Capítulo 11

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Coincidente, a pequena Eleanor completava quatro anos em maio, quando Kyle comemorava seu sexto mês de vida. Sendo assim, Kara e Lena tiveram a grandiosa ideia de fazer uma única festa no dia do aniversário de Nellie. Depois de conversarem bastante, avaliando os prós e os contra, entraram num acordo para organizar aquela pequena festinha em um salão. Não seria nada extremamente luxuoso, porque Kara não tinha dinheiro como Lena, e a loira queria participar ativamente em tudo, o que significava pagar metade dos custos do aluguel do lugar, dos enfeites, das comidas, de tudo mesmo. Lena também não ligava para luxos, fora que Nellie só tinha alguns amiguinhos do condomínio, além de sua nova família.

Passaram três semanas organizando tudo. Lena encontrou o lugar perfeito. Bateram o martelo que o tema da festa seria mesmo Monstros S.A, animação que ambas adoravam, e sobretudo era o filme favorito de Nellie. Fecharam com um buffett, decidiram todas as comidas e escolheram juntas cada pequeno detalhe, como se fossem casadas. Como se fossem mães de Nellie.

Elas eram. No fundo, as duas sabiam disso.

O assunto Andrea ficou esquecido. Não falaram mais sobre aquilo.

Porém, Lena ficou com algo pairando na cabeça. Algo que passou a incomodá-la muito.

Por mais que Andrea fosse uma mimada que estivesse com o orgulho ferido por Lena ter se apaixonado por Kara, ela não deixou de dizer algumas verdades naquela tarde. Tudo que aconteceu entre Lena e a policial foi muito rápido, e não teria acontecido daquela maneira em outras circunstâncias. O fato de estar indefesa, precisando de ajuda, e Kara lhe estender a mão... Tudo aquilo tinha um significado.

Lena não era ingênua nem romantizava o mundo, especialmente depois do que passou com Charles Wood. Ela sabia que todas as relações humanas eram permeadas por interesse, e "interesse" não era sinônimo de algo ruim. Não significava querer apenas o dinheiro de alguém ou usufruir de um corpo bonito. Interesse significava que todas as pessoas se atraíam umas pelas outras por motivos específicos e inconscientes. No caso dela e Kara, por exemplo, Andrea tinha razão quando disse que Lena se apaixonou pelo fato da loira ter lhe oferecido uma mão, quando ninguém mais o fez. Todo o carinho, disponibilidade, o jeito doce e carinhoso, todo o afeto que Kara ofertou desde o princípio quando até seus pais lhe disseram não, isso contava. E muito.

O que estava deixando a morena com a pulga atrás da orelha era se aquele sentimento só existia por causa disso, como alegou Rojas, ou se Lena realmente amava Kara para além. Se ela realmente contemplava a loirinha em todas as suas facetas, lhe aceitando exatamente como era, e isso incluía seus defeitos, que não eram poucos.

Na convivência diária, a gente descobria o "segredo" alheio. Kara era bem desorganizada, coisa que irritava Lena. Tinha mania de deixar meias espalhadas pela casa, e o cachorro, que amava mordê-las, ajudava na bagunça. Kara deixava louça acumular na pia, era meio preguiçosa e às vezes agia igual uma criança, o que por um lado era extremamente fofo. Ela fazia beicinho quando queria algo e se Lena deixasse, a loira viveria de fast food e doces.

Kara era corajosa e esperançosa - até demais -, mas às vezes podia ser insegura. Lena já tinha percebido isso, ainda mais quando o assunto era seu trabalho e o teste para detetive que se aproximava. Kara parecia se inspirar muito em Harley, pois vivia citando a irmã gêmea como um modelo, embora ao mesmo tempo a criticasse sutilmente por sua impulsividade e seu jeito por vezes intransigente. Era engraçado de observar isso, porque Lena achava as duas mais parecidas do que as loiras gostariam de admitir.

Lena começou a reparar em cada detalhe de sua companheira, a analisar tudo. Os comportamentos, os defeitos, as qualidades, o jeito de ser. Às vezes ficava observando Kara dormir, toda fofa, encolhida como uma criança no sofá. Ela dormia parecido com Nellie. Por falar nisso, amava ver a dinâmica das duas. Kara era ótima com Kyle também, ela era ótima com todo mundo, mas com Nellie tinha algo diferente. Dava para ver que elas eram totalmente apaixonadas uma pela outra.

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