Start of Time - Nova Versão [Supercorp]

Capítulo 8

Dois meses passaram.

Era fim de março, e Kara Danvers estava perdida. Perdidamente apaixonada pela melhor amiga com quem dividia o loft e não sabia o que fazer.

Como dizer a Lena, quem havia ficado cinco anos presa num porão sendo abusada das piores maneiras possíveis, que seu coração batia forte por causa dela? Que todos os sorrisos em seu rosto eram por causa dela? Que havia superado toda a dor que Lucy Lane causou porque estava apaixonada por ela?

Impossível. Então, preferiu o silêncio. Era melhor continuar como estavam, cultivando aquela linda amizade e criando aquelas duas crianças incríveis. O tempo se encarregaria do resto, pensou Kara ingenuamente, achando que aquela paixão seria passageira, que talvez só estivesse confusa, misturando amizade com amor.

Naquele meio tempo, Lena fez progressos na terapia. Estava mais autoconfiante, embora os traumas ainda fossem pesados o suficiente para fazê-la paralisar do nada, subitamente, enquanto, por exemplo, lavava a louça. Houve uma vez que acabou derrubando uma louça do nada, assustando Kara e as crianças. Tudo porque uma memória indesejada veio sem motivo algum, engatilhada de súbito.

Quando Lena não usava blusas compridas e principalmente quando passou a usar regatas por causa do fim do inverno, Kara começou a reparar em suas cicatrizes, que eram muitas. Algumas maiores que as outras, mas todas indicavam claramente os maus tratos terríveis que sofreu naquele maldito porão. Kara ficava possessa de ódio toda vez que pensava nisso. Se pudesse, mataria Charles Wood com as próprias mãos.

Todos os domingos, elas iam ao parque. Nellie ficava correndo com Batman e Kara fazia de Kyle um aviãozinho ambulante; o bebê obviamente adorava, pois ria até babar. Lena apenas registrada tudo em seu celular. Aquela altura, já tinha tantas fotos... Passou a registrá-las num instagram privado onde seguia apenas seus novos amigos.

Lena percebeu que toda aquela falta de habilidade com Kyle, a sua impaciência nas primeiras semanas quando ele chorava e o medo de não conseguir amá-lo foi pouco a pouco dando espaço para um sentimento materno muito bonito. Agora, com quatro meses, Kyle lhe parecia bem mais atraente do que quando nasceu. Era um bebê gordinho, fofo, risonho, que não chorava tanto e se acalmava com facilidade; especialmente quando Kara entrava na jogada.

Nellie continuava chamando Kara de mãe o tempo todo, mas não deixou de chamar Lena de mamãe, o que indicava que ela entendia quem de fato era sua mãe, porém às vezes parecia que ela realmente achava que ambas desempenhavam estes papéis, cada uma à sua forma. Lena tinha medo do que isso poderia significar. Tinha medo que quando tivesse que ir embora do loft com os filhos, Nellie fosse ficar totalmente arrasada. Porque em algum momento eles teriam que partir. Kara não iria abrigá-los para sempre. Ela tinha a própria vida. Não ficou com Lucy Lane, mas logo arranjaria outra namorada, pensava Lena, ansiosa, triste e... com ciúmes. Era desconfortável imaginar sua amiga namorando, abraçando, beijando outra mulher.

Toda vez que se abraçavam, que trocavam qualquer toque, Lena imaginava que em algum momento Kara faria aquilo com outra. Era um pensamento incontrolável e estranho, afinal, eram apenas amigas, mas a jovem Luthor perdia horas pensando nisso, sofrendo por causa disso.

[...]

Madrugada de domingo, Kara estava de folga por todo o fim de semana. Ela havia adormecido em sua cama com Nellie e Batman. Kyle no berço. Lena, que não conseguia dormir mesmo e estava com o hábito de fazer suas pesquisas e sua "autoterapia" nas madrugadas, foi ficar na sala, sentada na mesa principal com um notebook aberto, o qual havia comprado há um mês em uma das saídas que fez com Harley para ir ao shopping atrás de algumas coisas que necessitava, roupas e tudo o mais. Como Kara estava ocupada, Harley fez questão de acompanhá-la, tornando o passeio super divertido com suas piadas e opiniões polêmicas sobre tudo.