Capítulo II: O Trem

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A terceira classe do trem era mais simples, poucos detalhes, os bancos eram de madeira com um estofamento fino na parte que sentamos, o vagão estava quase lotado e tinham mais pessoas atrás de mim buscando lugar para se sentar, me direcionei a um banco próximo a porta e sentei no lado da janela deixando o saco com minhas coisas nos meus pés, só havia aquele lugar vago, mas logo um rapaz sentou-se ao meu lado.

Me senti um pouco desconfortável, eu sentia seu olhar sob mim, por um momento temi que fosse alguém que eu conhecesse, mas era improvável que estivesse na terceira classe, esse simples pensamento contém muita arrogância, devo mudar essas falas medíocres.

Na minha frente havia um casal, com uma certa idade, provavelmente agricultores a perceber suas mãos calejadas da dureza do trabalho no campo e ao meu lado o rapaz que mantinha seus olhos sobre mim. Retiro meu capuz, libertando meus cachos, passo meus dedos levando meus cabelos e prendendo-os atrás de minhas orelhas e puxando eles da minha testa para não atrapalhar minha visão. Continuo sentindo o peso de seu olhar sobre mim, mas agora parece estar muito pesado e então me viro para encará-lo com as sobrancelhas um pouco arqueadas devido a raiva que eu já estava sentindo dele.

Ele era mais alto que eu e me encarava de cima, estava bem vestido e parecia sentir bastante frio, com certeza ele é natural das Províncias Vermelhas, não era feio, provável que estivesse na casa dos 25 anos, ele tem uma barba pequena negra com alguns pelos ruivos, seus cabelo é castanho escuro liso.

–Está frio não acha? –Ele disse me encarando.

–Não acho, mas como presumo que você seja das Províncias Vermelhas, para você deve estar. –Digo um pouco incomodado, minha fala havia soado um tanto arrogante.

–Não gostamos que nos chamem assim, são duas províncias diferentes. A Província de Oprália e a de Arefênia tem grandes diferenças, é muito injusto reduzir a individualidade de cada uma a uma coisa tão simples por causa de um passado de guerra. –Ele disse com um certo rancor na voz, mas se mostrando muito inteligente. –Qual seu nome garoto? Creio que começamos com o pé esquerdo, devíamos nos apresentar primeiro. –Perguntou-me olhando em meus olhos.

–Sou...Berílio, prazer. –Eu digo tendo uma certa demora para pensar em um nome falso e ele logo percebe.

–Prazer, sou Alceu e ao contrário do nome que você me disse, o meu é verdadeiro. –Ele disse dando um sorriso grande mostrando suas covinhas. –Você pretende ir para onde?

–Meu nome e destino não são muito da sua conta. –Digo ficando irritado e com medo, suas perguntas poderiam aos poucos me revelar e comprometer minha fuga.

–Você não é muito educado, a maior parte das pessoas da capital são assim. Vocês em sua maioria parecem infelizes. –Ele disse um pouco mais baixo para as pessoas ao redor não escutarem.

–Desculpe-me, mas eu não estou em bons lençóis no momento. –Digo abaixando a cabeça um pouco, não me sentia realmente mal por ter sido insolente com ele, mas desculpar-me era a melhor solução.

–Tudo bem, quer ficar em silêncio né? Apesar de seu desinteresse, conversar contigo é bom, quase natural. –Ele disse colocando uma mão em meu ombro de forma carinhosa, demonstrando certo apoio a minha situação deprimente.

Passo a olhar pela janela e percebo ele pegar no sono e sinto sua cabeça cair no meu ombro, me mantenho parado a partir daí para evitar acordá-lo e ter mais rodadas de conversa invasiva.

A paisagem ia mudando aos poucos, das planícies congeladas chegamos nos Pântanos do rio Urbel, era a divisa entre a Província de Gelidória e a de Serrantória, subiremos sempre próximos ao rio agora até chegar na estação de Planaltina, apesar da cidade ser pequena e incrustada entre a montanha e o vale do rio ela abriga a estação com mais conexões do reino, dali pode-se ir para qualquer província, nem tudo na estrada de ferro, mas quase tudo.

Cevila: A RevoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora