenho que te deixar ainda na escola. — Disse o pai fechando a porta em uma força tão grande que novamente o banheiro todo estremeceu. 

 No mesmo momento que o pai virou as costas, Julie levantou o pé esquerdo que estava pisando a película do celular quebrado. Esquecera de joga na privada e escondera com o próprio pé. Quando tirou foi um alívio da dor aguda indo embora.

  A lajota branca ficou com uns pigmentos vermelhos. Agora ela só imaginava quando iria ganhar um novo aparelho. 

 Julie vestiu uma saia na altura do joelho e um sapato preto que combinava com sua blusa. Ela então foi para a cozinha e deu um beijo estalado em seu irmãozinho de doze anos que comia ovos mexidos na mesa da cozinha.  

 Julie nem bebeu o suco todo e foi arrastada pelo pai direto para o carro. Seu carro era bem cuidado, embora fizesse bastante tempo comprado.  

 Julie sentou no banco de trás e colocou os fones de ouvido, talvez, com medo do pai achar que ela não tinha mais celular. 

 — Ei, menina -brandou ele no volante -não coloque fones de ouvido quando seu pai está por perto. 

 Julie tirou imediatamente os fones, que, na verdade, não estavam ligados em nada e acenou a cabeça para o pai, que a inspecionava pelo retrovisor. 

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