Margaret, Lana Del Rey (feat. Bleachers) (2023)

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Sasuke

Há cinco anos atrás...


Pela primeira vez em anos, o porteiro do casarão Uzumaki não pediu qualquer registro telefônico de quem quer que eu conheça lá dentro ou a minha carteira de identidade para jogar meu nome em algum site do Governo, onde conste que eu provavelmente não sou um traficante de drogas ou coisa parecida.

O que não seria um problema, caso realmente pensassem isso, a minha aparência não abre muitas possibilidades lícitas sobre mim.

Cabelos negros arrepiados e espalhados pelo meu rosto, num mullet meio crescido, olheiras destacadas pelo contraste da minha pele com meus pêlos, lábio inferior cheio — às vezes, ganhavam um charminho, conhecidos como hematomas de socos — e um sorriso ausente. As tatuagens são algo à parte. Não gosto de exibí-las, minha mãe odeia cada tracinho rabiscado que existe pela minha pele, assim como os meus cigarros baratos.

Por isso, eu cubro o que posso e fumo onde dá.

Ela não precisa ver, e eu não preciso parar.

Cada um com os seus problemas, e definitivamente o incômodo dela não tinha que consumir uma parte significativa do meu dia.

Porra, se eu não tragar essa maldição, eu fico insano.

Mas a questão é que eu venho para cá há anos. Muitos anos. Não é possível que esse filho da puta não me reconheça. Sou amigo do Naruto desde o maternal e sempre vim brincar em sua casa depois da escola. Quando minha mãe começou a trabalhar aqui, como governanta, eu ganhei diversas bolsas em colégios caros. Um dos benefícios de limpar a bunda dos Uzumaki, eu diria.

E ter Mikoto Uchiha como funcionária daqui foi um dos passes livres que arranjei para conseguir uma folguinha e várias mordomias por aqui. Itachi odeia o fato de eu me aproveitar disso, mas o que posso fazer? Ficar em casa coçando a porra do meu saco?

Obviamente, não.

Então, enfio ainda mais fundo o maço quase vazio de cigarros em meu bolso e tremo por um breve momento. Eu posso parar aqui e fumar um pouco, não tem problema.

Não, agora não.

Minha mãe sentirá o fedor — segundo ela mesma — da nicotina e ficará falando como eu sou irresponsável, pelo simples fato de querer me dopar da sensação boa e calmante de ter essa bituca por entre os meus lábios. Cada um com seus vícios, e o meu não é muito bem-vindo por aqui.

O vai-vem que minha cabeça faz, em negativa, afasta por breves momentos a vontade de me render à fumaça. Eles são o suficiente, pelo menos por agora. Naruto provavelmente não vai ligar tanto se eu acender um em sua varandinha bem ventilada.

Apresso os meus passos, longos devido a minha altura avantajada, e balanço meus ombros, afastando aquela friagem típica dessa época do ano. Não chove há alguns dias, mas há uma névoa chata e irritante rondando o ambiente. Eu sempre gripo nesses momentos, o que acaba me atrasando muito para as minhas obrigações.

As pontas dos meus polegar e indicador raspam as minhas duas narinas internamente, é quase uma mania irritante e repetitiva que eu adquiri desde criança. O gelado queima alguma parte específica do meu nariz, e tudo que eu posso fazer é batalhar mentalmente com esse problema. Não vou me tornar um escravo maldito de nenhum Neosoro.

Um aceno silencioso movimenta o meu rosto, inclino o meu queixo numa espécie de boa noite para o jardineiro que sempre me dá um sorriso quando chego por aqui. Ele já é idoso, e mesmo assim, o coroa se lembra de mim. Não dá mesmo para aceitar que aquele desgraçado sempre esquece quem eu sou. Qual é, essa relíquia sagrada — ele deve ser mais velho que o pai da minha mãe, esse que, por sinal, já está fazendo hora-extra no túmulo — praticamente sente a mesma alegria que um avô sente ao ver seu neto quando eu passo por aqui. Ele não deveria ter idade nem para se lembrar quantos dias tem a semana, piorou o fato de eu ser o filho mais novo de Mikoto Uchiha.

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