Conversas silenciosas

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25 de outubro de 2023

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25 de outubro de 2023.

Os dias estão uma grande loucura na Quasedilla ultimamente; antes o normal daqui era definido como pessoas chorando, gritando, batendo ou em um estado catatônico, mas agora... não sei, parece até que o hospício foi dividido em duas partes: uma que está se recuperando e outra que está apenas piorando, que está se afogando cada vez mais em seus medos e segredos, cada vez mais reprimida pelo medo. E pela primeira vez, não sinto que me encaixo na pior parte.

Por incrível que pareça, de acordo com a minha terapeuta houve uma pequena melhora, não que eu me sinta melhor, mas pelo fato de eu estar andando mais pelo ambiente de acordo com Niki mostra uma pequena progressão, já que desde que cheguei aqui fico a maior parte do tempo em meu quarto. Acho que apenas estou caminhando para ver o quão miserável sou ao ponto de meu pai ter que me internar para eu não tentar me matar, tipo, se tivesse conseguido não estaria aqui, isso só demonstra o quão inútil sou.

Mas há outra razão: Roier. Ele está cada dia mais convencido de que é um fantasma e sério, é muito errado da minha parte, mas é completamente estranho. Quer dizer, ele fala que já morreu com tanta confiança que chego até a me questionar se é verdade, mas depois lembro que estou em um hospício e então o moreno acaba não me convencendo.

Uma coisa que estou tentando entender é como o mundo funciona para o moreno baixinho de olhos castanhos; um dia ele começou a bater enquanto gritava por ajuda, uma noite consegui ouvir seu choro e em uma refeição normal, ele não parava mover a cabeça. Não observo isso por diversão, pelo contrário, fico triste com a situação.

Como será o mundo para Roier?

- Boa tarde, Cellbit! - Logo a voz do mexicano invadiu o ambiente.

Sua voz estava um tanto rouca, seus olhos estavam cobertos de olheiras e seu rosto estava um tanto pálido; de repente, um bocejo escapou de seus lábios carnudos e um tanto rachados: é isso, Roier estava com sono, provavelmente não dormiu direito novamente.

- Pegou pouca comida hoje. - Murmurei ao ver seu prato (aquilo seria o almoço) com uma quantidade pequena de arroz e frango.

Logo, comecei a comer o que, inclusive, era um outro ponto da minha pequena melhora: estou me alimentando melhor. Acho que talvez seja apenas uma questão de tempo até eu piorar novamente e morrer usando um estilete qualquer. É, isso seria mais provável do que um dia eu sair do hospício.

Enquanto estou comendo, percebo um detalhe muito importante: além de não estar comendo, Roier está um tanto quieto hoje, normalmente ele estaria falando coisas aleatórias ou então suas teorias que envolvem e quererem que ele sofra.

- Está tudo bem? - Perguntei para o moreno, que apenas continuou olhando fixamente para algum lugar.

Seu olhar é único; ele não parece estar olhando diretamente para alguém, ele atravessa totalmente o corpo da pessoa. No começo foi um pouco assustador para mim, mas depois me acostumei.

- Roi...

- Ah! Merda... merda... - De repente, ele começou a sussurrar enquanto respirava ofegantemente.

- Quer que eu chame alguém?

- Não, não. Está tudo... bem. - O mais baixo murmurou e logo abaixou a cabeca. desviando seu olhar de qualquer coisa. Então, fechou seus olhos. - Eu acho.

- Não vai comer? - Perguntei ao ver seu prato totalmente intocável.

- Não posso.

- Algum remédio que tirou seu apetite?

- Veneno. Sei que colocaram alguma coisa na minha comida. - Ele falou novamente com aquela confiança um tanto única. Roier não tem dúvida alguma do que fala, isso é tão... não sei definir.

É estranho e triste que ele tenha essa confiança a favor de suas paranoias, não é que ele seja uma pessoa confiante.

- Abre a boca. - Falei enquanto colocava um pouco de arroz em um garfo.

- Não vou comer.

-Ah, você vai. Quer ficar doente? Dormir direito 'cê não consegue, se ficar sem comer você está pedindo para te entupirem de remédios.

- 'TÁ ENVENENADO! - Ele gritou e logo percebi uma certa agitação em sua mão esquerda.

Roier está ansioso e com medo.

-Se acalme, não está envenenado.

- Não...

- Você confia em mim? - Com um tom de voz mais alto perguntei e no mesmo instante, ele suspirou e deixou eu alimentá-lo.

De forma alguma me importo com Roier, apenas não quero me sentir um completo monstro então, sempre estou ajudando o moreno. E... de qualquer forma, não adianta eu criar qualquer vínculo com ele porque sei que nossos caminhos se separarão: ele sairá daqui, eu morrerei aqui.

Por enquanto, acho melhor me fantasiar com um pouco de amizade e algumas conversas silenciosas.

Por enquanto, acho melhor me fantasiar com um pouco de amizade e algumas conversas silenciosas

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OMG! ✤ GuapoduoOnde histórias criam vida. Descubra agora