Garota Gorda - Livro Único

Aqui Comigo

— A Anne parece bem familiarizada com os legumes!

Vejo Anne sentada no batente da varanda descascando algumas cenouras, pedi que ela descascasse as cenouras e as batatas para a maionese, os gêmeos estão sentados no chão na outra ponta do terraço brincando com seus brinquedos espalhados para todos os lados.

— Ela é uma ótima assistente.

Me abaixo deixando a bacia num canto, vim para a horta pegar algumas folhas de alface, cebolinha e catar alguns tomatinhos e outras folhas, quero preparar o peixe que eu comprei na churrasqueira, bastante salada e algumas opções.

Arthur se abaixa ao meu lado e indico os pés de tomates cereja que ficam a minha esquerda, ele começa a recolher os minitomates com cuidado, tem dedos grandes, isso parece uma missão meio complexa para um homem como ele.

Em outros momentos eu nunca o imaginaria aqui fazendo esse tipo de coisa, ele é do tipo que fica enfurnado em um escritório por horas analisando papéis diante de um computador cheio de contas, isso é algo do qual eu tenho me perguntado, eu não busquei conhecer o Arthur tão bem nesse sentido.

— O que faz em Charlotte?

— Meus pais me deixaram um bom negócio de importação agrícola, me formei em arquitetura e urbanismo, tenho uma pós medíocre em geopolítica, enfim, não sinto que possa caber em algum nicho.

Nossa, isso tudo?

— Achei que você era um diplomata.

— Acho que também sou um pouco disso.

Ele me olha meio de lado apoiado nos tornozelos, estou acocada porque essa costuma ser a melhor posição para recolher minhas hortaliças do almoço. Tem umas épocas do ano que não consigo cultivar muita coisa, mas o restante do ano consigo ter bons cultivemos.

Ainda bem que a Jandira aguou tudo para mim, se bem que não fiquei nem quinze dia s fora. Voltando ao Arthur...

— Você cuida da empresa por herança e não exerce sua profissão porque não te dá dinheiro — concluo pensativa.

— Eu fiz alguns períodos de administração também, gestão de negócios, foi algo do qual meu pai me pediu muito durante a vida — ele continua a pegar os tomatinhos maduros. — Suas gatas respeitam a horta?

— Elas têm o espaço delas na lateral da casa, mantenho elas afastadas daqui porque é para consumo, acho que a erva do gato é mais interessante — respondo e sorrio. — Elas ficam boa parte do dia subindo nos muros e andando pela casa, nem beiram a horta.

— Deve ser muito bom ter pets obedientes.

— Eu sou disciplinada, é um oficio que adquiri por morar sozinha, depois de ter comprado minha casa adotar Kitty e a Katt foi o meu segundo grande passo. Eu as achei jogadas num bueiro perto do mercado no fim da rua, fiquei com muita dó. Aqui infelizmente é recorrente esse tipo de prática.

— Eu segurei a rajada no colo hoje cedo, ela veio se esfregar em mim, me senti meio querido, sabe?

— Katt, a galeguinha é a Kit, elas têm coleira e rastreador, mas não saem das minhas vistas.

— Você é bastante organizada.

Ele indica as fileiras de hortaliças separadas por tamanho na outra ponta da horta.

— Quando a safra é boa eu dou para a Jandira e para alguns vizinhos, eu gosto de me sentir útil nas minhas horas vagas, sem falar que me desestressa cuidar da horta e da minha casa.