Prólogo

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Sasuke

Dias atuais...


Quando você chega? Tem certeza que prefere vir hoje? Não estamos lidando com uma emergência, Sasuke...

Torna-se uma missão impossível escutar as desculpas de Itachi, para sustentar a ideia de que está finalmente bem e curado. Meus olhos rolam, e eu não consigo segurar uma bufada desagradável.

Não que seja um problema ouvir o monólogo do meu irmão, que pouco me interessa, sendo sincero, mas eu odeio quando Itachi tenta disfarçar a situação e se fingir de saudável. E ele aparentemente ainda não entendeu todos os meus sinais de quem não poderia estar pouco se fodendo se ele "não precisa de mim", ou se "não quer atrapalhar meus planos".

Porra, que planos?

Olha pra mim, caralho. Não tô levando a vida que planejei desde criança, não passei pela fase de pensar para qual faculdade eu iria — que seria a Harvard University —, não levei para frente a ideia de cursar Arquitetura e fazer várias casas de veraneio para a minha esposa dondoca.

Definitivamente, não é a vida que eu planejei, mas foi a que eu consegui, e eu vou aproveitá-la da melhor forma possível. Porra, eu vou à igreja aos domingos! Se tem um filho da puta que não reclama da vida miserável que tem a Deus, sou eu.

Por isso, apenas giro minha cadeira de rodinhas e molho meus lábios, secos pelo tempo abafado que se torna insuportavelmente presente na Itália. Itachi parece me olhar com uma certa ansiedade, e o seu lábio tem algumas marcas de mordida. Consigo visualizar bem pela ligação por vídeo no Discord.

Há alguns quadros espalhados pela parede bege, atrás do meu irmão. E apesar de parecer um cubículo ridiculamente apertado, Itachi parece se sentir bem confortável nos edredons vermelhos e grossos sobre a sua panturrilha.

— Já disse que a sua única preocupação é ficar acordado pra me receber em casa. Entendeu?

Volto a repetir, e meu irmão é quem parece ficar irritado dessa vez. Mas ele sabe muito bem que não tem como me vencer em uma discussão. O motivo? Muito simples, eu simplesmente desisto e deixo que batam boca sozinhos. Não preciso perder tempo provando nada, a única verdade que me interessa é a minha.

Que horas você chega? — surpreendentemente, Itachi entona em uma pergunta que realmente se torna considerável para mim, derrotado ao ponto de nem olhar mais para o meu rosto, completamente murcho.

— Quase madrugada. Acha que consegue me esperar? — brinco com o cano da caneta preta por entre meus dedos longos e suspiro, sentindo uma pontada irritante em uma têmpora — Posso ficar em algum hotel nessa primeira noite.

Itachi revira os olhos igual a nossa falecida mãe, e eu preciso disfarçar o sorriso de canto que se forma em meus lábios. Ele bagunça os próprios cabelos — que estão maiores desde a última vez que o vi por chamada de vídeo — e os prende, por fim.

Você precisa entender que eu estou melhor. E se eu não fico acordado até madrugada, é porque já estou velho, e não doente — observa, nitidamente incomodado com a minha extrema preocupação em relação à sua saúde — Vou estar te esperando.

— Eu posso ficar no Naruto, você sabe, né?

A minha pergunta ganha como resposta um levantar de sobrancelha por parte do meu irmão, e não fica difícil de concluir que ele está tentando entender por que caralhos eu iria pra casa do Uzumaki.

Às vezes, eu me pergunto se você tem um pingo de noção nessa sua cabeça, Sasuke. O que você iria fazer na casa da sua ex-namorada, seu doente? — sua voz sai cansada.

Comer ela. Comer aquela safada bem fundo e bem gostoso. Comer ela tão bem a cada vez em que meu pau apertasse de saudade daquela cachorra.

Foi o que eu pensei em responder, mas não deve ser isso que meu irmão mais velho deseja ouvir. Para Itachi, foi uma dor de cabeça completamente desnecessária o meu término com Sakura Uzumaki, a boa moça mais vadia e gulosa de Nápoles.

