Me Ouça

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Desperto ao sentir um toque quente e suave no meu braço.

Me movo devagar porque definitivamente ainda prefiro continuar com meu sonho maravilhoso onde o meu cunhado — se é que ainda posso chamá-lo assim. — veio para minha casa, trouxe os meus sobrinhos e sua irmã, algo sobre estarmos numa cama trocando beijos e abraços, toques e carinhos.

— Bom dia, docinho.

Esse sotaque de português que não combina com o meu português do Brasil, o som dessa voz baixa e grossa, familiar há alguns dias, mas tão quentinha e confortável.

Ganho um beijo suave no ombro e fico por alguns momentos me acostumando com a claridade do meu quarto, as cortinas entreabertas e a brisa meio fria que vem lá de fora. Abro bem os olhos e vejo primeiro meu corpo coberto até a cintura, depois meus pés de fora das cobertas e minhas pernas abertas.

— Bom dia — digo fechando as pernas e me sinto meio sem graça.

É que ele está usando um short de malha e parece ter acabado de sair do banho enquanto eu ainda estou processando todas as informações. A porta do meu quarto está aberta, escuto o som da tv da sala ligada e o barulho dos meus sobrinhos conversando com a Anne. Sinto cheiro de café e é automaticamente inebriante aos meus sentidos.

— Fizemos o café, as crianças já exploraram sua horta, estão encantadas com suas plantas e as árvores nos fundos da propriedade.

Que propriedade?

— Ah, eles pularam a cerca — concluo me erguendo.

Acho tão chique ele se referindo ao terreno do vizinho como "propriedade".

— Não deveriam?

— Eu também faço isso, então, acho que tudo bem.

Me sento vendo-o sorrir todo tranquilo, longe de toda a tensão que eu sentia quando meus pais estavam por perto. Acho que de alguma forma ele estava tentando mostrar aos meus pais que era capaz de cuidar das crianças e fortalecer laços e que por isso sempre aparentou ser um cara sério demais, não que ele não seja, mas sei lá, é diferente agora.

Arrumo a alça da minha blusa de dormir e bocejo colocando a mão na boca, puxo meus cabelos para trás e sei que não estão assim tão bagunçados. Arthur mantém o sorriso e se inclina colocando um beijinho quente no meu ombro. Minhas bochechas ficam quentes porque é inevitável. Sinto cheiro gostoso de um perfume amadeirado com boas notas de cravo, esse eu reconheço de longe.

Ele está usando o perfume que eu dei para ele, nem acredito!

— Vem tomar café?

— Tá, só vou tomar um banho e me trocar.

— Nós pegamos mangas, acho que faz um século que eu não faço esse tipo de coisa.

— Vocês portugueses são bons em pegar nossas coisas.

Confesso que estou meio envergonhada, mas ainda assim me levanto e vou até o meu guarda-roupas, abro a porta e pego um short jeans e uma blusa de alcinhas, uma calcinha e um sutiã, ele está sentado muito tranquilo na minha cama.

— Acho que posso me considerar meio brasileiro agora que estamos juntos, portanto, não é bem um furto.

Reviro os olhos.

Mas por dentro é algo como "Estamos JUNTOS!".

Atravesso meu quarto indo para o rumo do meu banheiro, ele se levanta e começa a pegar o cobertor, sei que vai arrumar a cama e não considero isso assim tão surpreendente, eu percebo que o Arthur não parece ser desses caras bagunceiros ou desorganizados.

Garota Gorda - Livro ÚnicoOnde histórias criam vida. Descubra agora