Skyfall, Adele (2012)

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Sakura

Dias atuais...


— E é exatamente por isso que você precisa mudar os seus hábitos, Sakura.

Meus olhos rolam.

Não faço a mínima ideia de quantas vezes repeti o movimento de jogá-los para trás, mas em algum momento do meu dia — que ainda não chegou às dez da manhã —, eu aprendi a executá-lo com perfeição.

Meus dedos balançam numa dança chata, e o café se esfria um pouco na tentativa do ar se chocar contra o líquido. E por mais que minha cara de tédio denuncie o quão nem aí eu estou para o monólogo do meu irmão mais velho, ele tampouco se importa com a indiferença presente em cada verde dos meus grandes olhos.

Naruto Uzumaki não poderia se importar menos.

Sempre o vi como uma figura inalcançável e divergente de tudo que minha vidinha privilegiada por pais ricos e influentes me proporcionou. Quando criança, eu costumava passar um pouco do meu tempo livre vendo-o brincar. As brincadeiras se tornaram saídas, e as saídas abriram uma — enorme — brecha ao proibido. Esse que meu irmão nunca se importou de mantê-lo distante de mim, até porque, porra, "você é a princesinha da casa, Sak, sei que posso confiar em você".

Sabe o quão frustrante era ouvir isso?

Certo que meu boletim impecável e notável não deixava que o contrário fosse dito como verdade. Meus pais amavam se vangloriar da filha perfeita e estudiosa, enquanto Naruto se destacava nos esportes e na sua boa reputação. Digo, quem em sã consciência não invejaria a família Uzumaki?

As mídias falavam, e falavam demais. Nossos rostos sempre saíam em alguma matéria aos finais dos anos. Éramos a típica imagem familiar estampada nas propagandas de manteiga. Os sorrisos sempre esticados, e as feições sempre contentes.

Mas eu odiava cada mínima parte da minha vida.

É um pouco ingrato, eu sei, porra. Sei para caralho que estou sendo uma vadiazinha sem noção ao repudiar desde sempre tudo que me faz ser Sakura Uzumaki. Mas é a verdade. E, merda, se temos apenas a droga de uma única vida, eu não quero viver uma mentira.

Não, nunca uma mentira.

Por isso, não foi difícil me aproximar do melhor amigo do meu irmão, o filho da senhora que trabalhava aqui em casa como cozinheira, Sasuke Uchiha.

Aos quatorze anos, ele apareceu com um piercing no nariz. No seu aniversário de quinze, um braço foi fechado com tatuagens grossas e rabiscadas. E quando chegou finalmente aos dezessete, meu pai precisou ir até a delegacia retirá-lo de trás das grades por agredir o síndico de seu condomínio, que mais parece um point de drogas.

Ainda bem que não precisamos nos preocupar com a nossa garotinha. Sakura jamais ficaria com alguém assim. Ela sabe em qual tapete repousaria os seus pés.

E não seria no de Sasuke, se meus pais pudessem escolher.

A confiança é um ato de amor, mas também pode ser um ato de fraqueza absurdo. O fim de alguém. Quando finalmente decidi que não viveria a droga de uma vida que me determinaram possuir, Sasuke foi o primeiro quem passou na minha cabeça. Porra, eu queria o que ele pudesse me dar. E ele parecia estar tão perto... tão acessível.

Ele tinha a fome de um lobo faminto, e eu tinha o instinto de uma leoa em caça.

Pensar em toda a nossa história, atualmente, me faz embrulhar o estômago. Não, simplesmente não quero continuar pensando.

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