Repercutiu por semanas, próximo aos exames finais do Ensino Médio, e Naruto foi um dos únicos que ainda ficou ao meu lado. Tenho certeza que isso arrancou uns bons cabelos da cabecinha rosa de Sakura, até porque os dois irmãos são bastante próximos. Não me orgulho de como tudo aconteceu, e Naruto mesmo fez questão de me xingar até a quinta geração da família Uchiha.

Odeio o babaca do meu ex-cunhado pelo que fez com a minha irmãzinha, mas amo meu melhor amigo, então acho que você merece mais uma chance, idiota.

O Uzumaki não poderia ter passado mais pano pra mim, na época. E, até hoje, eu me pergunto como ele não engasgou nessa babada gostosa que deu no meu pau. Mas a verdade é que Naruto tem muito o lance de ser a favor dos amigos e gosta pra caralho de entender o lados dos menos favorecidos.

Me fala se um cara desse não é imbecil.

Mas é meu melhor amigo, como ele mesmo diz.

— Na casa do Naruto. Não falei em momento algum a casa da Sakura, seu dramático do caralho — corrijo Itachi, como se eu estivesse com um pingo de razão no que sugeri. Bem, ele não precisa saber que nem eu acredito nisso.

Meu irmão mais velho coça seu couro cabeludo, como se tivesse alergia aquele assunto, e bufa, balançando a cabeça como se quisesse afastar qualquer pensamento de que isso fosse dar merda. Não que não pudesse. Na verdade, poderia, e muito.

E de quem ele é irmão, Einstein? — Itachi realmente quer deixar claro o que já está óbvio.

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Vai chupar uma buceta e me deixa em paz, caralho — formo uma careta irritadiça e agoniada em meu rosto, como se ficar pensando demais no assunto consumisse cada parte viva e esperançosa da minha própria alma.

Eu não sou imbecil. Não sou um emocional maluco que faz a primeira coisa que pensa, apenas porque deu vontade. Porra, se tem uma coisa que eu não fiz na minha vida foi ser emocional. Cada mínima escolha teve 100% do meu lado mais racional possível.

Quem dera eu ter esse privilégio de ser impulsivo e nada preocupado com as consequências.

Ficar por quase seis anos longe não me dá a possibilidade de agir como se o tempo não tivesse passado. Muita coisa mudou. Caralho, eu mudei. E mudei pra cacete.

O silêncio que se forma nos dois ambiente diz a Itachi que seguir naquela direção seria cansativo e nada bem-vindo. Percebo isso pelo cruzar de braços e pela expressão de quem está cedendo no rosto pálido do Uchiha. Ele me olha por um tempo e solta uma risadinha, finalmente bebendo um pouco de água e hidratando seus lábios rachados.

Vê se não demora então, crianção. Tenho horário pra acordar — seu pedido soa brincalhão e ameno, e seus olhos passam tranquilidade. Sei como ele está com saudade, isso não se nega em seu tom de voz. Pelo contrário, torna-se óbvio. Eu solto uma risadinha numa bufada — Tô falando sério.

A ponta do seu indicador invade um espaço considerável da tela do meu notebook, e eu não seguro a risada dessa vez.

— Até mais tarde, desgraçado.

Desço o monitor até se colidir com o teclado, sem pressa. Estico meu corpo naquela cadeira confortável mais uma vez e consigo ouvir a minha coluna estalar tal qual numa sessão de quiropraxia.

As horas aqui estão contadas. Estou cada vez mais próximo de voltar à Nápoles, e eu simplesmente não consigo parar de pensar. Minha perna se tremendo e se batendo sobre o chão é a prova disso. Seria tão mais fácil se eu simplesmente não tivesse mais pendências; se a minha cabeça não estivesse num lugar tão especificou; se minhas veias não bombeassem cada vez mais sangue pelo meu corpo, quase me deixando sem respirar.

Eu não posso fazer isso novamente. Tenho que me manter longe. Mas como? Não tem a mínima possibilidade.

Será que ela ao menos pensa em mim também?

De toda forma, não me importo.

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