Mãos fúnebres

1 0 0
                                    

Será que essas suas mãos são mesmo reias?
Elas tocam, elas sentem, mas será que são reias mesmo???
Tentei por mim mesmo tocá-las e as senti quentes, pulsantes e vivas. Elas se mexiam e tinham dedos grossos que faziam um carinho tão bom, tão intenso.
Eram mãos que davam um tchau atencioso só pelo seu balançar. Era meio desesperado e desgovernado, mas tinha sua particularidade, sua específica maneira. Seus "ois" dados a mim também eram especiais, me faziam sentir tão diferente porque, em que mundo mãos tão esbeltas como aquela ficariam preocupadas em dar um oi para mim, somente para mim?
Sabe, não eram mesmo mãos grossas! Não tinha calos, nem cicatrizes e nem sujeira, eram mãos feitas, cuidadas e cheirosas. Eram dedos delicadamente grossos e que adoravam passar calor, segurar com força, te dar segurança. A pele tão macia...
Um dia tentei tocá-las e fui, estava tão diferente, indiferente. O calor que antes transpassavam, se tornou frio... Tão rápido, tão apressado, quase que sem tato. Acho que estavam focadas em outras coisas, talvez coisas demais para segurar, mas por que mudar justamente comigo? A sua quentura era tão apreciassada por mim, tão validada e endeusada, eu amava!
Seus tchaus já não eram mais especiais, eram como todos os outros. Sem fundamento, sem verdade, só uma grande mão a balançar por costume de balançar. Seus traços delicados foram sumindo e desaparecendo, as unhas feitas, a maciez, a delicadeza... Até não ter mais. Elas se tornaram mãos fúnebres, não faziam diferença, não existia pulsar e faziam questão de não dar carinho. Até podiam segurar algo talvez por um tempo, mas nunca com o mesmo entusiasmo, nunca daquela forma que fora um dia, nunca com a mesma segurança...
Como mãos podem morrer desta forma para alguém que as segurava de uma forma tão boa, tão firme? Mas elas morreram e o que me restou no lugar de afago e doçura foi a amargura e o abandono.

Poemas Onde histórias criam vida. Descubra agora